São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Governo admite que deu pouca atenção ao álcool

Alegação é que era preciso estruturar o setor de biodiesel, uma vez que o programa do etanol já estava consolidado

Governo afirma que não abandonou o programa do etanol e nega que esteja sendo movido agora pelo interesse norte-americano


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo Lula admite que no primeiro mandato deu mais atenção ao biodiesel porque era preciso estruturar esse setor e apenas na semana passada fez a primeira reunião para discutir estratégias para o álcool, mas afirma que não abandonou o etanol e nega que esteja sendo movido pela iniciativa dos Estados Unidos.
Segundo a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e o Itamaraty, o presidente Lula falou sobre a prioridade do etanol e propôs parceria ao presidente dos EUA, George W. Bush, na primeira visita que fez a ele, em 2003.
Os americanos, porém, só teriam procurado o governo brasileiro para tratar do assunto há cerca de seis meses, quando os temas "aquecimento global" e "mudanças climáticas" ganharam mais relevância.
"Nós já trabalhamos com etanol há alguns anos e o presidente falou sobre etanol e biocombustíveis com Bush na visita que fez a ele em 2003. Há uns seis meses, os Estados Unidos vêm conversando com o Brasil sobre isso porque a questão da mudança climática, nos últimos tempos, tem acentuado a necessidade dos EUA [por novas fontes de combustíveis]", disse o presidente da ABDI, Alessandro Teixeira.
Antes de embarcar para Washington para assumir a embaixada do Brasil, no início deste mês, o embaixador Antonio Patriota disse à Folha que o presidente Lula voltou a falar com Bush sobre álcool quando os dois conversaram em julho de 2006, no encontro do G8 em São Petersburgo, na Rússia.
Segundo Teixeira, a política do governo para biocombustíveis se divide em duas partes. A primeira é voltada para o biodiesel, que está associado à agricultura familiar, embora quem esteja investindo pesadamente no setor sejam empresários de soja, matéria-prima do biodiesel.
A segunda parte são as políticas para o etanol. "Obviamente, todas as políticas relacionadas ao desenvolvimento do biocombustível foram trabalhadas com a indústria automobilística. Tanto é que chegamos a janeiro deste ano com 83% da nova frota produzida com motores flex. Hoje, temos mais de 32 mil postos de serviços que oferecem a possibilidade de etanol. Sabíamos que, por meio do desenvolvimento da frota de automóveis, daríamos condições para a indústria aumentar sua demanda, e foi o que aconteceu", disse Teixeira.

Investimento maior
De acordo com o secretário de Política Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Antonio Sérgio Mello, atualmente há cerca de R$ 10 bilhões em investimentos em curso no setor de álcool. Ele acredita que o valor pode ser dobrado em pouco tempo, mas não precisou o período.
O governo alega que foi dada prioridade para os biocombustíveis porque partiu do zero nessa área, diferentemente do álcool. "O setor de biodiesel era inexistente. Portanto foi necessário um maior esforço do governo para estruturá-lo. É preciso estruturar a propriedade privada e fazer cooperativas de produção", disse Teixeira.
(CLÁUDIA DIANNI)


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