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Grandes redes de varejo caçam ponto comercial em SP
Busca é estratégica porque lojas recém-inauguradas são as que impulsionam receita líquida das empresas do comércio
Negociação é sigilosa para não inflacionar preço nem alertar concorrente; há aquisições até onde a rede é forte, para proteger redutos
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2006, oito grandes redes
de varejo, com faturamento bilionário, abriram 46,5% mais
lojas do que no ano anterior,
calculou a Folha. A corrida das
inaugurações foi recorde nos
últimos três meses do ano e
criou uma indústria de caça aos
pontos nas grandes capitais.
A busca por locais é estratégica: são as lojas recém-inauguradas que têm "segurado" a receita líquida das empresas de
varejo há anos.
Maior rede de departamentos do país, a Americanas inaugurou 45 lojas em 2006, o dobro do ano anterior e recorde
para a empresa. Ela atingiu 237
pontos-de-venda no país em
2006 e deve bater novamente
seu recorde neste ano, com
previsão de 47 novas unidades.
As lojas antigas, abertas antes de 2006, tiveram taxa de
crescimento inferior à das novas unidades da Americanas.
As vendas nas chamadas "mesmas lojas" cresceram 12,8% de
janeiro a dezembro. Na soma
total, incluindo as inaugurações, a expansão foi de 36,8%.
Nessa conta não está incluída a
compra da Blockbuster, ocorrida neste ano, o que poderia
"turbinar" o resultado.
Maior supermercadista do
Brasil, o grupo Pão de Açúcar
abriu 23 pontos em 2006, contra 5 em 2005. E apenas três foram abertas de janeiro a setembro. O restante se concentrou
nos últimos três meses do ano
-duas lojas a cada dez dias, de
setembro a dezembro. Para
2007, serão mais 30 pontos,
com parte dos terrenos já comprada -a localização é secreta.
Lojas Americanas, Pão de
Açúcar, Ponto Frio, Renner,
Riachuelo, Carrefour, Wal-Mart e Lojas Cem inauguraram
148 lojas em 2006, contra 101
em 2005, alta de 46,5%. A Casas Bahia foi a única cadeia de
varejo, entre as grandes, que se
retraiu, fruto da queda nas vendas em 2006. Reduziu o número de inaugurações de cem
pontos em 2005 para 50 em
2006. Serão mais 50 lojas novas em 2007.
A busca por terrenos é dura.
Faltam boas localizações nas
grandes cidades para ramos do
varejo, como hipermercados.
Por essa razão a Americanas
comprou em janeiro unidades
da Blockbuster: necessidade de
demarcar locais estratégicos.
As redes negociam em sigilo:
não querem que o concorrente
e o dono do terreno descubram
que o interessado é uma grande
empresa -o que inflaciona o
preço. "Há uma série de artimanhas nessa busca. Há vigia
constante das empresas às regiões mais valorizadas, na espera de que um ponto interessante vague. O assédio é freqüente", conta Maurício Morgado, professor especializado
em varejo da Escola de Administração da FGV.
Há casos até de negociações
de pontos em áreas em que a
rede já tem atuação forte para
se proteger de concorrente em
seu reduto. "A abertura de loja
próxima de outra tende a "canibalizar" a venda do ponto mais
antigo. Mas algumas redes preferem correr o risco a ver uma
rival roubando o mercado.
Tem gente que compra ou aluga o espaço e o deixa vazio para
se proteger", diz Cláudio Felisoni de Angelo, diretor do Provar (Programa de Administração de Varejo) da USP.
Além de calar sobre o comprador, as empresas desenvolvem ou compram softwares de
mapeamento de cidades. Com
eles, o consultor é capaz de armazenar, analisar e apresentar
informações sobre a posição de
um terreno. É possível interagir, entrar com dados como
área de influência da loja, população local, rendimento e
potencial de consumo.
A disputa acirrada nas grandes cidades é fruto de um mercado em que a expansão fora
dos grandes eixos é lenta. Pelas
contas de uma grande rede de
eletrônicos, para entrar em outro mercado, como o Nordeste,
é necessário um centro de distribuição próximo, para que o
produto não tenha que viajar
pelo país, elevando o risco de
atraso. O centro requer investimentos de R$ 20 milhões a R$
30 milhões para atender ao
menos 30 lojas. Sem elas, não
vale a pena investir num centro
nem ir a outro Estado.
As companhias tentam se expandir aos poucos, abrindo pequenos centros. A Americanas
deve entrar em Manaus (AM) e
Palmas (TO). A Renner, com 15
pontos abertos em 2006, inaugura seis lojas no Nordeste.
Em São Paulo, estima-se que
um terreno de 2.500 m2 para
um supermercado custe de R$
2 milhões a R$ 2,5 milhões. Para hipermercado, de 6.000 m2 a
7.000 m2, são R$ 4 milhões.
Para lojas menores, nas ruas
Oscar Freire e Haddock Lobo,
nos Jardins, o metro quadrado
custa de R$ 6.500 a R$ 7.000, e,
na avenida Paulista, R$ 9.000.
Na popular 25 de Março, endereço comercial mais caro da capital, chega a R$ 10 mil.
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