São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Grandes redes de varejo caçam ponto comercial em SP

Busca é estratégica porque lojas recém-inauguradas são as que impulsionam receita líquida das empresas do comércio

Negociação é sigilosa para não inflacionar preço nem alertar concorrente; há aquisições até onde a rede é forte, para proteger redutos


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2006, oito grandes redes de varejo, com faturamento bilionário, abriram 46,5% mais lojas do que no ano anterior, calculou a Folha. A corrida das inaugurações foi recorde nos últimos três meses do ano e criou uma indústria de caça aos pontos nas grandes capitais.
A busca por locais é estratégica: são as lojas recém-inauguradas que têm "segurado" a receita líquida das empresas de varejo há anos.
Maior rede de departamentos do país, a Americanas inaugurou 45 lojas em 2006, o dobro do ano anterior e recorde para a empresa. Ela atingiu 237 pontos-de-venda no país em 2006 e deve bater novamente seu recorde neste ano, com previsão de 47 novas unidades.
As lojas antigas, abertas antes de 2006, tiveram taxa de crescimento inferior à das novas unidades da Americanas. As vendas nas chamadas "mesmas lojas" cresceram 12,8% de janeiro a dezembro. Na soma total, incluindo as inaugurações, a expansão foi de 36,8%. Nessa conta não está incluída a compra da Blockbuster, ocorrida neste ano, o que poderia "turbinar" o resultado.
Maior supermercadista do Brasil, o grupo Pão de Açúcar abriu 23 pontos em 2006, contra 5 em 2005. E apenas três foram abertas de janeiro a setembro. O restante se concentrou nos últimos três meses do ano -duas lojas a cada dez dias, de setembro a dezembro. Para 2007, serão mais 30 pontos, com parte dos terrenos já comprada -a localização é secreta.
Lojas Americanas, Pão de Açúcar, Ponto Frio, Renner, Riachuelo, Carrefour, Wal-Mart e Lojas Cem inauguraram 148 lojas em 2006, contra 101 em 2005, alta de 46,5%. A Casas Bahia foi a única cadeia de varejo, entre as grandes, que se retraiu, fruto da queda nas vendas em 2006. Reduziu o número de inaugurações de cem pontos em 2005 para 50 em 2006. Serão mais 50 lojas novas em 2007.
A busca por terrenos é dura. Faltam boas localizações nas grandes cidades para ramos do varejo, como hipermercados. Por essa razão a Americanas comprou em janeiro unidades da Blockbuster: necessidade de demarcar locais estratégicos.
As redes negociam em sigilo: não querem que o concorrente e o dono do terreno descubram que o interessado é uma grande empresa -o que inflaciona o preço. "Há uma série de artimanhas nessa busca. Há vigia constante das empresas às regiões mais valorizadas, na espera de que um ponto interessante vague. O assédio é freqüente", conta Maurício Morgado, professor especializado em varejo da Escola de Administração da FGV.
Há casos até de negociações de pontos em áreas em que a rede já tem atuação forte para se proteger de concorrente em seu reduto. "A abertura de loja próxima de outra tende a "canibalizar" a venda do ponto mais antigo. Mas algumas redes preferem correr o risco a ver uma rival roubando o mercado. Tem gente que compra ou aluga o espaço e o deixa vazio para se proteger", diz Cláudio Felisoni de Angelo, diretor do Provar (Programa de Administração de Varejo) da USP.
Além de calar sobre o comprador, as empresas desenvolvem ou compram softwares de mapeamento de cidades. Com eles, o consultor é capaz de armazenar, analisar e apresentar informações sobre a posição de um terreno. É possível interagir, entrar com dados como área de influência da loja, população local, rendimento e potencial de consumo.
A disputa acirrada nas grandes cidades é fruto de um mercado em que a expansão fora dos grandes eixos é lenta. Pelas contas de uma grande rede de eletrônicos, para entrar em outro mercado, como o Nordeste, é necessário um centro de distribuição próximo, para que o produto não tenha que viajar pelo país, elevando o risco de atraso. O centro requer investimentos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões para atender ao menos 30 lojas. Sem elas, não vale a pena investir num centro nem ir a outro Estado.
As companhias tentam se expandir aos poucos, abrindo pequenos centros. A Americanas deve entrar em Manaus (AM) e Palmas (TO). A Renner, com 15 pontos abertos em 2006, inaugura seis lojas no Nordeste.
Em São Paulo, estima-se que um terreno de 2.500 m2 para um supermercado custe de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões. Para hipermercado, de 6.000 m2 a 7.000 m2, são R$ 4 milhões.
Para lojas menores, nas ruas Oscar Freire e Haddock Lobo, nos Jardins, o metro quadrado custa de R$ 6.500 a R$ 7.000, e, na avenida Paulista, R$ 9.000. Na popular 25 de Março, endereço comercial mais caro da capital, chega a R$ 10 mil.


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