São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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Países ricos pedem ajuda de emergentes

Presidente do BC europeu elogia "resistência" das economias em desenvolvimento e pede que estimulem seu mercado interno

Henrique Meirelles diz que contaminação da China pela desaceleração nos EUA será o componente-chave para dimensionar a crise

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA (SUÍÇA)

Os países emergentes que acumularam superávit nos últimos meses, como o Brasil, devem compensar a atual desaceleração das economias desenvolvidas e ajudar o mundo a superar as turbulências deflagradas pela crise nos EUA, pediu ontem o presidente do BCE (Banco Central Europeu), o francês Jean-Claude Trichet.
"No momento em que ocorre uma desaceleração no mundo industrializado, é importante que a parte do mundo emergente que está acumulando um volume significativo de superávit em suas contas correntes se reequilibre no sentido da demanda interna", disse Trichet em Basiléia (Suíça), após encontro de presidentes de BCs de vários países, entre eles o do Brasil, Henrique Meirelles.
Resta saber, porém, como será a reação do maior país emergente à cada vez mais provável recessão americana. "O componente-chave é a China", disse Meirelles. "Precisamos ver até que ponto essa desaceleração americana, quando atingir seu grau máximo, vai de fato gerar uma desaceleração na China e em outros países asiáticos."
A China divulgou ontem que seu superávit comercial caiu 63%, já parcialmente influenciado pela desaceleração da economia global.
Apesar de o crescimento brasileiro estar mais sustentado na demanda interna, Meirelles vê a possível desaceleração chinesa como um cenário de risco ao Brasil. "O primeiro [perigo externo] são os EUA. O segundo é a reação da China", disse, observando que torce para que a demanda interna chinesa tenha margem para crescer e compensar a queda das exportações aos EUA.
Segundo Trichet, os banqueiros reunidos em Basiléia bateram na mesma tecla, considerando "apropriado" que os emergentes fortaleçam seus mercados internos, sugerindo que a dependência em exportações, sobretudo dos EUA, deve ser reduzida ao máximo. Para ele, a solidez dos emergentes é hoje "um recurso precioso".
Trichet mencionou várias vezes a necessidade de que os emergentes promovam um "reequilíbrio" em seu crescimento, privilegiando a demanda interna, não as exportações.
"As mais recentes notícias que tivemos de parte do mundo industrializado, e estou pensando particularmente nos EUA, está nos levando a pensar nesse reequilíbrio", disse Trichet, que falou em nome dos banqueiros reunidos na cidade suíça.
O presidente do BCE elogiou a "resistência" das economias emergentes aos efeitos da crise de crédito mundial, mas disse que a inflação é hoje um perigo global. Para Trichet, o aumento nos preços do petróleo, dos alimentos e de outras commodities agrícolas materializou o risco de inflação observado nos últimos meses "de uma forma impressionante".
A inflação na zona do euro atingiu a marca de 3,2% em fevereiro, a mais alta desde que o índice começou a ser medido na moeda européia, em 1997, e bem acima da meta do teto ambicionado pelo BCE, de 2%.
Em termos globais, Trichet disse que há sinais de crescimento, mas repetiu algumas vezes a palavra "turbulência" e disse que os problemas que a economia mundial enfrenta hoje são "significativos". Além disso, disse esperar "certo nível de desaceleração adiante", mas preferiu manter as previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Não vou recuar das atuais projeções no nível global. Há um contínuo crescimento, com certo nível de desaceleração", disse. No começo do ano, o FMI teve que revisar sua previsão do crescimento mundial em 2008 para 4,1%, devido à crise americana, depois de ter projetado em outubro uma expansão de 4,4%.


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