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Países ricos pedem ajuda de emergentes
Presidente do BC europeu elogia "resistência" das economias em desenvolvimento e pede que estimulem seu mercado interno
Henrique Meirelles diz que contaminação da China pela desaceleração nos EUA
será o componente-chave para dimensionar a crise
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA (SUÍÇA)
Os países emergentes que
acumularam superávit nos últimos meses, como o Brasil, devem compensar a atual desaceleração das economias desenvolvidas e ajudar o mundo a superar as turbulências deflagradas pela crise nos EUA, pediu
ontem o presidente do BCE
(Banco Central Europeu), o
francês Jean-Claude Trichet.
"No momento em que ocorre
uma desaceleração no mundo
industrializado, é importante
que a parte do mundo emergente que está acumulando um
volume significativo de superávit em suas contas correntes se
reequilibre no sentido da demanda interna", disse Trichet
em Basiléia (Suíça), após encontro de presidentes de BCs
de vários países, entre eles o do
Brasil, Henrique Meirelles.
Resta saber, porém, como será a reação do maior país emergente à cada vez mais provável
recessão americana. "O componente-chave é a China", disse
Meirelles. "Precisamos ver até
que ponto essa desaceleração
americana, quando atingir seu
grau máximo, vai de fato gerar
uma desaceleração na China e
em outros países asiáticos."
A China divulgou ontem que
seu superávit comercial caiu
63%, já parcialmente influenciado pela desaceleração da
economia global.
Apesar de o crescimento brasileiro estar mais sustentado na
demanda interna, Meirelles vê
a possível desaceleração chinesa como um cenário de risco ao
Brasil. "O primeiro [perigo externo] são os EUA. O segundo é
a reação da China", disse, observando que torce para que a
demanda interna chinesa tenha margem para crescer e
compensar a queda das exportações aos EUA.
Segundo Trichet, os banqueiros reunidos em Basiléia bateram na mesma tecla, considerando "apropriado" que os
emergentes fortaleçam seus
mercados internos, sugerindo
que a dependência em exportações, sobretudo dos EUA, deve
ser reduzida ao máximo. Para
ele, a solidez dos emergentes é
hoje "um recurso precioso".
Trichet mencionou várias
vezes a necessidade de que os
emergentes promovam um
"reequilíbrio" em seu crescimento, privilegiando a demanda interna, não as exportações.
"As mais recentes notícias
que tivemos de parte do mundo
industrializado, e estou pensando particularmente nos
EUA, está nos levando a pensar
nesse reequilíbrio", disse Trichet, que falou em nome dos
banqueiros reunidos na cidade
suíça.
O presidente do BCE elogiou
a "resistência" das economias
emergentes aos efeitos da crise
de crédito mundial, mas disse
que a inflação é hoje um perigo
global. Para Trichet, o aumento
nos preços do petróleo, dos alimentos e de outras commodities agrícolas materializou o
risco de inflação observado nos
últimos meses "de uma forma
impressionante".
A inflação na zona do euro
atingiu a marca de 3,2% em fevereiro, a mais alta desde que o
índice começou a ser medido
na moeda européia, em 1997, e
bem acima da meta do teto ambicionado pelo BCE, de 2%.
Em termos globais, Trichet
disse que há sinais de crescimento, mas repetiu algumas
vezes a palavra "turbulência" e
disse que os problemas que a
economia mundial enfrenta
hoje são "significativos". Além
disso, disse esperar "certo nível
de desaceleração adiante", mas
preferiu manter as previsões do
FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Não vou recuar das atuais
projeções no nível global. Há
um contínuo crescimento, com
certo nível de desaceleração",
disse. No começo do ano, o FMI
teve que revisar sua previsão do
crescimento mundial em 2008
para 4,1%, devido à crise americana, depois de ter projetado
em outubro uma expansão de
4,4%.
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