São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Susto na China, tostex no EUA


Comércio chinês leva tombo por motivos "sazonais", mas crise ainda não abateu nível de transações na Ásia e na Europa

OS EUA derretem em banho-maria, e seus bancos estão no tostex, alguns já cheirando a queimado, como o Bear Stearns, ora candidato a se tornar um banco árabe, chinês, cingapuriano ou, talvez, um pouco disso tudo. Faltaria apenas um colapso comercial chinês para a gente colocar, além das barbas, a cabeça inteira de molho.
Ontem saiu a notícia aparentemente assustadora de uma inopinada e forte queda do superávit comercial mensal da China, para US$ 8,5 bilhões em fevereiro. A média trimestral até janeiro era de quase US$ 23 bilhões. O volume de comércio, importações e exportações somados, caiu de quase US$ 200 bilhões em janeiro para US$ 166 bilhões.
Mas tanto o comércio exterior da China como o da Europa ainda vão bem das pernas. Como no Brasil, apesar da míngua do superávit.
O tombo de fevereiro está "fora da curva" da tendência do comércio chinês, dado o seu tamanho. A crise bateu na China? Sim, um tico. Mais importante, se o volume de comércio continuar a crescer, como está crescendo no acumulado de 12 meses, não importa se com superávit comercial menor, o mundo continua agradecendo. Fevereiro de 2007 contra fevereiro de 2006, as importações chinesas cresceram 31% -não parece ainda sinal de derrocada econômica.
Um sinal interessante do balanço de fevereiro foi o comércio com os EUA. As exportações chinesas caíram 5%, mas os americanos venderam 33% mais para a China. Em 2007, a América do Norte levou 20,7% das exportações chinesas e 8,4% das importações. Se o reequilíbrio do comércio bilateral se der por meio do estímulo à economia dos EUA, melhor. Lembrete: a China teve superávit de US$ 262 bilhões com o resto do mundo, exportando US$ 1,2 trilhão em 2007, umas oito vezes mais que o Brasil.
Ontem a Alemanha anunciou que suas exportações continuaram a crescer, acima das expectativas, mesmo com euro forte e com a queda do comércio com os EUA. As exportações alemãs em janeiro cresceram 12% para fora da Europa e 7,7% no continente. Em 2007, as vendas para os EUA caíram 6%, mas subiram 9% para a China e 21% para a Rússia. Até a França exportou mais.
Mas o que ocorreu na China de fevereiro? Houve um tremendo tumulto climático neste início do ano do rato. Tempestades de neve pararam indústrias e transportes. Faltou carvão. Houve um feriadão de Ano Novo. O preço das commodities, das quais a China é consumidora voraz, continuou a disparar. Isso parece um pouco explicação brasileira para quando as coisas vão mal. Mas faz sentido, e os mais entendidos em China dizem que o grosso do problema foi esse mesmo. Por ora.
Talvez mais importante, desde o ano passado, os chineses decidiram frear exportações e dirigir parte do investimento de suas empresas para fora do país. Querem evitar o superaquecimento da economia e assim conter a inflação, além de aumentar o consumo de seus cidadãos importando também mais. Cancelaram isenções fiscais de exportações e taxaram algumas delas.
Mas os dados são apenas de um bimestre, um sexto do ano. A lenta mas progressiva crise americana ainda não disse a que veio.

vinit@uol.com.br


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