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VINICIUS TORRES FREIRE
Susto na China, tostex no EUA
Comércio chinês leva tombo
por motivos "sazonais", mas
crise ainda não abateu nível de
transações na Ásia e na Europa
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OS EUA derretem em banho-maria, e seus bancos estão no
tostex, alguns já cheirando a
queimado, como o Bear Stearns, ora
candidato a se tornar um banco árabe, chinês, cingapuriano ou, talvez,
um pouco disso tudo. Faltaria apenas um colapso comercial chinês para a gente colocar, além das barbas, a cabeça inteira de molho.
Ontem saiu a notícia aparentemente assustadora de uma inopinada e forte queda do superávit comercial mensal da China, para US$ 8,5
bilhões em fevereiro. A média trimestral até janeiro era de quase US$
23 bilhões. O volume de comércio,
importações e exportações somados, caiu de quase US$ 200 bilhões
em janeiro para US$ 166 bilhões.
Mas tanto o comércio exterior da
China como o da Europa ainda vão
bem das pernas. Como no Brasil,
apesar da míngua do superávit.
O tombo de fevereiro está "fora da
curva" da tendência do comércio
chinês, dado o seu tamanho. A crise
bateu na China? Sim, um tico. Mais
importante, se o volume de comércio continuar a crescer, como está
crescendo no acumulado de 12 meses, não importa se com superávit
comercial menor, o mundo continua agradecendo. Fevereiro de
2007 contra fevereiro de 2006, as
importações chinesas cresceram
31% -não parece ainda sinal de derrocada econômica.
Um sinal interessante do balanço
de fevereiro foi o comércio com os
EUA. As exportações chinesas caíram 5%, mas os americanos venderam 33% mais para a China. Em
2007, a América do Norte levou
20,7% das exportações chinesas e
8,4% das importações. Se o reequilíbrio do comércio bilateral se der por
meio do estímulo à economia dos
EUA, melhor. Lembrete: a China teve superávit de US$ 262 bilhões com
o resto do mundo, exportando US$
1,2 trilhão em 2007, umas oito vezes
mais que o Brasil.
Ontem a Alemanha anunciou que
suas exportações continuaram a
crescer, acima das expectativas,
mesmo com euro forte e com a queda do comércio com os EUA. As exportações alemãs em janeiro cresceram 12% para fora da Europa e 7,7%
no continente. Em 2007, as vendas
para os EUA caíram 6%, mas subiram 9% para a China e 21% para a
Rússia. Até a França exportou mais.
Mas o que ocorreu na China de fevereiro? Houve um tremendo tumulto climático neste início do ano
do rato. Tempestades de neve pararam indústrias e transportes. Faltou
carvão. Houve um feriadão de Ano
Novo. O preço das commodities, das
quais a China é consumidora voraz,
continuou a disparar. Isso parece
um pouco explicação brasileira para
quando as coisas vão mal. Mas faz
sentido, e os mais entendidos em
China dizem que o grosso do problema foi esse mesmo. Por ora.
Talvez mais importante, desde o
ano passado, os chineses decidiram
frear exportações e dirigir parte do
investimento de suas empresas para
fora do país. Querem evitar o superaquecimento da economia e assim
conter a inflação, além de aumentar
o consumo de seus cidadãos importando também mais. Cancelaram
isenções fiscais de exportações e taxaram algumas delas.
Mas os dados são apenas de um bimestre, um sexto do ano. A lenta
mas progressiva crise americana
ainda não disse a que veio.
vinit@uol.com.br
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