São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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Com nova metodologia, país pode evitar recessão, dizem analistas

DA SUCURSAL DO RIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A queda de 3,6% do PIB no quarto trimestre, acima das expectativas -2,5% na previsão média do mercado-, causou mais do que surpresa.
Em vez de erro, analistas creditam a divergência a uma mudança conceitual nos cálculos do IBGE. Com isso, dizem economistas, as chances de um novo trimestre negativo seriam mínimas, tornando inviável a configuração do quadro de recessão no país.
"A mudança na classificação deixou os dados mais negativos do que seriam na metodologia anterior", diz Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Uma recessão se configura quando dois trimestres apresentam resultado negativo. "O IBGE optou por classificar os dados do quarto trimestre como "outlier", ou fortemente atípicos. Isso muda todo o tratamento dos dados no cálculo do PIB, acentuando o resultado negativo. Fazer isso numa estatística de fim de período, como é o PIB trimestral, vai contra o que diz a literatura", diz Bráulio Borges, economista da LCA.
Sem o artifício, o PIB do quarto trimestre teria apresentado retração de 3%, segundo a Rosenberg Consultores Associados. Um PIB muito negativo joga a base de comparação para baixo. "Assim, qualquer movimento positivo, por mínimo que seja, empurrará o PIB do primeiro trimestre de 2009 para cima", explica Borges. "Com isso, reduzem-se as chances de uma recessão técnica", afirma a Rosenberg Consultores.
Diante do erro na previsão, analistas procuraram o IBGE em busca de esclarecimentos sobre a nova metodologia. O coordenador das Contas Nacionais do órgão, Roberto Olinto, afirmou que a decisão de classificar o período como "outlier" foi correta. "Foi um momento atípico na economia. Não tratamos dados visando o futuro. Mas estou aberto ao debate, desde que fora da imprensa."

Revisão de projeções
A deterioração no cenário econômico levou analistas a rever as projeções de crescimento do PIB para este ano.
A LCA, por exemplo, já havia revisado a projeção de expansão da economia de 3% para 2,4% no ano. Agora, com o resultado do quarto trimestre e os dados relativos à produção industrial, uma nova revisão para algo entre 1,5% e 2% é "líquida e certa", diz o economista da LCA Francisco Pessoa.
A crise global provoca uma dispersão de projeções e obriga as consultorias a recalcular as previsões com maior periodicidade, diz Pessoa. "A incerteza agora é muito maior, os parâmetros mudaram", afirma.
A RC Consultores projeta expansão econômica de 1% para este ano -no princípio de 2009, a estimativa era de crescimento de 2%. "Os dados estão muito voláteis, e a margem de erro é grande. Pelo menos duas vezes por mês temos de recalcular nossos números", afirma o economista-chefe da RC, Marcel Pereira.
Já a Tendências aponta para um cenário pior, com expansão de 0,3% do PIB no ano.
De acordo com o economista Armando Castelar, da Gávea Investimentos, uma melhora no cenário não está no horizonte de curto prazo. "É difícil apostar em melhora da economia no curto prazo. O mercado de trabalho vai piorar, assim como a inadimplência, o que encarecerá o crédito."
Já para o economista Carlos Thadeu Filho, da SLW Asset, "há muita incerteza". "Só veremos melhora quando o cenário internacional melhorar."
(SAMANTHA LIMA e PAULO DE ARAUJO)


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