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Com nova metodologia, país pode evitar recessão, dizem analistas
DA SUCURSAL DO RIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A queda de 3,6% do PIB no
quarto trimestre, acima das expectativas -2,5% na previsão
média do mercado-, causou
mais do que surpresa.
Em vez de erro, analistas creditam a divergência a uma mudança conceitual nos cálculos
do IBGE. Com isso, dizem economistas, as chances de um novo trimestre negativo seriam
mínimas, tornando inviável a
configuração do quadro de recessão no país.
"A mudança na classificação
deixou os dados mais negativos
do que seriam na metodologia
anterior", diz Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Uma recessão se configura
quando dois trimestres apresentam resultado negativo. "O
IBGE optou por classificar os
dados do quarto trimestre como "outlier", ou fortemente atípicos. Isso muda todo o tratamento dos dados no cálculo do
PIB, acentuando o resultado
negativo. Fazer isso numa estatística de fim de período, como
é o PIB trimestral, vai contra o
que diz a literatura", diz Bráulio
Borges, economista da LCA.
Sem o artifício, o PIB do
quarto trimestre teria apresentado retração de 3%, segundo a
Rosenberg Consultores Associados. Um PIB muito negativo
joga a base de comparação para
baixo. "Assim, qualquer movimento positivo, por mínimo
que seja, empurrará o PIB do
primeiro trimestre de 2009 para cima", explica Borges. "Com
isso, reduzem-se as chances de
uma recessão técnica", afirma a
Rosenberg Consultores.
Diante do erro na previsão,
analistas procuraram o IBGE
em busca de esclarecimentos
sobre a nova metodologia. O
coordenador das Contas Nacionais do órgão, Roberto Olinto,
afirmou que a decisão de classificar o período como "outlier"
foi correta. "Foi um momento
atípico na economia. Não tratamos dados visando o futuro.
Mas estou aberto ao debate,
desde que fora da imprensa."
Revisão de projeções
A deterioração no cenário
econômico levou analistas a rever as projeções de crescimento do PIB para este ano.
A LCA, por exemplo, já havia
revisado a projeção de expansão da economia de 3% para
2,4% no ano. Agora, com o resultado do quarto trimestre e
os dados relativos à produção
industrial, uma nova revisão
para algo entre 1,5% e 2% é "líquida e certa", diz o economista
da LCA Francisco Pessoa.
A crise global provoca uma
dispersão de projeções e obriga
as consultorias a recalcular as
previsões com maior periodicidade, diz Pessoa. "A incerteza
agora é muito maior, os parâmetros mudaram", afirma.
A RC Consultores projeta expansão econômica de 1% para
este ano -no princípio de
2009, a estimativa era de crescimento de 2%. "Os dados estão
muito voláteis, e a margem de
erro é grande. Pelo menos duas
vezes por mês temos de recalcular nossos números", afirma
o economista-chefe da RC,
Marcel Pereira.
Já a Tendências aponta para
um cenário pior, com expansão
de 0,3% do PIB no ano.
De acordo com o economista
Armando Castelar, da Gávea
Investimentos, uma melhora
no cenário não está no horizonte de curto prazo. "É difícil
apostar em melhora da economia no curto prazo. O mercado
de trabalho vai piorar, assim
como a inadimplência, o que
encarecerá o crédito."
Já para o economista Carlos
Thadeu Filho, da SLW Asset,
"há muita incerteza". "Só veremos melhora quando o cenário
internacional melhorar."
(SAMANTHA LIMA e PAULO DE ARAUJO)
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