São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

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RECALL DA PRIVATIZAÇÃO

Verbas do Fust e do Orçamento vão só para a telefonia fixa; banda B perdeu R$ 2 bilhões em 2001

Ajuda do governo não chega para celulares

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os planos do governo de destinar R$ 341 milhões do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), além de mais R$ 112 milhões do Orçamento da União, para a expansão da telefonia no país em 2002 não vai beneficiar as operadoras de telefonia celular da banda B. São justamente essas companhias que enfrentam mais dificuldades econômicas atualmente.
Levantamento realizado ontem pela Folha entre bancos de investimentos e operadoras de telefonia mostra que várias operadoras da banda B, como a ATL e a Telet, somaram juntas, no ano passado, um prejuízo de mais de R$ 2 bilhões. A banda A da telefonia celular também não receberá auxílio do governo, mas apenas um balanço foi negativo no ano passado nesse segmento: o da Tele Norte Cel. A empresa amargou perdas de R$ 6,6 milhões.
Os grandes beneficiados da investida do Ministério das Comunicações para a expansão das telecomunicações serão as operadoras de telefonia fixa (algumas delas possuem participações em operadoras da banda B). Muitas das operadoras de telefonia fixa estão até mesmo longe de enfrentar dificuldades, como é o caso da Telefônica, de São Paulo, que conseguiu em 2001 contabilizar um lucro líquido de R$ 1,5 bilhão, contra o R$ 1,4 bilhão de 2000.
Vale lembrar ainda que a legislação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) não prevê auxílio para as operadoras da banda B que por acaso quebrarem. Os usuários dessas empresas, criadas para concorrer com as operadoras de telefonia celular da banda A (originárias da Telebrás), também estariam desprotegidos de uma hipotética quebradeira das operadoras.
A Anatel informou que tentaria procurar alguma maneira de amenizar os danos aos consumidores, mas não há proteção prevista na legislação.

Efeito dominó
O clima nas empresas da banda B é ainda mais delicado porque a BCP, que opera na Grande São Paulo, deixou de pagar no dia 28 de março US$ 375 milhões relativos a uma parcela de uma dívida total de US$ 1,7 bilhão que a operadora tem com um consórcio de bancos.
A BCP está tentando renegociar essa dívida. Um analista de telecomunicações afirmou à Folha, no entanto, que se a renegociação der certo, haverá um efeito em cadeia em todas as operadoras da banda B. Todas passariam a renegociar seus débitos, o que criaria um clima de instabilidade.
A situação é bem menos complicada nos segmento de telefonia fixa e na banda A. Ainda assim, a BrasilTelecom iniciou neste ano a venda de telefones fixos pré-pagos para reduzir a inadimplência na empresa, que está em 2,8%. Cerca de 2 mil dos 10 milhões de usuários da empresa nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte já utilizam o sistema, baseado na venda de cartões nos valores de R$ 15, R$ 30 e R$ 60.



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