São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

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RECALL DA PRIVATIZAÇÃO

Usuários de baixa renda não seguram o consumo; empresas trabalham abaixo da capacidade

Inadimplência provoca crise entre as teles

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Depois da euforia de investimentos nos três anos que sucederam a privatização do Sistema Telebrás, o setor de telecomunicações apresenta sinais de crise que vão das indústrias de equipamento às operadoras de telefonia fixa e de serviço celular.
Em julho de 1998, quando o Sistema Telebrás foi privatizado, o país tinha 20,2 milhões de telefones fixos. Hoje, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), há 47,8 milhões de linhas telefônicas instaladas, mas 10 milhões estão fora de serviço por incapacidade de pagamento dos usuários de baixa renda.
A crise atingiu primeiro os fabricantes de equipamentos. Segundo o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Eletro Eletrônica), Carlos Paiva Lopes, as fábricas estão trabalhando com apenas 40% de sua capacidade instalada. As empresas não têm pedidos em carteira sequer para assegurar este ritmo nos próximos meses.

Atraso no pagamento
Além da falta de encomendas, as indústrias sofrem com os atrasos nos pagamentos por parte das teles. Há cerca de dois meses, quando a dívida acumulada chegava a R$ 1,4 bilhão, sete grandes fabricantes foram ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pedir mais crédito para o setor e ajuda na solução do problema com as teles. Segundo as empresas, o pedido surtiu efeito e o volume de pagamentos em atraso já teria diminuído. Além de financiador de parte das teles, o BNDES é o principal acionista da Telemar.
A direção do BNDES declarou, anteontem, ao jornal ""Valor", que estuda ampliar de 30% para 50% o limite dos financiamentos às operadoras de telefonia para a compra de equipamentos fabricados no país e que poderá financiar também, no futuro, os processos de fusão de empresas. O presidente da Abinee considerou a informação como uma boa notícia.
O ministro das Comunicações, Juarez Quadros, afirmou apoiar a iniciativa do BNDES. ""Pode haver algum "help" (socorro) do BNDES e eu não vejo problema nisso, uma vez que o banco é criterioso na concessão dos financiamentos e só empresta mediante garantias e previsão de retorno'", afirmou.
A redução das encomendas à indústria era esperada, uma vez que as teles investiram na antecipação das metas de crescimento de linhas para conseguir licenças fora de suas áreas atuais de concessão. Só a Telemar investiu R$ 10 bilhões no ano passado e instalou 5,3 milhões de telefones.
A corrida para a antecipação das metas acabou por afetar as próprias operadoras de telefonia fixa. A inadimplência cresceu na proporção em que a população de menor renda passou a ter acesso à linha telefônica.

Fora de serviço
A Telemar, segundo informação de seu balanço do ano passado, tem 3,3 milhões de linhas instaladas fora de serviço. No final do ano passado, segundo o balanço, 945 mil linhas estavam bloqueadas por atraso de pagamento.
O Ministério das Comunicações quer usar os recursos do FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para subsidiar o telefone para a população de baixa renda.
As operadoras de telefonia fixa reclamam também que estão sendo prejudicas pelo valor das tarifas. Na avaliação das empresas, as tarifas não conseguem remunerar o capital investido.
O presidente da Telefônica do Brasil, Fernando Xavier Ferreira, diz que 65% das contas dos assinantes residenciais estão abaixo do valor ideal e não conseguem cobrir o custo econômico das ligações.



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