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RECALL DA PRIVATIZAÇÃO
Usuários de baixa renda não seguram o consumo; empresas trabalham abaixo da capacidade
Inadimplência provoca crise entre as teles
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Depois da euforia de investimentos nos três anos que sucederam a privatização do Sistema Telebrás, o setor de telecomunicações apresenta sinais de crise que
vão das indústrias de equipamento às operadoras de telefonia fixa e
de serviço celular.
Em julho de 1998, quando o Sistema Telebrás foi privatizado, o
país tinha 20,2 milhões de telefones fixos. Hoje, segundo a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), há 47,8 milhões de linhas telefônicas instaladas, mas
10 milhões estão fora de serviço
por incapacidade de pagamento
dos usuários de baixa renda.
A crise atingiu primeiro os fabricantes de equipamentos. Segundo o presidente da Abinee
(Associação Brasileira da Indústria Eletro Eletrônica), Carlos Paiva Lopes, as fábricas estão trabalhando com apenas 40% de sua
capacidade instalada. As empresas não têm pedidos em carteira
sequer para assegurar este ritmo
nos próximos meses.
Atraso no pagamento
Além da falta de encomendas,
as indústrias sofrem com os atrasos nos pagamentos por parte das
teles. Há cerca de dois meses,
quando a dívida acumulada chegava a R$ 1,4 bilhão, sete grandes
fabricantes foram ao BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pedir
mais crédito para o setor e ajuda
na solução do problema com as
teles. Segundo as empresas, o pedido surtiu efeito e o volume de
pagamentos em atraso já teria diminuído. Além de financiador de
parte das teles, o BNDES é o principal acionista da Telemar.
A direção do BNDES declarou,
anteontem, ao jornal ""Valor", que
estuda ampliar de 30% para 50%
o limite dos financiamentos às
operadoras de telefonia para a
compra de equipamentos fabricados no país e que poderá financiar
também, no futuro, os processos
de fusão de empresas. O presidente da Abinee considerou a informação como uma boa notícia.
O ministro das Comunicações,
Juarez Quadros, afirmou apoiar a
iniciativa do BNDES. ""Pode haver
algum "help" (socorro) do BNDES
e eu não vejo problema nisso,
uma vez que o banco é criterioso
na concessão dos financiamentos
e só empresta mediante garantias
e previsão de retorno'", afirmou.
A redução das encomendas à
indústria era esperada, uma vez
que as teles investiram na antecipação das metas de crescimento
de linhas para conseguir licenças
fora de suas áreas atuais de concessão. Só a Telemar investiu R$
10 bilhões no ano passado e instalou 5,3 milhões de telefones.
A corrida para a antecipação
das metas acabou por afetar as
próprias operadoras de telefonia
fixa. A inadimplência cresceu na
proporção em que a população de
menor renda passou a ter acesso à
linha telefônica.
Fora de serviço
A Telemar, segundo informação de seu balanço do ano passado, tem 3,3 milhões de linhas instaladas fora de serviço. No final do
ano passado, segundo o balanço,
945 mil linhas estavam bloqueadas por atraso de pagamento.
O Ministério das Comunicações
quer usar os recursos do FUST
(Fundo de Universalização dos
Serviços de Telecomunicações)
para subsidiar o telefone para a
população de baixa renda.
As operadoras de telefonia fixa
reclamam também que estão sendo prejudicas pelo valor das tarifas. Na avaliação das empresas, as
tarifas não conseguem remunerar
o capital investido.
O presidente da Telefônica do
Brasil, Fernando Xavier Ferreira,
diz que 65% das contas dos assinantes residenciais estão abaixo
do valor ideal e não conseguem
cobrir o custo econômico das ligações.
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