São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

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Inflação dispara e já ameaça meta

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Os reajustes no preço da gasolina já causaram estragos na inflação e colocam em risco o cumprimento da meta do governo para este ano, de 3,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Em março, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ficou em 0,60% -quase o dobro da taxa de fevereiro (0,36%).
De acordo com o IBGE, a gasolina ficou 4,16% mais cara nas bombas em março e foi responsável por um quarto da inflação do mês passado: o produto teve impacto de 0,15 ponto percentual na na composição da taxa.
O combustível nas refinarias subiu 2,2% em 2 de março e mais 9,4% no dia 16. Mas a maior parte do impacto desses reajustes ainda não aparece na inflação, assim como o aumento do sábado passado, de 10,08%. Juntos, os três aumentos consecutivos devem elevar o IPCA deste mês para perto de 1%, segundo previsões de economistas ouvidos pela Folha.
"A gasolina foi a principal responsável pelo aumento da inflação e o produto foi pressionado principalmente pelos reajustes maiores no Norte e no Nordeste", disse Eulina Nunes dos Santos, economista do IBGE responsável pelo IPCA.
Com o 0,60%, a inflação oficial do governo, medida pelo IPCA, acumula alta de 7,75% nos últimos 12 meses -em igual período do ano passado o acumulado era de 7,51%. Nos três primeiros meses deste ano a taxa acumulada está em 1,49%.
"A inflação está muito perto da meta. Com a crise do petróleo, que foge do controle do governo, há grande risco de não ser cumprida. Vai depender do petróleo, que será o grande fator de influência do ano", disse o economista-chefe do Santander, André Lóes.
O economista do BBV, Octávio de Barros, disse, em relatório, que "não há como negar que o IPCA ficou acima das expectativas". Segundo o BBV, a previsão do Banco Central era ter taxa acumulada de 7,8% até março e o índice ficou apenas 0,05 ponto percentual abaixo disso -ou seja, em 7,75%.
"As taxas de todo o segundo trimestre devem ficar acima do teto estimado pelo Banco Central. Mas, para o ano, a meta deve ser atingida. Dificilmente, ficará acima de 5,5%", disse Marcelo Cypriano, economista-sênior do BankBoston.

Gasolina e outros impactos
Por região metropolitana, os maiores aumentos da gasolina ocorreram no Norte e no Nordeste. Em Fortaleza, a alta foi de 12,37%; em Belém, de 11,56%; e em Recife, de 9,92%. O produto subiu 3,28% em São Paulo e 2,51% no Rio. Mesmo com o aumento de março, a gasolina ainda acumula queda média de 10,98% neste ano, em decorrência da redução de 25% no preço das refinarias em 1º de janeiro.
Além da gasolina, a energia elétrica pressionou a inflação. O seguro contra o apagão determinado pelo governo -acréscimo de R$ 0,0049 na conta por quilowatt consumido- fez a energia subir 2,24%, com peso de 0,09 ponto percentual no índice.
Também contribuíram para a alta do IPCA de março as altas do leite (4,79%, com peso de 0,06 ponto), dos ônibus urbanos (0,61%, com peso de 0,03 ponto) e dos produtos farmacêuticos (1,60%, com peso de 0,07 ponto).
Para Cypriano, o comportamento dos preços dos alimentos surpreendeu, pois era esperada deflação em março. O grupo subiu de 0,20% em fevereiro para 0,39% em março.
O economista da LCA consultoria Luís Suzigam, em relatório, concorda: "A pressão adicional decorreu do persistente fôlego de alta de vários alimentos." A LCA previa aumento de 0,35% para o IPCA em março.



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