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Inflação dispara e já ameaça meta
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Os reajustes no preço da gasolina já causaram estragos na inflação e colocam em risco o cumprimento da meta do governo para
este ano, de 3,5%, com tolerância
de dois pontos percentuais para
cima ou para baixo.
Em março, o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo),
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), ficou em
0,60% -quase o dobro da taxa de
fevereiro (0,36%).
De acordo com o IBGE, a gasolina ficou 4,16% mais cara nas
bombas em março e foi responsável por um quarto da inflação do
mês passado: o produto teve impacto de 0,15 ponto percentual na
na composição da taxa.
O combustível nas refinarias subiu 2,2% em 2 de março e mais
9,4% no dia 16. Mas a maior parte
do impacto desses reajustes ainda
não aparece na inflação, assim como o aumento do sábado passado, de 10,08%. Juntos, os três aumentos consecutivos devem elevar o IPCA deste mês para perto
de 1%, segundo previsões de economistas ouvidos pela Folha.
"A gasolina foi a principal responsável pelo aumento da inflação e o produto foi pressionado
principalmente pelos reajustes
maiores no Norte e no Nordeste",
disse Eulina Nunes dos Santos,
economista do IBGE responsável
pelo IPCA.
Com o 0,60%, a inflação oficial
do governo, medida pelo IPCA,
acumula alta de 7,75% nos últimos 12 meses -em igual período
do ano passado o acumulado era
de 7,51%. Nos três primeiros meses deste ano a taxa acumulada está em 1,49%.
"A inflação está muito perto da
meta. Com a crise do petróleo,
que foge do controle do governo,
há grande risco de não ser cumprida. Vai depender do petróleo,
que será o grande fator de influência do ano", disse o economista-chefe do Santander, André Lóes.
O economista do BBV, Octávio
de Barros, disse, em relatório, que
"não há como negar que o IPCA
ficou acima das expectativas". Segundo o BBV, a previsão do Banco Central era ter taxa acumulada
de 7,8% até março e o índice ficou
apenas 0,05 ponto percentual
abaixo disso -ou seja, em 7,75%.
"As taxas de todo o segundo trimestre devem ficar acima do teto
estimado pelo Banco Central.
Mas, para o ano, a meta deve ser
atingida. Dificilmente, ficará acima de 5,5%", disse Marcelo
Cypriano, economista-sênior do
BankBoston.
Gasolina e outros impactos
Por região metropolitana, os
maiores aumentos da gasolina
ocorreram no Norte e no Nordeste. Em Fortaleza, a alta foi de
12,37%; em Belém, de 11,56%; e
em Recife, de 9,92%. O produto
subiu 3,28% em São Paulo e 2,51%
no Rio. Mesmo com o aumento
de março, a gasolina ainda acumula queda média de 10,98% neste ano, em decorrência da redução de 25% no preço das refinarias em 1º de janeiro.
Além da gasolina, a energia elétrica pressionou a inflação. O seguro contra o apagão determinado pelo governo -acréscimo de
R$ 0,0049 na conta por quilowatt
consumido- fez a energia subir
2,24%, com peso de 0,09 ponto
percentual no índice.
Também contribuíram para a
alta do IPCA de março as altas do
leite (4,79%, com peso de 0,06
ponto), dos ônibus urbanos
(0,61%, com peso de 0,03 ponto) e
dos produtos farmacêuticos
(1,60%, com peso de 0,07 ponto).
Para Cypriano, o comportamento dos preços dos alimentos
surpreendeu, pois era esperada
deflação em março. O grupo subiu de 0,20% em fevereiro para
0,39% em março.
O economista da LCA consultoria Luís Suzigam, em relatório,
concorda: "A pressão adicional
decorreu do persistente fôlego de
alta de vários alimentos." A LCA
previa aumento de 0,35% para o
IPCA em março.
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