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COMENTÁRIO
Juros devem parar de cair
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O impacto da inflação medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) em março
vai muito além do fato de ter ficado acima das expectativas do
mercado. Em primeiro lugar, reforça os argumentos de quem
avalia que o Banco Central interromperá, neste mês, a trajetória
de queda dos juros iniciada no
mês de fevereiro.
Não são poucos os motivos para
pensar dessa forma:
1) Por muito pouco a inflação
não estourou o limite superior da
meta trimestral acertada com o
Fundo Monetário Internacional
(FMI), de 7,8% no acumulado em
12 meses encerrados em março. O
IPCA nesse período ficou em
7,75%. Se ultrapassasse esse limite, o governo teria de consultar o
Conselho de Administração do
FMI sobre o que fazer para reconduzir a inflação para baixo. Certamente, causaria constrangimento
para a equipe econômica;
2) A inflação acumulada em 12
meses voltou a subir, o que não
ocorria desde dezembro do ano
passado. Encerrou 2001 em 7,67%
e chegou a 7,51% em fevereiro;
3) Os preços administrados/
monitorados (como tarifas de
energia elétrica e combustíveis)
subiram mais uma vez. No acumulado em 12 meses, passaram
de 9,14% em fevereiro para
10,09% no mês passado.
Economistas ouvidos pela Folha dizem que o BC deverá manter a taxa de juros em 18,5%, na
próxima reunião do Copom.
"Acho que o BC deverá ser mais
cauteloso para ver se o impacto
desses choques de preço do petróleo será temporário ou não", afirma Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimentos.
João Luiz Máscolo, da Foresee,
vê outro motivo para manutenção da Selic (taxa básica de juros
da economia). A decisão estaria ligada à indefinição do cenário da
eleição presidencial. "Se o mercado temer uma descontinuidade
da atual política fiscal, o governo
poderá ter dificuldade para continuar emitindo títulos. Isso cria o
medo de que o governo precise
emitir papel moeda para se financiar, o que pressionaria a inflação", declara.
No entanto, há um fator nos números da inflação de março que
pode fazer com que o BC reduza
os juros outra vez neste mês. Os
chamados preços de mercado
(dados livremente de acordo com
oferta e demanda) mantêm tendência de queda.
Em fevereiro, o BC adotou informalmente o núcleo do IPCA
para conduzir a política monetária. Passou a controlar os juros
tendo como foco os preços livres,
teoricamente sem considerar aumentos eventuais dos preços administrados/monitorados. Como
os preços livres estão em queda,
talvez o BC pudesse baixar novamente os juros.
Mas o BC continua limitado pelo teto da meta de inflação, que
para este ano é de 5,5%.
Portanto, se os preços administrados subirem muito, o BC não
poderá ignorá-los, pois do contrário corre o risco de não cumprir a meta outra vez. No ano passado, a inflação ficou em 7,67%
-1,67 ponto percentual acima do
limite superior da meta, que era
de 6%.
Os preços livres são afetados pela redução dos juros, o que não
ocorre com os preços administrados. Quando o BC sobe a taxa, os
financiamentos ficam mais caros,
o que leva as pessoas a comprar
menos a crédito. Assim, comércio
e indústria têm mais dificuldades
para aumentar os preços.
Os preços administrados/monitorados praticamente não são afetados pelos juros porque são corrigidos por contrato ou de acordo
com fatores que independem de
oferta e demanda.
Se o BC reduzir os juros, estimulará mais a economia, o que facilita também o aumento dos preços
livres.
Colaborou Érica Fraga, da Reportagem
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