São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COLAPSO NA ARGENTINA

Flexibilização do curralzinho marcada para 2003, feita pelo BC a pedido do FMI, irrita Executivo

FMI manda, BC faz e ministério reclama

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

A polêmica medida anunciada pelo Banco Central argentino na semana passada, que prevê a liberação do curralzinho a partir de janeiro do próximo ano, foi tomada para que mais uma exigência feita pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) fosse cumprida. A medida gerou uma crise entre o BC e o Ministério da Economia, que não teria sido consultado sobre a decisão.
Pela medida, os bancos ficam responsáveis pela decisão de devolverem ou não os depósitos bloqueados pelo curralzinho. Um documento entregue por técnicos do FMI ao governo argentino, apresentado pelo "Página/12", diz que, "se os bancos desejarem, devem poder devolver os depósitos antes do programado, mas não antes de 31 de dezembro".
Para diminuir o mal-estar criado com o Ministério da Economia, o BC decidiu postergar a regulamentação da medida, sem a qual ela não se torna efetiva. O Fundo aconselha que os bancos devolvam os depósitos por meio de títulos privados, que poderiam ser negociados no mercado secundário. No documento, também é discutida a necessidade de reestruturação do sistema financeiro, com fusões e aquisições de entidades mais debilitadas.
Na reunião que manteve ontem com o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, o chefe da missão do Fundo para o caso argentino, Anoop Singh, voltou a pedir que o câmbio flutue livremente, sem a intervenção do Banco Central. O Fundo mais uma vez discutiu o problema dos déficits das Províncias. O FMI deve passar a monitorar trimestralmente os resultados fiscais. As Províncias de Buenos Aires e Córdoba são as que mais preocupam o Fundo, que pediu garantias especiais de que cumprirão as metas de ajustes acertadas.
O governo conseguiu a promessa do Bird (Banco Mundial) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) de que liberarão uma ajuda de US$ 1 bilhão para programas sociais mesmo que o país não consiga fechar o acordo que negocia com o FMI.
Segundo o "La Nación", a informação foi dada à primeira-dama argentina, Hilda "Chiche" Duhalde. Com os recursos, o governo teria condições de ampliar o programa de ajuda social anunciado na semana passada. O país conta atualmente com cerca de 3,2 milhões de desempregados.
Os argentinos já perderam 20% de seu poder de compra no ano. A conclusão é de um estudo da consultoria CCR. Só na última semana de março, o poder de compra dos argentinos caiu 3,5%. Como reflexo, o volume de vendas de muitos produtos tem despencado. A venda de peixes congelados caiu 42%, e a de sorvetes, 33%.



Texto Anterior: Comentário: Juros devem parar de cair
Próximo Texto: Stiglitz ataca "hipocrisia" americana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.