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COLAPSO NA ARGENTINA
Flexibilização do curralzinho marcada para 2003, feita pelo BC a pedido do FMI, irrita Executivo
FMI manda, BC faz e ministério reclama
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
A polêmica medida anunciada
pelo Banco Central argentino na
semana passada, que prevê a liberação do curralzinho a partir de
janeiro do próximo ano, foi tomada para que mais uma exigência
feita pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional) fosse cumprida. A
medida gerou uma crise entre o
BC e o Ministério da Economia,
que não teria sido consultado sobre a decisão.
Pela medida, os bancos ficam
responsáveis pela decisão de devolverem ou não os depósitos
bloqueados pelo curralzinho. Um
documento entregue por técnicos
do FMI ao governo argentino,
apresentado pelo "Página/12", diz
que, "se os bancos desejarem, devem poder devolver os depósitos
antes do programado, mas não
antes de 31 de dezembro".
Para diminuir o mal-estar criado com o Ministério da Economia, o BC decidiu postergar a regulamentação da medida, sem a
qual ela não se torna efetiva. O
Fundo aconselha que os bancos
devolvam os depósitos por meio
de títulos privados, que poderiam
ser negociados no mercado secundário. No documento, também é discutida a necessidade de
reestruturação do sistema financeiro, com fusões e aquisições de
entidades mais debilitadas.
Na reunião que manteve ontem
com o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, o chefe da missão do Fundo para o caso argentino, Anoop Singh, voltou a pedir
que o câmbio flutue livremente,
sem a intervenção do Banco Central. O Fundo mais uma vez discutiu o problema dos déficits das
Províncias. O FMI deve passar a
monitorar trimestralmente os resultados fiscais. As Províncias de
Buenos Aires e Córdoba são as
que mais preocupam o Fundo,
que pediu garantias especiais de
que cumprirão as metas de ajustes acertadas.
O governo conseguiu a promessa do Bird (Banco Mundial) e do
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) de que liberarão uma ajuda de US$ 1 bilhão para programas sociais mesmo que
o país não consiga fechar o acordo
que negocia com o FMI.
Segundo o "La Nación", a informação foi dada à primeira-dama
argentina, Hilda "Chiche" Duhalde. Com os recursos, o governo
teria condições de ampliar o programa de ajuda social anunciado
na semana passada. O país conta
atualmente com cerca de 3,2 milhões de desempregados.
Os argentinos já perderam 20%
de seu poder de compra no ano. A
conclusão é de um estudo da consultoria CCR. Só na última semana de março, o poder de compra
dos argentinos caiu 3,5%. Como
reflexo, o volume de vendas de
muitos produtos tem despencado. A venda de peixes congelados
caiu 42%, e a de sorvetes, 33%.
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