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ANO DO DRAGÃO
IPCA em março atinge 1,23%; segundo analistas, meta do ano está "sepultada" e juros não serão reduzidos
Inflação já engoliu 60% da meta de 2003
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A inflação oficial de março, medida pelo IPCA (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo), surpreendeu o mercado e
chegou a 1,23%. Com isso, o índice acumulado nos três primeiros
meses de 2003 alcançou 5,13% -
60,3% da meta de 8,5% para este
ano. Segundo analistas, esta meta
já está "sepultada".
Alimentos e preços administrados ou monitorados comandaram a alta. "A alimentação está
mostrando uma resistência [a
baixar os preços" maior do que a
esperada", disse Paulo Levy, coordenador do Grupo de Análise
Conjuntural do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Foi o menor IPCA mensal desde
setembro do ano passado
(0,72%), mas foi o maior índice
para o mês de março desde 1995
(1,55%). O acumulado do primeiro trimestre foi o maior desde que
o Plano Real foi implantado, em
julho de 1994. A maior alta anterior para o mesmo período havia
sido no primeiro trimestre de
1994, em plena hiperinflação
(182,96%).
Apesar de ter sido 0,34 ponto
percentual menor que o IPCA de
fevereiro (1,57%), o índice de
março foi 0,09 ponto maior que o
IPCA-15 de março, calculado pela
mesma metodologia e prazo de
pesquisa (um mês) com coleta de
dados fechada 15 dias antes.
"É uma reversão de tendência
de queda, embora não signifique
que [a inflação" vai ser mais alta
em abril", disse o economista Luiz
Roberto da Cunha, professor da
PUC-RJ (Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro).
Cunha e outros especialistas
consideram também que está sepultada qualquer qualquer hipótese de redução dos juros, hoje em
26,5%, na reunião deste mês do
Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).
Sistema questionado
"O mercado sabe que o Banco
Central não está mais mirando na
meta de 8,5%", disse Cunha. Ele
lembrou que na última ata do Copom o BC já sinalizou para uma
perspectiva de mudança.
O economista Fernando Pinto
Ferreira, sócio da consultora Global Invest, disse que o BC precisa
rediscutir o sistema de metas de
inflação, sob pena de levá-lo à
desmoralização.
Segundo ele, o sistema foi importado de outros países sem levar em conta que o Brasil tem preços importantes, como os das tarifas de energia elétrica e de telefone e os dos derivados de petróleo,
indexados formalmente ou atrelados ao mercado internacional.
Isso, de acordo com a análise de
Ferreira, faz com que a política
monetária, que calibra os juros e o
crédito, atue apenas sobre uma
parte dos preços, os chamados
preços livres. O economista afirmou que para este ano, segundo a
própria previsão do BC, os preços
administrados, que respondem
por 28% do total, subirão 16,8%.
Isso significa que esses preços já
irão representar uma contribuição de 4,75% para o IPCA do ano,
deixando apenas 3,75% para serem completados pelos preços livres, que representam 72% do total, na composição da meta de
8,5%. "Só esses setores [preços livres], dependentes da renda e do
crédito, é que sofrem a pressão da
política monetária", reclamou.
A economista Marcela Prada,
da consultoria Tendências, também acha que em março houve
forte influência de "pressões temporárias". A Tendências esperava
um IPCA de 0,90%.
Segundo o IBGE, as pressões
vieram dos alimentos, que subiram 1,66%, contra 1,22% em fevereiro, e de alguns preços administrados ou monitorados, como os
remédios (4,58%), as taxas de
água e esgoto, 94,12%) e os ônibus
urbanos (1,75%). Entre os alimentos, o destaque foi o tomate, que
subiu 57,35% em março.
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