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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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ANO DO DRAGÃO

IPCA em março atinge 1,23%; segundo analistas, meta do ano está "sepultada" e juros não serão reduzidos

Inflação já engoliu 60% da meta de 2003

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A inflação oficial de março, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), surpreendeu o mercado e chegou a 1,23%. Com isso, o índice acumulado nos três primeiros meses de 2003 alcançou 5,13% - 60,3% da meta de 8,5% para este ano. Segundo analistas, esta meta já está "sepultada".
Alimentos e preços administrados ou monitorados comandaram a alta. "A alimentação está mostrando uma resistência [a baixar os preços" maior do que a esperada", disse Paulo Levy, coordenador do Grupo de Análise Conjuntural do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Foi o menor IPCA mensal desde setembro do ano passado (0,72%), mas foi o maior índice para o mês de março desde 1995 (1,55%). O acumulado do primeiro trimestre foi o maior desde que o Plano Real foi implantado, em julho de 1994. A maior alta anterior para o mesmo período havia sido no primeiro trimestre de 1994, em plena hiperinflação (182,96%).
Apesar de ter sido 0,34 ponto percentual menor que o IPCA de fevereiro (1,57%), o índice de março foi 0,09 ponto maior que o IPCA-15 de março, calculado pela mesma metodologia e prazo de pesquisa (um mês) com coleta de dados fechada 15 dias antes.
"É uma reversão de tendência de queda, embora não signifique que [a inflação" vai ser mais alta em abril", disse o economista Luiz Roberto da Cunha, professor da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
Cunha e outros especialistas consideram também que está sepultada qualquer qualquer hipótese de redução dos juros, hoje em 26,5%, na reunião deste mês do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).

Sistema questionado
"O mercado sabe que o Banco Central não está mais mirando na meta de 8,5%", disse Cunha. Ele lembrou que na última ata do Copom o BC já sinalizou para uma perspectiva de mudança.
O economista Fernando Pinto Ferreira, sócio da consultora Global Invest, disse que o BC precisa rediscutir o sistema de metas de inflação, sob pena de levá-lo à desmoralização.
Segundo ele, o sistema foi importado de outros países sem levar em conta que o Brasil tem preços importantes, como os das tarifas de energia elétrica e de telefone e os dos derivados de petróleo, indexados formalmente ou atrelados ao mercado internacional.
Isso, de acordo com a análise de Ferreira, faz com que a política monetária, que calibra os juros e o crédito, atue apenas sobre uma parte dos preços, os chamados preços livres. O economista afirmou que para este ano, segundo a própria previsão do BC, os preços administrados, que respondem por 28% do total, subirão 16,8%.
Isso significa que esses preços já irão representar uma contribuição de 4,75% para o IPCA do ano, deixando apenas 3,75% para serem completados pelos preços livres, que representam 72% do total, na composição da meta de 8,5%. "Só esses setores [preços livres], dependentes da renda e do crédito, é que sofrem a pressão da política monetária", reclamou.
A economista Marcela Prada, da consultoria Tendências, também acha que em março houve forte influência de "pressões temporárias". A Tendências esperava um IPCA de 0,90%.
Segundo o IBGE, as pressões vieram dos alimentos, que subiram 1,66%, contra 1,22% em fevereiro, e de alguns preços administrados ou monitorados, como os remédios (4,58%), as taxas de água e esgoto, 94,12%) e os ônibus urbanos (1,75%). Entre os alimentos, o destaque foi o tomate, que subiu 57,35% em março.


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