São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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Estimativa de crescimento para 2005 cai de 3,9% para 3,5%

Crise política abala confiança dos analistas na economia

DA REPORTAGEM LOCAL

A recente crise política e a conseqüente lentidão com que o governo toca seu programa de reformas neste ano caíram como um balde de água fria sobre o bom humor do mercado financeiro em relação ao PT, verificado em 2003. Críticas mais veementes e sinais de preocupação começam a surgir em relatórios de bancos e em conversas com economistas-chefes e diretores das principais instituições financeiras.
Isso tem se refletido de forma crescente nas projeções do mercado para o fôlego da economia. Entre a última semana de janeiro deste ano e a semana passada, a estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2005 caiu de 3,9% para 3,5%.
"Os acontecimentos recentes e a reação do mercado indicam que, talvez, o melhor de tudo tenha ficado para trás. Isso não quer dizer que essa situação não possa se inverter novamente. Mas o cenário atual traz motivos para preocupação", diz José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
Segundo Pena, embora a crise detonada por denúncias de corrupção envolvendo um ex-funcionário direto do ministro José Dirceu (Casa Civil) tenha perdido a força, há outros sinais de instabilidade política no caminho, como greves de várias categorias de servidores públicos. Um dos riscos, segundo ele, é o de que a concessão de aumentos muito acima do previsto comprometam planos de investimento em 2004.
"Acho que o governo manterá o compromisso com o ajuste fiscal. O risco é ter de cortar investimentos para compensar outros gastos. Por esses motivos, vejo 2005 com menos otimismo", afirma Pena.
O mesmo tom de preocupação aparece em um relatório novo do HSBC sobre a América Latina. Embora elogie a politica macroeconômica do governo, o banco ressalta que, sozinha, ela não será capaz de fazer o país retomar o crescimento sustentado. O relatório afirma que a recente aliança entre o presidente Lula e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), cujo objetivo foi aplacar a crise política, pode favorecer interesses regionais em detrimento da agenda de reformas do governo. O banco lembra que essa mesma aliança teve efeitos nocivos sobre a administração anterior.
Segundo Paulo Vieira da Cunha, diretor e economista-chefe para a América Latina do HSBC, em Nova York, o governo não tem um programa de desenvolvimento que permita aumentar drasticamente a produtividade da economia brasileira e pavimentar o caminho para que o país possa crescer a taxas de 5% a 6% ao ano.
"O problema é que o governo talvez se contente com taxas de crescimento de 3% a 3,5% ao ano, que, embora baixas, são melhores que as dos últimos anos", afirma Vieira da Cunha. "Talvez isso seja suficiente para o governo realizar seu projeto político de reeleição. O problema é que essas taxas são muito baixas para atender as necessidades do país."

Emissões
A apreensão dos bancos e de investidores já pôde ser sentida pelo setor privado brasileiro. Entre os doze países que fizeram operações de emissão de títulos no exterior para levantar recursos, o Brasil foi o que menos fechou negócios entre meados de fevereiro e o fim de março, segundo dados da consultoria norte-americana Thomson Financial. Foram apenas três operações. No mesmo período, empresas e o governo de Taiwan e da Coréia do Sul conseguiram realizar, respectivamente, 30 e 36 captações externas.
No primeiro trimestre, o Brasil é o sexto país emergente que mais realizou captações -15, no total.
Nas últimas duas semanas, empresas e bancos brasileiros, como Vale do Rio Doce e Bradesco, voltaram a captar recursos no mercado externo. Agora, há a expectativa de que o próprio governo anuncie nova emissão de títulos.
Mas, segundo analistas, essa retomada de fôlego pode ter vida curta em conseqüência da expectativa de que os juros norte-americanos subam neste ano.
Essa perspectiva e a paralisia do governo no que se refere ao andamento das reformas são as principais causas do temor do mercado em relação ao Brasil.
(ÉRICA FRAGA)


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