São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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Setor privado irá gastar mais com dívida externa

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os gastos do setor privado com pagamentos da dívida externa devem chegar a US$ 33,3 bilhões neste ano, crescimento de 50% sobre 2003, segundo o Banco Central. O endividamento do país no exterior ainda é apontado como uma das principais vulnerabilidades da economia brasileira e pode se tornar um problema no caso de uma crise internacional.
"Não dá para dizer que se trata de uma tendência. Devido ao perfil da dívida contraída recentemente, coincidiu de, neste ano, concentrar um volume maior de vencimentos", diz a economista Leda Paulani, professora da Universidade de São Paulo. "Mas a vulnerabilidade externa do Brasil permanece", completa.
Um dos principais riscos, segundo Paulani, está na possibilidade de os juros norte-americanos serem elevados. Esse aumento ocorreria para evitar que o crescimento da economia dos EUA gere pressões inflacionárias.
Com isso, os investidores internacionais iriam preferir direcionar suas aplicações para os EUA, onde obteriam uma rentabilidade um pouco melhor.
"O aumento das taxas de juros norte-americanas vai acontecer em algum momento. Se for neste ano, vai pegar o Brasil num momento ruim", diz. Apesar disso, diz Paulani, a melhora nos saldos da balança comercial observada desde o ano passado deve ajudar a amortecer um eventual choque.
Relatório enviado a investidores na semana passada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's voltou a alertar para os problemas das contas externas brasileiras. "Os indicadores externos do Brasil são mais fracos do que o de outros países semelhantes", diz o documento.
"De forma geral, a capacidade do Brasil de conseguir empréstimos é limitada pelos fracos indicadores externos do país. Os gastos do Brasil com a dívida externa estão entre os mais altos [dos países analisados pela S&P]", afirma o relatório.
A dificuldade do país em financiar seus compromissos externos foi o principal problema causado pela crise enfrentada pelo país em 2002. Às vésperas das eleições, muitos bancos se negaram a emprestar dinheiro para as empresas brasileiras, que se viram obrigadas a enviar dólares para fora para pagar suas dívidas. A fuga de recursos levou à disparada do dólar, que, por sua vez, pressionou a inflação e fez com que o BC, na ocasião, elevasse as taxas de juros.
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), concorda com a avaliação de que a vulnerabilidade do Brasil persiste. "Mas, num cenário internacional de baixos juros, a situação é relativamente tranqüila", afirma.
Lacerda diz, porém, que outros dois fatores também podem afetar o financiamento da dívida externa brasileira: a crise política enfrentada pelo governo com o caso Waldomiro Diniz e a instabilidade gerada por atentados terroristas como o ocorrido em Madri.


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