São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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ANÁLISE

"Bolha" esconde fragilidade de países e falhas do FMI

Daniel Garcia - 9.mar.04/France Presse
Desempregada grita slogans contra o FMI em protesto diante do banco central da Argentina


DO "FINANCIAL TIMES"

"Boas intenções , pouco esforço, muitas falhas." Esse é o resumo feito, há duas semanas, por Anne Krueger, a diretora-gerente interina do (Fundo Monetário Internacional), sobre os esforços dos mercados emergentes para praticar reformas econômicas.
Embora as finanças públicas, em particular, dos mercados emergentes certamente tenham melhorado em relação a décadas anteriores, alguns ainda têm um longo caminho a andar. Mas o FMI tem seu papel nisso, e seu histórico é de uma lamentável indulgência diante dos que hesitam nas reformas.
Nos últimos 18 meses, uma recuperação maciça nos títulos dos mercados emergentes, de certa forma relacionada aos juros muito baixos nos EUA, deu a esses governos um fôlego fiscal que em alguns casos eles pouco mereciam. (Na semana passada, um relatório do próprio Fundo alertou para o risco de um estouro do que alguns chamam de "bolha emergente".)
O aumento dos preços das commodities também beneficiou um número alarmante de economias de mercados emergentes que ainda dependem da exportação de matérias-primas.
Provavelmente nada disso será uma muleta permanente. É verdade que a alta dos preços dos ativos nos mercados emergentes está bem aquém da bolha que antecedeu a crise financeira asiática. Mas a falta de critério dos investidores, que viram uma rápida melhora nas margens de títulos até de atores fracos como a Venezuela, é uma preocupação.
A queda dos preços das commodities já arrasou mercados emergentes antes. Os mercados emergentes deveriam usar o ambiente externo positivo como uma plataforma para um maior progresso, em vez de se recostar e apenas desfrutar.
Uma prioridade óbvia é continuar reduzindo a vulnerabilidade às crises. Um apelo geral por maior liberalização ignora o fato de que a reforma muitas vezes foi conduzida na direção errada, mais que negligenciada.
Por exemplo, os programas de privatização apressados e mal aplicados nos países latino-americanos, que entregaram os monopólios de setores como água e telecomunicações à iniciativa privada sem regulamentações e legislações eficazes, contribuíram para a fadiga da reforma que põe em risco a liberalização necessária em outros lugares.
O papel do FMI na reforma dos mercados emergentes também não está isento de críticas. O Fundo continuou emprestando alegremente para muitos países por um longo período, apesar de seus constantes fracassos em cumprir suas promessas. A Argentina na década de 90 foi o exemplo perfeito de como a falta de rigor fiscal e uma perigosa confiança nas exportações de matérias-primas pode abalar a boa vontade dos investidores internacionais. Mas as advertências, em caráter privado, do FMI de que a reforma estava atrasada não foram acompanhadas de ameaças efetivas de interromper os constantes empréstimos.
"A pressão interna pode em muitos casos ser muito mais eficaz para convencer um governo relutante a cumprir suas promessas", disse Krueger no seminário de Nova York. Mas, quando a pressão interna pela reforma falha, como na Argentina, o Fundo deve fazer mais que lavar as mãos e continuar emprestando.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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