São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ECONOMIA GLOBAL

Fase atual é a melhor em 35 anos; retomada não pressiona inflação e está bem espalhada, sugerem dados do FMI

Mundo deve crescer perto de 5% em 2006

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento da economia mundial deve encostar em quase 5% em 2006, consolidando quatro anos consecutivos de taxas positivas superiores a 4% -algo não visto há quase 35 anos.
O ritmo de crescimento global tende a continuar beneficiando, neste ano e no próximo, emergentes como o Brasil e suas exportações de commodities.
A outra boa notícia é que a atual onda de crescimento está bastante distribuída ao redor do mundo e não vem acompanhada, pelo menos por enquanto, de pressões inflacionárias.
Os juros nas economias centrais devem, portanto, continuar relativamente baixos, estimulando o fluxo de dólares na direção das economias emergentes.
EUA, China e agora o Japão serão os principais "motores" da economia global em 2006. Entre os membros do G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá), o crescimento no ano ficará ao redor de 2,8%.
Segundo dados já ventilados na Europa com base em informações atribuídas ao FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia norte-americana, a maior do mundo, deve crescer 3,3% neste ano e 3,6% em 2007. A China crescerá 9,5% em 2006, e o Japão, 2,8% -consolidando o fim de um longo período de estagnação de mais de uma década.

Revisão para cima
Segundo dados "vazados" pelo próprio FMI na Ásia, o mundo como um todo deverá crescer 4,9% neste ano. A taxa é superior aos 4,3% previstos pelo próprio Fundo em setembro passado. Para 2007, a previsão permanece otimista: 4,7% de alta.
No caso brasileiro, o país vem ficando há vários semestres "na lanterninha", com taxas de crescimento bem abaixo da de outros emergentes concorrentes, como China e Índia, e também da média geral de crescimento mundial e da própria América Latina.
Até ontem, não havia sido ventilada nenhuma estimativa do FMI para o Brasil em 2006.
Dados finais e análises sobre essas expectativas serão divulgados no dia 19, em Washington, no primeiro capítulo do relatório bianual "Perspectivas para a Economia Mundial", a ser apresentado antes da reunião anual do FMI.
Entre os principais riscos contra essa expectativa otimista, devem constar no relatório a supervalorização dos imóveis nos EUA e na Europa e os desequilíbrios fiscal e nas contas externas americanas.
Essas preocupações vêm aparecendo em relatórios do Fundo desde 2003, e a instituição já alertou de que a correção dos desequilíbrios tem sido muito lenta.
Outras análises do Fundo sobre a economia e os mercados mundial serão conhecidos já na próxima sexta-feira.

Discussão sobre cotas
Como o Brasil decidiu há alguns meses antecipar o pagamento de US$ 15,5 bilhões que devia ao Fundo, um dos assuntos de maior interesse do país no encontro da próxima semana do FMI será uma nova rodada de discussões sobre o sistema de representatividade dos seus países-membros.
Além do Brasil, vários emergentes, como China, Índia e Coréia do Sul, têm interesse em uma mudança na atual sistemática. Dificilmente, porém, haverá qualquer passo mais firme no sentido de acabar com as distorções atuais nas cotas, que determinam o poder de voto nas principais decisões do Fundo.
Países como Brasil, China e Índia vêm tentando forçar uma mudança no seu grau de representatividade há pelo menos cinco reuniões semestrais do Fundo.
O atual sistema é considerado defasado, mas enfrenta uma série de resistências a mudanças. As principais vêm dos países que integram a União Européia e que vêm perdendo, ano após ano, terreno para outras economias emergentes.
Hoje, como reflexo da concepção do FMI, em 1944, um país como a Holanda, com um PIB (Produto Interno Bruto) quatro vezes menor que o da China, tem poder de voto quase igual ao do gigante asiático. Mesmo o Brasil, com um PIB duas vezes maior que o da Bélgica, tem representatividade menor nas decisões do Fundo: 1,41%, contra 2,13% dos belgas.
Uma nova proposta sobre as cotas já encaminhada pelo diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato, deverá começar a ser discutida mais profundamente somente a partir de outubro deste ano.
Para que ocorra qualquer alteração no atual sistema, são necessários 85% dos votos dos países-membros. Juntos, os 25 países que compõem a União Européia têm 31,9% desses votos, o que pode inviabilizar mudanças.


Texto Anterior: América Latina: Venezuela não descarta mais imposto de óleo
Próximo Texto: Moeda chinesa atinge maior valor ante dólar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.