São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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PERDAS

Dos três maiores produtores do país, somente gaúchos não terão prejuízo nesta safra, ao contrário dos dois anos anteriores

MT vê menor produtividade de soja em 10 anos

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O cenário de perda de renda dos produtores agrícolas se agrava ainda mais conforme avança a safra de soja. Os novos dados mostram que a produtividade não atingiu o que se previa e a safra fica, pela terceira vez, abaixo das estimativas iniciais.
Há três safras, os produtores plantam com perspectivas de obter uma colheita próxima de 60 milhões de toneladas, mas os números finais obtidos ficam bem distantes dessas estimativas.
Com base em 62% da safra já colhida, a Agência Rural, de Curitiba, refez as estimativas e prevê, agora, apenas 54,7 milhões de toneladas.
Fernando Muraro, diretor da agência, diz que a surpresa vem do maior produtor nacional, Mato Grosso, onde a produtividade recuou para 45 sacas por hectare, o menor volume em uma década.
Quebra de safra, preços em queda e o dólar sem recuperação -mesmo com tantos distúrbios na política brasileira- são fatores que levam os produtores de dois dos três Estados maiores produtores de soja do país a ter prejuízo com a oleaginosa neste ano.
Entre os três principais produtores de soja do país -Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul-, que somam 61% da produção nacional, apenas os gaúchos não vão ter prejuízos, de acordo com Muraro.

Gaúchos
A possibilidade de lucros dos gaúchos nesta safra não indica, no entanto, uma situação confortável, já que o Rio Grande do Sul foi o líder de quebra nas safras de 2003/4 e 2004/5. Com um potencial de produção de 9 milhões de toneladas, o Estado obteve apenas 2,6 milhões de toneladas na safra passada. Neste ano, a safra será de 8,2 milhões de toneladas.
Para Muraro, os gaúchos vão obter um pequeno ganho apenas porque tiveram custos menores de produção, devido à utilização de semente geneticamente modificada.
O rendimento médio por hectare no Rio Grande do Sul é de 35 sacas por hectare, e os preços por saca estão a R$ 21,00.
Os paranaenses estão obtendo produtividade de 39,9 sacas e conseguem preços até melhores do que os dos gaúchos por saca (R$ 22,00), mas vão ficar no vermelho porque tiveram custos de produção mais elevados.
As 35 sacas que os gaúchos vão produzir por hectare geram uma receita de R$ 735,00, mas gastaram R$ 730 para a produção. A sobra é de R$ 5,00 por hectare.
Já os paranaenses recebem R$ 877,80 pelas 39,9 sacas, mas gastaram R$ 950 para produzi-las. O prejuízo é de R$ 72,20.
Situação pior é a dos mato-grossenses. Vão colher 45 sacas, mas recebem apenas R$ 17,5 por saca. Vão receber R$ 787,50 por hectare, mas gastaram R$ 1.050,00 para a produção. Ou seja, o prejuízo será de R$ 262,50 por hectare. A produção prevista para o Paraná é de 9,4 milhões de toneladas, e a de Mato Grosso, 15,9 milhões.
"As porteiras do Centro-Oeste estão fechadas", diz Muraro. Com o câmbio no patamar atual e os novos custos trazidos pela ferrugem da soja, a produção se tornou inviável na região, afirma ele.
Essa perda é grande em Mato Grosso porque a sojicultura do Estado deve contabilizar quebra de cerca de 1 milhão de toneladas nesta safra, se comparado ao resultado de produtividade obtido na safra passada.
Com 90% da área plantada colhida, os números indicam que neste ciclo a média estadual ficará em 45 sacas por hectare, contra 48 na safra 2004/05. Esse rendimento será o pior desde a safra 95/96, quando a produtividade foi de 41 sacas por hectare.

Mais quebra
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos também refez os dados de safra de soja do Brasil e agora estima 57 milhões de toneladas, uma queda de 1,5 milhão em relação à previsão feita em março. Já a Conab recuou a estimativa para 55,7 milhões.
O governo norte-americano reduziu também as estimativas do volume a ser exportado pelo Brasil. A projeção caiu de 26 milhões para 25,5 milhões de toneladas.
O Usda manteve a produção argentina desta safra em 40,5 milhões de toneladas e a chinesa em 18,3 milhões. A norte-americana foi confirmada no recorde de 84 milhões.


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