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FMI aponta risco maior de turbulência para emergentes
Aumento da liquidez e sofisticação de operações de risco elevam perigo de crise
Mas, para Fundo, solidez no resultado das empresas e avanço macroeconômica na Europa e na Ásia podem atenuar riscos globais
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Os riscos de turbulências financeiras globais aumentaram
nos últimos meses. Em países
emergentes como o Brasil, há
"bolsões de risco" gerados pela
corrida de investidores internacionais a esses mercados,
que podem levar a valorizações
(ou quedas) acentuadas durante crises, segundo relatório do
FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgado ontem.
O FMI diz, porém, que o risco
maior ainda vem sendo neutralizado pela solidez dos resultados das corporações e pela melhora nos fundamentos dos países emergentes e de outras regiões, como União Européia e
Ásia -Japão em particular.
Mas o Fundo diz que a especulação financeira global tornou-se mais "criativa" e "arriscada". Investidores e empresas
estão muito capitalizados e
sem muitas opções tão seguras
quanto rentáveis para aplicar.
Com os juros pagos por papéis dos Tesouros das economias mais avançadas em um nível ainda baixo e com opções de
ganhos crescentes em novas
modalidades especulativas, investidores e empresas estão,
segundo o FMI, "relaxando padrões" e se arrojando mais.
O FMI diz que tanto o financiamento para fusões e aquisições de empresas quanto as
operações de fundos de investimentos estão cada vez mais
complexos. Isso poderia, em
caso de crise -que não se sabe
ao certo a origem-, provocar
reações em cadeia em vários
mercados.
"O cenário econômico mundial tem viabilizado um ambiente financeiro benigno, mas
os riscos aumentaram desde
setembro de 2006 e têm potencial para enfraquecer o atual
quadro de estabilidade", diz o
FMI no "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Ele aponta três áreas onde os
riscos estão concentrados:
1) O mercado de financiamentos imobiliários de alto risco ["subprime"] dos EUA
-14% do setor e que vem gerando apreensão desde que a
inadimplência bateu em 13,3%
no último trimestre de 2006;
2) Um forte aumento no volume de empréstimos (alavancagem) que empresas vêm tomando para financiar aquisições. Em 2006, essas compras
somaram US$ 3,6 trilhões, superando o recorde de 2000 que
antecedeu o estouro da "bolha
tecnológica" (que levou os EUA
a uma breve recessão), e;
3) Uma busca cada vez maior
por ganhos em ativos e juros
em economias emergentes
usando recursos levantados em
países onde o custo do dinheiro
(o juro) é menor. Na visão do
Fundo, isso estaria formando
"bolsões de risco" em vários
emergentes (como o Brasil).
"Apesar dos muitos ajustes
positivos que os emergentes
vêm fazendo, esses "bolsões de
risco" existem porque esses
mercados são ainda pequenos,
sem muita liquidez. Se há investidores demais ali, pode haver uma "indigestão", fazendo
aumentar muito os preços dos
ativos. Se, por qualquer motivo,
esses investidores tiverem de
deixar rapidamente o país, a volatilidade será grande", disse
Hung Tran, diretor-adjunto do
Departamento de Mercado de
Capitais do FMI.
Tran diz que foi exatamente
isso o que ocorreu no final de
fevereiro e nos meses de maio e
junho de 2006, quando os mercados financeiros, principalmente os emergentes, enfrentaram fortes oscilações.
Apesar dos alertas, o Fundo
pondera que há muitos fatores
positivos que tendem a atenuar
o risco de uma grande crise. Isso explicaria a brevidade das
recentes turbulências globais.
Entre eles, cita uma considerável melhora nos fundamentos de economias importantes
da UE e da Ásia e na maioria
dos emergentes. As empresas e
bancos também estão mais fortes e lucrativas.
Em caso de crise no mercado
ou em algum segmento, os países envolvidos tendem a ser
menos afetados do ponto de
vista macroeconômico -isso a
depender do tamanho e da duração da turbulência.
O Fundo pondera também
que os mecanismos de controle
e supervisão no mercado estão
cada vez mais sofisticados.
Mas a maior solidez e o excesso de dinheiro disponível
em busca de lucros maiores, segundo o Fundo, tendem a elevar o grau de sofisticação e risco das operações especulativas.
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