São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2007

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FMI aponta risco maior de turbulência para emergentes

Aumento da liquidez e sofisticação de operações de risco elevam perigo de crise

Mas, para Fundo, solidez no resultado das empresas e avanço macroeconômica na Europa e na Ásia podem atenuar riscos globais


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Os riscos de turbulências financeiras globais aumentaram nos últimos meses. Em países emergentes como o Brasil, há "bolsões de risco" gerados pela corrida de investidores internacionais a esses mercados, que podem levar a valorizações (ou quedas) acentuadas durante crises, segundo relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgado ontem.
O FMI diz, porém, que o risco maior ainda vem sendo neutralizado pela solidez dos resultados das corporações e pela melhora nos fundamentos dos países emergentes e de outras regiões, como União Européia e Ásia -Japão em particular.
Mas o Fundo diz que a especulação financeira global tornou-se mais "criativa" e "arriscada". Investidores e empresas estão muito capitalizados e sem muitas opções tão seguras quanto rentáveis para aplicar.
Com os juros pagos por papéis dos Tesouros das economias mais avançadas em um nível ainda baixo e com opções de ganhos crescentes em novas modalidades especulativas, investidores e empresas estão, segundo o FMI, "relaxando padrões" e se arrojando mais.
O FMI diz que tanto o financiamento para fusões e aquisições de empresas quanto as operações de fundos de investimentos estão cada vez mais complexos. Isso poderia, em caso de crise -que não se sabe ao certo a origem-, provocar reações em cadeia em vários mercados.
"O cenário econômico mundial tem viabilizado um ambiente financeiro benigno, mas os riscos aumentaram desde setembro de 2006 e têm potencial para enfraquecer o atual quadro de estabilidade", diz o FMI no "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Ele aponta três áreas onde os riscos estão concentrados:
1) O mercado de financiamentos imobiliários de alto risco ["subprime"] dos EUA -14% do setor e que vem gerando apreensão desde que a inadimplência bateu em 13,3% no último trimestre de 2006;
2) Um forte aumento no volume de empréstimos (alavancagem) que empresas vêm tomando para financiar aquisições. Em 2006, essas compras somaram US$ 3,6 trilhões, superando o recorde de 2000 que antecedeu o estouro da "bolha tecnológica" (que levou os EUA a uma breve recessão), e;
3) Uma busca cada vez maior por ganhos em ativos e juros em economias emergentes usando recursos levantados em países onde o custo do dinheiro (o juro) é menor. Na visão do Fundo, isso estaria formando "bolsões de risco" em vários emergentes (como o Brasil).
"Apesar dos muitos ajustes positivos que os emergentes vêm fazendo, esses "bolsões de risco" existem porque esses mercados são ainda pequenos, sem muita liquidez. Se há investidores demais ali, pode haver uma "indigestão", fazendo aumentar muito os preços dos ativos. Se, por qualquer motivo, esses investidores tiverem de deixar rapidamente o país, a volatilidade será grande", disse Hung Tran, diretor-adjunto do Departamento de Mercado de Capitais do FMI.
Tran diz que foi exatamente isso o que ocorreu no final de fevereiro e nos meses de maio e junho de 2006, quando os mercados financeiros, principalmente os emergentes, enfrentaram fortes oscilações.
Apesar dos alertas, o Fundo pondera que há muitos fatores positivos que tendem a atenuar o risco de uma grande crise. Isso explicaria a brevidade das recentes turbulências globais.
Entre eles, cita uma considerável melhora nos fundamentos de economias importantes da UE e da Ásia e na maioria dos emergentes. As empresas e bancos também estão mais fortes e lucrativas.
Em caso de crise no mercado ou em algum segmento, os países envolvidos tendem a ser menos afetados do ponto de vista macroeconômico -isso a depender do tamanho e da duração da turbulência.
O Fundo pondera também que os mecanismos de controle e supervisão no mercado estão cada vez mais sofisticados.
Mas a maior solidez e o excesso de dinheiro disponível em busca de lucros maiores, segundo o Fundo, tendem a elevar o grau de sofisticação e risco das operações especulativas.


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