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FMI vê o mundo entre o "gelo" e o "fogo"
Strauss-Kahn vê crescimento frio e inflação quente com conseqüências ainda imprevisíveis para a economia global
Fundo considera alta nos alimentos uma mudança estrutural que complica ainda mais o cenário de desaceleração da economia
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Entre gelo e fogo. Assim o diretor-gerente do FMI (Fundo
Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, define
a atual situação da economia
mundial. "Gelo para as expectativas de crescimento e fogo
para a inflação", resume.
A combinação desses opostos, afirma o francês, trará conseqüências ainda imprevisíveis
para a economia global.
Se, por um lado, os bancos
centrais poderiam ajudar na recuperação econômica baixando taxas de juro, por outro têm
à frente o desafio de conter a inflação. Para isso, têm de ir no
caminho oposto -como parece
querer o Banco Central do Brasil-, aumentando o juro e esfriando a economia.
O resultado de ações desse tipo combinadas em vários países para combater o "fogo" da
inflação tem potencial para aumentar a quantidade de "gelo"
e deprimir mais as economias.
"Estamos diante de um esfriamento sério e importante
da economia mundial a partir
de um crescimento de apenas
0,5% nos EUA neste ano, resultado das implicações da atual
crise financeira e, claro, do setor produtivo", disse ele.
No conjunto, o FMI prevê o
mundo crescendo 3,7% neste
ano (1,2 ponto percentual abaixo do ano passado). Já para os
países desenvolvidos, a expansão (1,3%) não deve chegar à
metade da de 2007.
"Por outro lado, há o risco da
inflação, que voltou refletindo
fatores estruturais e cíclicos. É
uma preocupação-chave. Só os
preços dos alimentos subiram
48% desde o final de 2006.
Uma enormidade", afirma o
chefe do FMI. "Não se trata de
um problema que vai durar
apenas um ou dois meses, mas
de algo estrutural."
A previsão do Fundo, de uma
inflação de 2,6% em 2008 entre
os países desenvolvidos, é a
maior em mais de dez anos. Já
entre as economias emergentes, a média estimada de 7,4%
será, se confirmada, a maior
desde 2001.
Já os benefícios que a globalização e o crescimento das exportações chinesas trouxeram
para o controle de preços no
mundo nos últimos anos chegaram ao fim. Se confirmada, a
inflação de 5,9% prevista para a
China e toda a Ásia emergente
em 2008 será a maior da década.
Isso sinalizaria o fim de um
longo período em que produtos
chineses e indianos, por exemplo, inundaram a preços baixos
vários países do mundo. A alta
da inflação vem justamente
desse ciclo que levou os emergentes a um patamar de crescimento maior e que demanda
mais alimentos, petróleo e matérias-primas -pressionando
os preços mundiais.
Além disso, a própria expansão dos emergentes (que neste
ano devem crescer, em média,
6,7%) vem levando a uma valorização de suas moedas e a mais
inflação. Ao exportar seus produtos para o resto do mundo,
especialmente para as economias avançadas, eles também
exportam esse aumento de preço.
"Esse quadro de gelo econômico e fogo inflacionário leva a
uma aversão geral ao risco",
disse Strauss-Kahn. "Nesse caso, haverá um aumento no custo de financiamentos e empréstimos a consumidores. E, possivelmente, uma interrupção
abrupta ou queda acentuada do
fluxo de capitais para os emergentes."
Entre os principais afetados
por uma reação desse tipo, o
francês Strauss-Kahn citou especificamente a região que fica
"ao sul dos EUA", a América
Latina.
(FERNANDO CANZIAN)
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