São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FMI vê o mundo entre o "gelo" e o "fogo"

Strauss-Kahn vê crescimento frio e inflação quente com conseqüências ainda imprevisíveis para a economia global

Fundo considera alta nos alimentos uma mudança estrutural que complica ainda mais o cenário de desaceleração da economia

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Entre gelo e fogo. Assim o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, define a atual situação da economia mundial. "Gelo para as expectativas de crescimento e fogo para a inflação", resume.
A combinação desses opostos, afirma o francês, trará conseqüências ainda imprevisíveis para a economia global.
Se, por um lado, os bancos centrais poderiam ajudar na recuperação econômica baixando taxas de juro, por outro têm à frente o desafio de conter a inflação. Para isso, têm de ir no caminho oposto -como parece querer o Banco Central do Brasil-, aumentando o juro e esfriando a economia.
O resultado de ações desse tipo combinadas em vários países para combater o "fogo" da inflação tem potencial para aumentar a quantidade de "gelo" e deprimir mais as economias.
"Estamos diante de um esfriamento sério e importante da economia mundial a partir de um crescimento de apenas 0,5% nos EUA neste ano, resultado das implicações da atual crise financeira e, claro, do setor produtivo", disse ele.
No conjunto, o FMI prevê o mundo crescendo 3,7% neste ano (1,2 ponto percentual abaixo do ano passado). Já para os países desenvolvidos, a expansão (1,3%) não deve chegar à metade da de 2007.
"Por outro lado, há o risco da inflação, que voltou refletindo fatores estruturais e cíclicos. É uma preocupação-chave. Só os preços dos alimentos subiram 48% desde o final de 2006. Uma enormidade", afirma o chefe do FMI. "Não se trata de um problema que vai durar apenas um ou dois meses, mas de algo estrutural."
A previsão do Fundo, de uma inflação de 2,6% em 2008 entre os países desenvolvidos, é a maior em mais de dez anos. Já entre as economias emergentes, a média estimada de 7,4% será, se confirmada, a maior desde 2001.
Já os benefícios que a globalização e o crescimento das exportações chinesas trouxeram para o controle de preços no mundo nos últimos anos chegaram ao fim. Se confirmada, a inflação de 5,9% prevista para a China e toda a Ásia emergente em 2008 será a maior da década.
Isso sinalizaria o fim de um longo período em que produtos chineses e indianos, por exemplo, inundaram a preços baixos vários países do mundo. A alta da inflação vem justamente desse ciclo que levou os emergentes a um patamar de crescimento maior e que demanda mais alimentos, petróleo e matérias-primas -pressionando os preços mundiais.
Além disso, a própria expansão dos emergentes (que neste ano devem crescer, em média, 6,7%) vem levando a uma valorização de suas moedas e a mais inflação. Ao exportar seus produtos para o resto do mundo, especialmente para as economias avançadas, eles também exportam esse aumento de preço.
"Esse quadro de gelo econômico e fogo inflacionário leva a uma aversão geral ao risco", disse Strauss-Kahn. "Nesse caso, haverá um aumento no custo de financiamentos e empréstimos a consumidores. E, possivelmente, uma interrupção abrupta ou queda acentuada do fluxo de capitais para os emergentes."
Entre os principais afetados por uma reação desse tipo, o francês Strauss-Kahn citou especificamente a região que fica "ao sul dos EUA", a América Latina.
(FERNANDO CANZIAN)


Texto Anterior: Sob suspeita, Argentina divulga alta de 1,1%
Próximo Texto: Governo dos EUA descartou monitoramento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.