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Crise estimula escambo entre empresas
Redes que gerenciam troca de produtos e serviços esperam crescer até 50% em 2009, beneficiadas pela escassez de crédito
Permutas movimentaram mais de R$ 40 milhões no país em 2008; dificuldade de planejar gastos com moeda virtual é maior empecilho
RENATO ESSENFELDER
DA REDAÇÃO
Créditos, Únicos, Unidades
de Permuta. Com a escassez e
consequente encarecimento
das linhas de financiamento
em reais, empresários têm recorrido a essas e outras moedas
virtuais e a uma das práticas
mais antigas de negociação, o
escambo, como forma de desovar estoques, viabilizar investimentos e não comprometer a
saúde do fluxo de caixa.
O princípio dessas permutas
segue o modelo milenar: troca
de produtos ou serviços entre
empresas (veja quadro). Aparece, contudo, modernizado pela
criação de redes multilaterais,
em que moedas virtuais fazem
a intermediação entre empresários e abrem a possibilidade
de acumular créditos para investimentos vultosos.
Estimuladas pela crise global, as maiores redes de troca
do país estimam crescer entre
30% e 50% neste ano.
"Em dezembro, dobrou a
procura de empresas interessadas em aderir à rede. Elas comentavam que estavam em
busca de alternativas de negócios diante da crise. Os valores
movimentados no sistema
também aumentaram significativamente, cerca de 40%",
afirma Marco Del Giudice, diretor comercial da Tradaq, a
maior rede de trocas do país.
A Tradaq é um caso incomum de empresa que reviu para cima sua projeção de crescimento após o auge da crise, em
setembro passado. Agora estima chegar ao final deste ano até
40% maior. Com sua moeda
virtual, o Único, movimentou
no ano passado R$ 24 milhões
em produtos e serviços.
Um caso real é narrado por
Ana Lúcia Butolo, gerente da
fabricante e vendedora de móveis Armando Cerello, em São
Paulo. A marca é associada à
Tradaq desde o início da rede,
no ano 2000.
Sua maior operação até agora
foi para a compra de mil catálogos de uma gráfica associada ao
clube. Para acumular os créditos necessários, ofertou mesas,
cadeiras, sofás. "A vantagem é
não precisar dispor do capital
de giro e comprar usando a própria margem de lucro dos nossos produtos. Assim, acabamos
gastando menos", diz.
No setor de serviços o intercâmbio é ainda mais forte, porque, ao contrário do que ocorre
com mercadorias, não é possível estocar tempo ocioso para
usar quando houver demanda.
"Ocupar a disponibilidade é interessante porque a "mercadoria" já está lá, não precisa ser
produzida. O gasto com água,
luz, serviços é mínimo", conta o
diretor de operações da Ábaco,
que administra os hotéis Howard Johnson e Astron, Carlos
Alberto de Carvalho.
Na maior operação de permuta que já fez até hoje, Carvalho trocou diárias de hotel por
45 colchões, que custariam
mais de R$ 30 mil em espécie.
"Mas também não vejo a permuta como uma panaceia que
resolve tudo. Não dá para planejar resolver a sua vida só com
trocas, você nunca sabe quando
haverá um produto ou serviço
que realmente interesse à disposição na rede. Por isso, se encontrar um comprador que me
dê R$ 1 pelo meu serviço, não
trocaria isso por um crédito de
permuta", pondera.
O hotel Howard Johnson integra a rede Permute. Criada
em 2003, possui 600 associados e movimentou em 2008 R$
9 milhões em negócios. "Encerramos o primeiro trimestre
deste ano com crescimento de
25% em afiliados e em operações em relação ao ano passado", conta Nádia Nunes, diretora da Permute, que espera crescer 30% neste ano.
"Com a crise, tem nos surpreendido empresas que antes
não demonstravam interesse
por permutas, como as do setor
energético", completa.
Mais nova, mas também com
expectativa de forte crescimento, a Prorede começou a operar
em 2004 no Rio e hoje tem 400
associados, movimentou R$ 8
milhões no ano passado e espera elevar esse valor em 50%
neste ano. Mas lá a crise não é
vista como especial alavanca de
negócios. "Não mudamos nossa
projeção em razão da crise, porque, ao mesmo tempo que ela
gera oportunidades de negócio,
somos afetados, como todo o
mercado, por uma certa paralisia na tomada de decisões [de
potenciais sócios]", conta Márcio Lerner, diretor-executivo.
Dentro da Prorede, e em clubes de permuta em geral, os
serviços mais requisitados são
ligados a mídia e marketing (inserção de anúncios, brindes,
impressão de material gráfico).
Para aumentar as possibilidades de contatos e negócios,
várias empresas aderem a mais
de uma rede de permuta, já que
não há exigência de exclusividade. A fabricante de bebidas
Globalbev, por exemplo, é ligada à Permute, à Tradaq e à Prorede. Luciana Bruzzi, gerente
de marketing da indústria, conta que, ao se deparar com uma
necessidade de investimento
(como uma reforma), começa
sua pesquisa pelas redes de troca. "Depois cotamos com pagamento em dinheiro e fazemos a
comparação de preços."
As trocas, afinal, têm um custo, e não só logístico. As redes
cobram comissões sobre as
operações, que vão de 4% a
14%. Como há efetiva venda de
produtos -ainda que por créditos ficcionais-, é preciso também recolher impostos. E, se
você estiver com a carteira recheada de créditos, terá de esperar o surgimento de um produto ou serviço interessante.
Em nenhuma hipótese as redes
aceitam converter moeda virtual em dinheiro vivo.
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