São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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ANÁLISE

País precisa definir foco, dizem especialistas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Não ter estratégia sempre foi a estratégia do Brasil para o comércio internacional, segundo especialistas.
Funcionaria mais ou menos assim: as commodities agrícolas e metálicas seguram a balança; no que diz respeito às mercadorias industrializadas, tudo depende de para onde os ventos sopram -quando o mercado doméstico está aquecido, a ele são dedicados todos os esforços, mas, se a demanda interna vai mal, toca separar uma parte da produção e bater na porta de outros países para tentar vender alguma coisa.
Em 2009, com a maior crise mundial em 80 anos, tal lógica continuou dando certo. Porém, o Brasil é chamado à maioridade e à definição do equilíbrio entre itens básicos e sofisticados na pauta de exportações.
É preciso aproveitar o que de melhor cada setor pode oferecer, dizem os especialistas. "O Brasil é muito competente na utilização de tecnologia na agropecuária. A certo ponto, entretanto, vai se perguntar se é isso mesmo o que deseja em termos de crescimento", diz Jan Kregel, professor da Universidade do Missouri, nos EUA, e ex-economista-sênior da Unctad, ligada à ONU.
Segundo ele, a China não vai ser infinitamente importadora de matérias-primas, "embora no momento esteja pedindo que o Brasil abdique de se industrializar para ser um eterno fornecedor de básicos".
O pesquisador também argumenta que a agricultura e a mineração não geram postos de trabalho suficientes. E que o Brasil tem um excesso de mão de obra nas áreas urbanas e particularmente no interior.
Para ele, a indústria, que cria mais empregos por volume produzido, pode ganhar um grande impulso se as oportunidades de exportação forem mais bem exploradas pelo país.
"O Brasil pode pensar em desenvolver a sua manufatura apoiando-se majoritariamente no mercado interno. Daí, haja transferência de renda. O Fome Zero e o Bolsa Família apenas diminuem o problema."
Kregel afirma que "a verdade" é que o país não está proporcionando oportunidades para que essa parte da população seja autossuficiente.
"É um buraco na filosofia brasileira de desenvolvimento", diz Kregel.
O modelo adotado por outras nações que emergiram, por exemplo a Coreia do Sul, e mesmo pelas que há tempos fazem parte do grupo das gigantes globais, como o Japão e a Alemanha, combina o investimento na demanda doméstica e nas exportações.


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