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DIAS DE TENSÃO
Mercado futuro já projeta elevação dos juros básicos no segundo semestre; Bolsas caem no mundo todo
Dólar vai a R$ 3,14; mercado já vê alta da Selic
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil foi atingido ontem por
mais um dia de deterioração dos
mercados financeiros internacionais. O dólar comercial disparou
2,55% e fechou vendido a R$ 3,14,
sua maior cotação desde abril do
ano passado. O risco-país subiu
6,18% e fechou em 808 pontos. A
Bovespa teve queda de 5,46%, sua
segunda maior baixa do ano.
A crise de ontem foi provocada
pelos mesmos fatores que afetaram os mercados financeiros global e doméstico nas últimas semanas: a crescente expectativa de
que os juros nos EUA sejam elevados já no próximo mês, a alta do
preço do petróleo e o temor de
que sejam anunciadas novas medidas para conter o superaquecimento econômico da China.
As Bolsas pelo mundo sofreram
expressivas quedas. O índice Dow
Jones (Nova York) caiu 1,26% e
fechou abaixo dos 10 mil pontos
pela primeira vez no ano. Tóquio
recuou 4,84%, o maior tombo
desde o 11 de Setembro.
Com a piora do cenário, bancos
e empresas já duvidam de que o
Banco Central consiga fazer avançar sua política de corte gradual
de juros. Ao contrário, já começaram a se preparar, no mercado futuro, para uma eventual elevação
da Selic no segundo semestre.
Nesse clima adverso, o Tesouro
Nacional cancelou antecipadamente o leilão de títulos públicos
que faria hoje. Essa decisão não
era adotada desde agosto de 2003.
O presidente do BC, Henrique
Meirelles, disse que a alta do dólar
não preocupa e negou que tenha
intenção de intervir no mercado.
"Nós acreditamos que os fundamentos da economia brasileira
são hoje muito sólidos", disse.
Juro em alta
Na BM&F, as taxas de juros futuros -usadas como instrumento de planejamento pelas grandes
empresas- dispararam.
No contrato DI (que acompanha os juros) mais negociado,
com vencimento na virada do
ano, a taxa saltou de 15,87% para
16,96%. Hoje a taxa básica (Selic)
é de 16% anuais. Esse contrato
sempre teve taxa abaixo da Selic
vigente no período.
"O mercado passou a projetar
elevação da Selic no segundo semestre. Até sexta, havia dúvidas
de que isso viesse a ocorrer", diz
Paulo Gomes, estrategista da consultoria Global Invest.
Todos os contratos DI com vencimento de setembro para a frente
fecharam com taxa acima da atual
Selic. No DI com prazo em abril
de 2005, a taxa foi de 16,19% na
sexta para 17,50% ontem.
José Antonio Gragnani, secretário-adjunto do Tesouro Nacional,
disse que, no atual ambiente de
volatilidade, não é possível vender
títulos porque os investidores teriam dificuldades de "precificar"
os papéis. Ou seja, há dificuldade
em formar um consenso em torno das taxas de correção.
Gragnani disse que o mercado
"extrapolou" ao subir o risco-país
para mais de 800 pontos.
Para a reunião do Comitê de Política Monetária da próxima semana, o mercado ainda projeta a
possibilidade de a Selic cair 0,25
ponto. Mas há instituições que dizem já não ser mais coerente o BC
reduzir juros neste momento.
"Não vejo espaço para cortes de
juros neste momento. O mercado
já trabalha com um nível de crise", afirma Alexandre Póvoa, economista-chefe do banco Modal.
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