São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Mercado futuro já projeta elevação dos juros básicos no segundo semestre; Bolsas caem no mundo todo

Dólar vai a R$ 3,14; mercado já vê alta da Selic

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil foi atingido ontem por mais um dia de deterioração dos mercados financeiros internacionais. O dólar comercial disparou 2,55% e fechou vendido a R$ 3,14, sua maior cotação desde abril do ano passado. O risco-país subiu 6,18% e fechou em 808 pontos. A Bovespa teve queda de 5,46%, sua segunda maior baixa do ano.
A crise de ontem foi provocada pelos mesmos fatores que afetaram os mercados financeiros global e doméstico nas últimas semanas: a crescente expectativa de que os juros nos EUA sejam elevados já no próximo mês, a alta do preço do petróleo e o temor de que sejam anunciadas novas medidas para conter o superaquecimento econômico da China.
As Bolsas pelo mundo sofreram expressivas quedas. O índice Dow Jones (Nova York) caiu 1,26% e fechou abaixo dos 10 mil pontos pela primeira vez no ano. Tóquio recuou 4,84%, o maior tombo desde o 11 de Setembro.
Com a piora do cenário, bancos e empresas já duvidam de que o Banco Central consiga fazer avançar sua política de corte gradual de juros. Ao contrário, já começaram a se preparar, no mercado futuro, para uma eventual elevação da Selic no segundo semestre.
Nesse clima adverso, o Tesouro Nacional cancelou antecipadamente o leilão de títulos públicos que faria hoje. Essa decisão não era adotada desde agosto de 2003.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que a alta do dólar não preocupa e negou que tenha intenção de intervir no mercado. "Nós acreditamos que os fundamentos da economia brasileira são hoje muito sólidos", disse.

Juro em alta
Na BM&F, as taxas de juros futuros -usadas como instrumento de planejamento pelas grandes empresas- dispararam.
No contrato DI (que acompanha os juros) mais negociado, com vencimento na virada do ano, a taxa saltou de 15,87% para 16,96%. Hoje a taxa básica (Selic) é de 16% anuais. Esse contrato sempre teve taxa abaixo da Selic vigente no período.
"O mercado passou a projetar elevação da Selic no segundo semestre. Até sexta, havia dúvidas de que isso viesse a ocorrer", diz Paulo Gomes, estrategista da consultoria Global Invest.
Todos os contratos DI com vencimento de setembro para a frente fecharam com taxa acima da atual Selic. No DI com prazo em abril de 2005, a taxa foi de 16,19% na sexta para 17,50% ontem.
José Antonio Gragnani, secretário-adjunto do Tesouro Nacional, disse que, no atual ambiente de volatilidade, não é possível vender títulos porque os investidores teriam dificuldades de "precificar" os papéis. Ou seja, há dificuldade em formar um consenso em torno das taxas de correção.
Gragnani disse que o mercado "extrapolou" ao subir o risco-país para mais de 800 pontos.
Para a reunião do Comitê de Política Monetária da próxima semana, o mercado ainda projeta a possibilidade de a Selic cair 0,25 ponto. Mas há instituições que dizem já não ser mais coerente o BC reduzir juros neste momento.
"Não vejo espaço para cortes de juros neste momento. O mercado já trabalha com um nível de crise", afirma Alexandre Póvoa, economista-chefe do banco Modal.


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