São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Governo temeu que taxas de juros pedidas fossem muito altas

Tesouro cancela o leilão de títulos

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Tesouro Nacional cancelou na tarde de ontem o leilão de títulos públicos que faria hoje. Desde agosto do ano passado, período de tensão devido às disputas em torno da reforma da Previdência, o governo não cancelava antecipadamente um leilão desse tipo.
O secretário-adjunto do Tesouro José Antonio Gragnani afirmou que a desistência de realizar os leilões de títulos de hoje foi devido à volatilidade atual do mercado. Para ele, o mercado financeiro já "extrapolou" ao subir o risco-país acima dos 800 pontos (ontem fechou em 808 pontos).
Na terça-feira da semana passada, o Tesouro recusou todas as propostas feitas pelas instituições financeiras e não vendeu nenhuma LTN (Letra do Tesouro Nacional, títulos prefixados) ofertada.
Gragnani disse que, no atual ambiente de volatilidade, não é possível vender títulos porque os investidores teriam dificuldades de "precificar" os papéis. Ou seja, há dificuldade em formar um consenso em torno das taxas de correção. Estavam previstos leilões hoje que ajudariam o Tesouro a resgatar cerca de R$ 31,6 bilhões que estão vencendo na semana que vem. "Temos o equivalente a três meses de vencimentos em caixa, o que é suficiente para aguardar a diminuição da volatilidade", afirmou.
A Folha apurou que o cancelamento do leilão de hoje obedeceu a razões técnicas. Normalmente, o Tesouro só deixa de vender papéis se as taxas oferecidas forem muito diferentes entre si. Ou seja, se não houver um consenso no mercado sobre os preços. Mas agora o governo não quer vender para não aumentar a volatilidade, sancionando as taxas pedidas pelos investidores.

Mercado turbulento
Para Gragnani, a turbulência está mais ligada à possibilidade de alta das taxas de juros norte-americanas que a questões internas.
Segundo o secretário, a possibilidade de aumento dos juros nos EUA tem um efeito mais amplo que as crises vividas por países isolados como foi a do México em 1995 e a da Rússia em 1998.
Também contribuiu para o cancelamento dos leilões de hoje o objetivo de evitar novas expectativas negativas caso o Tesouro tivesse que rejeitar as taxas de juros pedidas pelos investidores. As taxas têm sido muito altas.
"Os mercados globalizados são muitos líquidos e, em geral, pintam o diabo [aumento dos juros nos EUA] com cores mais fortes, exageram", disse o ministro do Planejamento, Guido Mantega.
Segundo ele, "o pior [para o Brasil] pode estar sendo agora". Mantega afirmou ainda: "Hoje o Brasil está mais preparado para lidar com as turbulências. Há um ano estaríamos perdidos".

Palocci não fala
Procurado por meio da assessoria de imprensa, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) não quis se manifestar sobre as turbulências no mercado financeiro.
Na semana passada, o Tesouro recomprou cerca de R$ 3,3 bilhões em títulos públicos pós-fixados (LFTs, Letras Financeiras do Tesouro Nacional) entre quarta e sexta-feira. Os papéis, com prazo de vencimento entre 2007 e 2009, foram recomprados porque seus valores vinham caindo muito no mercado.
A operação ajudou a evitar que fundos de investimento, que têm em suas carteiras esses títulos, sofressem perdas e alimentassem os saques pelos investidores.
O vencimento de LFTs até o final deste mês soma R$ 32 bilhões. Até dezembro, esse volume é de R$ 115,5 bilhões, segundo dados da Fazenda. No mesmo período de 2003, o vencimento de LFTs somou R$ 141,5 bilhões.


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