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DIAS DE TENSÃO
Governo temeu que taxas de juros pedidas fossem muito altas
Tesouro cancela o leilão de títulos
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tesouro Nacional cancelou
na tarde de ontem o leilão de títulos públicos que faria hoje. Desde
agosto do ano passado, período
de tensão devido às disputas em
torno da reforma da Previdência,
o governo não cancelava antecipadamente um leilão desse tipo.
O secretário-adjunto do Tesouro José Antonio Gragnani afirmou que a desistência de realizar
os leilões de títulos de hoje foi devido à volatilidade atual do mercado. Para ele, o mercado financeiro já "extrapolou" ao subir o
risco-país acima dos 800 pontos
(ontem fechou em 808 pontos).
Na terça-feira da semana passada, o Tesouro recusou todas as
propostas feitas pelas instituições
financeiras e não vendeu nenhuma LTN (Letra do Tesouro Nacional, títulos prefixados) ofertada.
Gragnani disse que, no atual
ambiente de volatilidade, não é
possível vender títulos porque os
investidores teriam dificuldades
de "precificar" os papéis. Ou seja,
há dificuldade em formar um
consenso em torno das taxas de
correção. Estavam previstos leilões hoje que ajudariam o Tesouro a resgatar cerca de R$ 31,6 bilhões que estão vencendo na semana que vem. "Temos o equivalente a três meses de vencimentos
em caixa, o que é suficiente para
aguardar a diminuição da volatilidade", afirmou.
A Folha apurou que o cancelamento do leilão de hoje obedeceu
a razões técnicas. Normalmente,
o Tesouro só deixa de vender papéis se as taxas oferecidas forem
muito diferentes entre si. Ou seja,
se não houver um consenso no
mercado sobre os preços. Mas
agora o governo não quer vender
para não aumentar a volatilidade,
sancionando as taxas pedidas pelos investidores.
Mercado turbulento
Para Gragnani, a turbulência está mais ligada à possibilidade de
alta das taxas de juros norte-americanas que a questões internas.
Segundo o secretário, a possibilidade de aumento dos juros nos
EUA tem um efeito mais amplo
que as crises vividas por países
isolados como foi a do México em
1995 e a da Rússia em 1998.
Também contribuiu para o cancelamento dos leilões de hoje o
objetivo de evitar novas expectativas negativas caso o Tesouro tivesse que rejeitar as taxas de juros
pedidas pelos investidores. As taxas têm sido muito altas.
"Os mercados globalizados são
muitos líquidos e, em geral, pintam o diabo [aumento dos juros
nos EUA] com cores mais fortes,
exageram", disse o ministro do
Planejamento, Guido Mantega.
Segundo ele, "o pior [para o
Brasil] pode estar sendo agora".
Mantega afirmou ainda: "Hoje o
Brasil está mais preparado para lidar com as turbulências. Há um
ano estaríamos perdidos".
Palocci não fala
Procurado por meio da assessoria de imprensa, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) não
quis se manifestar sobre as turbulências no mercado financeiro.
Na semana passada, o Tesouro
recomprou cerca de R$ 3,3 bilhões em títulos públicos pós-fixados (LFTs, Letras Financeiras
do Tesouro Nacional) entre quarta e sexta-feira. Os papéis, com
prazo de vencimento entre 2007 e
2009, foram recomprados porque
seus valores vinham caindo muito no mercado.
A operação ajudou a evitar que
fundos de investimento, que têm
em suas carteiras esses títulos, sofressem perdas e alimentassem os
saques pelos investidores.
O vencimento de LFTs até o final deste mês soma R$ 32 bilhões.
Até dezembro, esse volume é de
R$ 115,5 bilhões, segundo dados
da Fazenda. No mesmo período
de 2003, o vencimento de LFTs
somou R$ 141,5 bilhões.
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