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ARTIGO
Recuperação em risco
PHILIP COGGAN
DO "FINANCIAL TIMES"
Subitamente, a recuperação
mundial nos mercados de
ações parece estar encontrando
problemas. Ontem, dois indicadores simbólicos foram notados:
os contratos futuros do Dow Jones caíram para a marca dos 10
mil pontos, enquanto as ações
asiáticas sofriam sua maior perda
diária desde os ataques terroristas
contra os Estados Unidos, em 11
de setembro de 2001.
Não é difícil detectar as causas
imediatas. Primeiro, os números
sobre as folhas de pagamento
não-agrícolas confirmaram que
os EUA já não estão enfrentando
uma recuperação sem emprego.
Os economistas se apressaram a
antecipar sua estimativa quanto
aos primeiros aumentos de juros
pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), de
agosto para junho. Ao mesmo
tempo, o petróleo está oscilando
em torno da marca dos US$ 40
por barril, um reflexo do tumulto
no Oriente Médio (ainda que tenha caído ontem pela manhã devido a indicações de que a Arábia
Saudita elevaria sua produção).
Há quem alegue que os mercados não deveriam se preocupar
com nenhum dos desdobramentos. Os juros norte-americanos,
dizem, são um sinal do poderio
econômico do país; o Fed estaria
simplesmente devolvendo os juros ao patamar "normal". O petróleo já não é significativo para a
economia quanto nos anos 70.
Mas é evidente que muitos investidores não estão tão confiantes. A razão para o desânimo deve
ser o fato de que, após se preocuparem com a deflação por anos,
agora subitamente é preciso que
voltem suas atenções à inflação.
Os indícios, no entanto, dificilmente podem ser considerados
como decisivos. O comportamento dos bônus de dez anos do Tesouro norte-americano decerto
merece atenção, depois da alta de
um ponto nas semanas recentes.
Mas o ouro, um tradicional refúgio contra a inflação, caiu mais de
US$ 40 a onça-troy ao longo do
mesmo período. E, de fato, os preços das demais commodities também se desaceleraram de maneira
significativa, após uma longa alta.
Fuga
Em lugar disso, os recentes movimentos de mercado se parecem
mais com uma fuga das posições
especulativas financiadas por empréstimos captados em dólares
norte-americanos. Ao longo de
boa parte do ano passado, os investimentos de risco pareciam excelentes. Era possível tomar empréstimos com juros anuais de
1%, em uma moeda cuja taxa de
câmbio estava em queda, e adquirir ou ativos de alto rendimento
(títulos corporativos, papéis de
mercados emergentes) ou ativos
que encontravam rápida valorização de preços (ouro e outras commodities, ações de tecnologia).
As suposições que embasavam
essas transações estão sendo negadas agora. Os juros dos EUA
devem subir, o dólar se recuperou, o boom na China (que ajudava a estimular os mercados de
commodities) talvez se desacelere. À medida que os especuladores reduzem suas posições (por
exemplo, recomprando os dólares necessários a cobrir seus empréstimos), cresce o ímpeto nessa
direção.
Situação complicada
A situação não é tão simples
quanto a procura de um refúgio
seguro, porque os preços dos papéis do Tesouro norte-americano
estão caindo. É claro que tomar
empréstimos a juros de 1% para
investir em bônus com rendimento de 4% era uma jogada especulativa clássica. Essas posições
agora precisarão ser liquidadas.
Mas existem elementos relacionados à busca de refúgio seguro
nos movimentos recentes de mercado. A State Street, gigante mundial do setor custódia, registrou
nos últimos meses a mais acentuada alta de influxos para os setores defensivos (como tabaco e
bebidas) dos últimos oito anos.
Enquanto os operadores reorientam suas carteiras apressadamente, alguém, em algum lugar,
está perdendo, e muito.
Um olhar cauteloso na direção
da comunidade de fundos de hedge e nos balancetes trimestrais
dos bancos de investimentos será
muito necessário.
Tradução de
Paulo Migliacci
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