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Proposta gera dúvidas
até dentro da Europa
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Anunciada com entusiasmo pela União Européia, a proposta de
eliminar todos os subsídios à exportação para fazer avançar a Rodada Doha não encontrou consenso nem mesmo entre os países-membros do bloco.
O ministério de Economia e Finanças da França emitiu nota na
qual afirma ter "dúvidas" com relação à "pertinência de uma iniciativa que leva a UE a mostrar
novas flexibilidades sem que exista nenhum sinal da parte de nossos parceiros que acene com a
possibilidade de haver [o cumprimento das] contrapartidas pedidas pela Comissão Européia".
O governo da Finlândia também considerou "excessiva" a
oferta de fim das ajudas para as
exportações.
A ministra da Agricultura alemã, Renate Künast, afirmou que a
proposta da UE surge "no momento certo". Opinião semelhante foi emitida pela representante
britânica, Margarett Beckett, para
quem a oferta é um bom documento para discussão.
A chamada Rodada Doha foi
lançada em 2001 durante encontro da OMC (Organização Mundial do Comércio) no Qatar. O objetivo era iniciar ciclo de liberalização comercial. A data prevista
para o fim das negociações é janeiro de 2005, mas impasses nas
discussões relativas a subsídios
agrícolas têm emperrado o avanço da rodada.
Segundo Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Produção e
Comercialização do Ministério da
Agricultura, a proposta é "um
passo importante" para desbloquear a agenda da OMC. "A
União Européia exporta açúcar,
carne e leite com subsídios. Esses
produtos são de grande interesse
para o Brasil", avaliou. "Essa era
uma mudança que precisava
ocorrer", disse.
Marcos Jank, presidente do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais), tem uma visão mais cética
da proposta. "É um avanço muito
pequeno. Essa proposta não vai
refrescar a discussão dos temas
que interessam ao Brasil", disse.
O especialista em comércio exterior enfatiza que a oferta da UE
não toca nos dois pontos principais do pleito brasileiro: acesso a
mercados e subsídios à produção
interna.
Para Jank, o ponto mais grave é
a diferença no tratamento oferecido para os países do G20 (entre
eles o Brasil) e os do G90 (os mais
pobres). "Essa é uma tendência
forte e perigosa. Pode punir os
países emergentes mais importantes, como Brasil e Índia."
Com agências internacionais
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