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CÂMBIO
Industriais reclamam medidas para conter a valorização da moeda
Real volta a ser tão forte quanto em 1999, diz estudo
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os produtos brasileiros exportados para o EUA perderam praticamente toda a competitividade
conquistada com a desvalorização do real em 1999. Em 2005, o
índice de competitividade para os
EUA era exatamente o mesmo do
último ano antes da desvalorização, 1998.
A situação para quem exporta
para a Europa não é tão ruim por
conta da valorização do euro. Mas
ainda assim, o real forte comeu
boa parte da competitividade do
câmbio. 2005 só não perde para
1998, último ano de câmbio administrado.
Por enquanto, as exportações
seguem crescendo. Mas esse vigor
não mostra que o câmbio está no
nível correto, mas é apenas reflexo do baixo crescimento do país
frente a uma economia mundial
aquecida e com preços em alta,
diz Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas e do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). "Nosso superávit comercial é feito de
um diferencial de crescimento entre nossa economia e a mundial."
"Não é verdade que a moeda
brasileira flutua porque o câmbio
flutua. Aqui o câmbio flutua mais.
Nossa valorização é especialmente forte", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
O instituto divulgou ontem estudo em que calcula índices de competitividade dos produtos brasileiros para os dois principais mercados do Brasil -Europa e EUA.
Diferentemente de estudos divulgados até agora, ele não calcula
uma taxa de câmbio real para a
economia brasileira.
O Iedi, em parceria com a Funcex, calculou um índice para cada
um dos dois mercados e para 18
diferentes setores. Os resultados
são bastante similares. Apesar de
alguns setores sofrerem relativamente mais que outros, todos
perderam grande parte da competitividade cambial ganha a partir da desvalorização de 1999.
"Existe uma certa inércia da
economia e dos contratos", diz
Décio da Silva, presidente da
Weg, que participou da divulgação do estudo. Ele diz que, apesar
de não haver ainda sinais de queda das vendas externas, a indústria já sofre com o real forte.
Os empresários dizem que a
perda de empregos no Brasil por
conta da moeda forte é inevitável.
Por um lado, há o incentivo para
substituir insumos produzidos
aqui pelos importados. Por outro,
a própria Weg, por exemplo, faz
investimentos para produzir em
suas plantas no exterior peças ou
componentes que deixarão de ser
elaborados no país.
José Antônio Fernandes Martins, vice-presidente corporativo
da Marcopolo, maior produtora
mundial de ônibus, também vê
impactos negativos que ainda não
apareceram na pauta de exportação. "Há uma desindustrialização
causada pela política predatória
de câmbio", diz, referindo-se à
transferência de produção para
plantas fora do Brasil.
"É a única maneira de sobreviver. Em vez de gerar mais empregos aqui, vamos criar empregos lá
fora."
Paulo Francini, diretor da Fiesp,
faz questão de salientar o fato de
que todas as empresas participantes do lançamento do estudo serem grandes exportadores, além
de atuarem no mercado internacional, com plantas em vários países. "Nós trouxemos campeões, e
os campeões dizem que está difícil. Estamos assistindo a um processo de destruição. Sabemos o
preço que isso acarretará", disse,
referindo-se à sobrevalorização
do câmbio antes de 1999.
Gomes da Silva usou até o
exemplo argentino, insinuando o
tamanho da destruição. "Muitos
se admiram de o Brasil ter superávit com a Argentina. A economia
e a indústria argentina foram destruídas por uma década de sobrevalorização do câmbio", disse.
Exaltados em vários momentos,
os empresários cobraram mudanças que estanquem o movimento de valorização do câmbio.
Lembraram que o Brasil tem uma
das mais valorizadas moedas do
mundo. Desde 2000, a taxa de
câmbio real efetiva, cujo cálculo
considera os preços e o câmbio
das várias economias com as
quais os países têm relação comercial, valorizou-se 30% no caso
brasileiro. Todos cobraram uma
postura mais enérgica do governo
na redução da taxa de juros que,
dizem, alimenta parte da valorização do real ao segurar a economia
e atrair dólares especulativos. "A
única saída é normalizar os juros,
voltar a crescer. Para importar
mais, temos que crescer mais",
diz Gomes da Silva.
Os grandes exportadores podem até não sofrer queda nos lucros por conta da perda de competitividade cambial, dizem eles,
mas os ganhos com as exportações são menos representativos.
Silva, da Weg, lembra que os juros
altos também trazem ganhos à
empresas. Ganhos financeiros
aparecem cada vez mais nos balanços. "Eles representaram 50%
do lucro [no primeiro trimestre]",
diz Walter Fontana, da Sadia.
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