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MOEDA FORTE
Setores calçadista e de carros reclamam queda do real, e Marinho vê "choradeira'; BNDES pode dar mais crédito a exportação
Sob pressão, governo descarta mudar câmbio
SHEILA D'AMORIM
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado pelo setor produtivo a promover ajustes na taxa de
câmbio, o governo se manteve inflexível e descartou mudanças na
política atual. Também deixou
claro que não adotará medidas
para aliviar a carga tributária de
setores em dificuldade, mas acenou com mais dinheiro do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar exportações.
Em duas reuniões que aconteceram quase ao mesmo tempo em
ministérios diferentes, representantes dos setores calçadista e automotivo ouviram um "não" a
propostas de desvalorização do
real para estimular exportações.
"Os calçadistas ouviram não, e
as montadoras, também. Isso vale
para todo mundo", disse o ministro Luiz Marinho (Trabalho), que
se reuniu por mais de duas horas
com representantes da indústria
automobilística, no Ministério da
Fazenda, para ouvir o que ele classificou de "choradeira" e "grita"
do setor. "Não está em discussão
nenhuma desoneração tributária.
Isso já foi descartado há muito
tempo", completou o ministro.
"O secretário [executivo] Bernard Appy [Ministério da Fazenda] disse textualmente que o câmbio deve ser o adequado mesmo
que isso comprometa a sobrevivência de alguns setores", relatou
o deputado Júlio Redecker
(PSDB-RS), que acompanhou representantes da indústria de calçados da região do Vale dos Sinos
(RS), em reunião no Ministério
do Desenvolvimento.
A afirmação de Appy foi confirmada também pelo organizador
do movimento, que trouxe cerca
de 2.000 trabalhadores do setor
calçadista, ontem, à Brasília para
protestar contra o desemprego
-que, segundo ele, já atingiu 20
mil trabalhadores do setor, na região, nos últimos 12 meses.
Segundo relato de Marinho, no
encontro com o setor automotivo, o ministro Guido Mantega
(Fazenda) falou em nome do governo e deixou claro que a ajuda
do governo se limitará a alterações em linhas de financiamento
oferecidas pelo BNDES.
Hoje, o banco financia até 30%
do valor dos contratos de exportação. Esse limite poderia ser ampliado para 40% ou 50%, de acordo com Marinho. Ele acrescentou
que o BNDES também pode financiar novos projetos de engenharia do setor automotivo.
O ministro reconheceu que "há
problemas" no câmbio e nas exportações, mas lembrou que nos
últimos dois meses a apreciação
do real tem sido provocada pela
perda de valor do dólar. "A relação do real com o euro se manteve
nos últimos dois meses."
O presidente da Anfavea (associação que reúne as montadoras),
Rogelio Golfarb, disse que o setor
não se desapontou por causa das
negativas do governo ante a mudanças na política cambial ou na
carga tributária. Segundo ele,
houve um "alinhamento" entre as
propostas do setor e as possibilidades apresentadas pelo governo.
"Nós temos que trabalhar com a
prioridade emergencial, que é a
questão da exportação. E, por isso, não há nenhuma decepção, há
exatamente foco", disse Golfarb.
No caso da ampliação do volume
de recursos para financiar exportações, porém, o setor quer que o
BNDES eleve os limites para 60%.
Já para o setor calçadista, a oferta de linhas de financiamento não
deve resolver os problemas. "Se
não conseguimos exportar, financiamento é o mesmo que dar corda para o produtor se enforcar",
afirmou Giovani Feltes, prefeito
de Campo Bom, pólo calçadista
no Rio Grande do Sul.
Appy disse, via assessoria, que o
nível atual do câmbio é "uma situação de transição".
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