São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2006

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MOEDA FORTE

Setores calçadista e de carros reclamam queda do real, e Marinho vê "choradeira'; BNDES pode dar mais crédito a exportação

Sob pressão, governo descarta mudar câmbio

SHEILA D'AMORIM
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pelo setor produtivo a promover ajustes na taxa de câmbio, o governo se manteve inflexível e descartou mudanças na política atual. Também deixou claro que não adotará medidas para aliviar a carga tributária de setores em dificuldade, mas acenou com mais dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar exportações.
Em duas reuniões que aconteceram quase ao mesmo tempo em ministérios diferentes, representantes dos setores calçadista e automotivo ouviram um "não" a propostas de desvalorização do real para estimular exportações.
"Os calçadistas ouviram não, e as montadoras, também. Isso vale para todo mundo", disse o ministro Luiz Marinho (Trabalho), que se reuniu por mais de duas horas com representantes da indústria automobilística, no Ministério da Fazenda, para ouvir o que ele classificou de "choradeira" e "grita" do setor. "Não está em discussão nenhuma desoneração tributária. Isso já foi descartado há muito tempo", completou o ministro.
"O secretário [executivo] Bernard Appy [Ministério da Fazenda] disse textualmente que o câmbio deve ser o adequado mesmo que isso comprometa a sobrevivência de alguns setores", relatou o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), que acompanhou representantes da indústria de calçados da região do Vale dos Sinos (RS), em reunião no Ministério do Desenvolvimento.
A afirmação de Appy foi confirmada também pelo organizador do movimento, que trouxe cerca de 2.000 trabalhadores do setor calçadista, ontem, à Brasília para protestar contra o desemprego -que, segundo ele, já atingiu 20 mil trabalhadores do setor, na região, nos últimos 12 meses.
Segundo relato de Marinho, no encontro com o setor automotivo, o ministro Guido Mantega (Fazenda) falou em nome do governo e deixou claro que a ajuda do governo se limitará a alterações em linhas de financiamento oferecidas pelo BNDES.
Hoje, o banco financia até 30% do valor dos contratos de exportação. Esse limite poderia ser ampliado para 40% ou 50%, de acordo com Marinho. Ele acrescentou que o BNDES também pode financiar novos projetos de engenharia do setor automotivo.
O ministro reconheceu que "há problemas" no câmbio e nas exportações, mas lembrou que nos últimos dois meses a apreciação do real tem sido provocada pela perda de valor do dólar. "A relação do real com o euro se manteve nos últimos dois meses."
O presidente da Anfavea (associação que reúne as montadoras), Rogelio Golfarb, disse que o setor não se desapontou por causa das negativas do governo ante a mudanças na política cambial ou na carga tributária. Segundo ele, houve um "alinhamento" entre as propostas do setor e as possibilidades apresentadas pelo governo.
"Nós temos que trabalhar com a prioridade emergencial, que é a questão da exportação. E, por isso, não há nenhuma decepção, há exatamente foco", disse Golfarb. No caso da ampliação do volume de recursos para financiar exportações, porém, o setor quer que o BNDES eleve os limites para 60%.
Já para o setor calçadista, a oferta de linhas de financiamento não deve resolver os problemas. "Se não conseguimos exportar, financiamento é o mesmo que dar corda para o produtor se enforcar", afirmou Giovani Feltes, prefeito de Campo Bom, pólo calçadista no Rio Grande do Sul.
Appy disse, via assessoria, que o nível atual do câmbio é "uma situação de transição".


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