São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2006 |
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TENSÃO ENTRE VIZINHOS Presidente Tabaré Vázquez não participará de reunião sobre acordo de livre comércio entre os dois blocos Uruguai evita cúpula Mercosul-Europa
DO ENVIADO ESPECIAL A VIENA O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, vai sair do extremo sul da América do Sul, atravessar o Atlântico mais meia Europa, para participar da 4ª Cúpula União Européia-América Latina/Caribe, amanhã, mas não fica para a habitual cúpula paralela que reúne apenas os quatro sócios do Mercosul e o conglomerado europeu, agora com 25 países, marcada para o dia seguinte. É mais um péssimo sinal a respeito da desagregação do bloco sul-americano, que tenta reiniciar as negociações com os países europeus para constituir uma zona de livre comércio que seria a maior do mundo, se e quando for constituída. Sinal ainda mais negativo porque, pouco antes da cúpula de Viena, Vázquez esteve em Washington, reuniu-se com o presidente George Walker Bush e ensaiou assinar um acordo com os Estados Unidos que automaticamente o eliminaria do bloco sul-americano. O mandato dos negociadores europeus é para tratar apenas com o bloco, não com cada país do Mercosul individualmente. Desfeito o bloco, perde-se em princípio tudo o que já foi negociado. Fábricas de celulose Tabaré Vázquez não esconde a irritação com seu colega Néstor Kirchner, que veta a instalação de duas fábricas de celulose na fronteira entre Uruguai e Argentina, fábricas aliás que são investimentos europeus, de dois dos países que estarão na cúpula (Finlândia e Espanha). Para complicar mais as coisas, os europeus não escondem a frustração com a virtual implosão da CAN (Comunidade Andina de Nações), provocada pela retirada da Venezuela, por causa da negociação de acordos de livre comércio entre os Estados Unidos e Peru e Colômbia. Já em atrito permanente com os Estados Unidos, ao menos retoricamente, Chávez acaba sendo considerado um fator desagregador também pelos europeus, que pretendiam fazer da reunião de Viena o momento de lançamento de negociações com os países andinos, em bloco. Evo Morales Na esteira de Chávez, há especulações de que também o boliviano Evo Morales, que tomou posse em janeiro, se retirará da CAN, pelos mesmos motivos apontados pelo venezuelano. Tudo somado, a cúpula de Viena se torna ainda mais aguada do que habitualmente são reuniões desse gênero. Tão aguada que não houve problemas para fechar o documento final, sempre preparado antecipadamente pelos diplomatas para que os ministros do Exterior, primeiro, e os chefes de Estado ou de governo, depois, o assinem. Só há um ponto em aberto: o que condena "medidas coercitivas unilaterais", uma menção cifrada ao embargo norte-americano a Cuba. Guadalajara Na cúpula anterior, em Guadalajara (México), o parágrafo a esse respeito foi eliminado. Mas, desta vez, a discussão está centrada em mencionar ou não especificamente a emenda Helms-Burton, que pune até negócios de empresas não norte-americanas com a ilha caribenha. A América Latina quase em bloco apoia a especificação. Os europeus resistem, especialmente os membros mais recentes, quase todos países que trocaram o comunismo, ainda adotado em Havana, pelo capitalismo. (CLÓVIS ROSSI) Texto Anterior: Tensão entre vizinhos: Esquerda chama Evo e Chávez, mas não Lula Próximo Texto: Bird amplia exigências a "papeleiras" Índice |
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