São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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É importante que Brasil coopere, afirma Evo Morales

Boliviano diz que "jamais" irá entrar em atrito com Lula; governo vizinho cogitou voltar atrás em acordo antes do anúncio ontem

Petrobras e Bolívia ainda têm negociações difíceis pela frente, como um aumento temporário de 32% na tributação do gás


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente boliviano, Evo Morales, comemorou e se mostrou satisfeito com o desfecho das negociações pelas duas refinarias da Petrobras no país andino."Reconhecemos o Brasil como um país com avanços e liderança regional, mas sinto também que é importante que um país desenvolvido dê a sua cooperação para que a Bolívia se levante", afirmou em entrevista coletiva no palácio Quemado, em La Paz.
Morales voltou a dizer que ele e o presidente Lula são "irmãos" e que "jamais vão se confrontar", "é impossível que iremos nos confrontar".
O preço acertado, de US$ 112 milhões, é menor do que o valor de mercado calculado por um estudo independente à Petrobras, de pelo menos US$ 160 milhões. E também é inferior aos US$ 136 milhões que a empresa diz ter investido com a compra e a modernização.
A Bolívia, por outro lado, queria pagar apenas cerca de US$ 65 milhões, que seria o valor patrimonial das refinarias.
Na noite de quarta-feira, Morales disse que a Petrobras queria inicialmente US$ 200 milhões e, com as reuniões, foi reduzindo sua pedida para US$ 153 milhões, US$ 135 milhões, até chegar aos US$ 112 milhões.
O acordo, fechado na manhã de ontem, chegou a ficar ameaçado horas mais tarde, quando o governo boliviano voltou atrás e procurou a Petrobras para dizer que o preço teria de ser revisto e que apresentaria uma nova proposta, segundo apurou a Folha.
A Petrobras, que na segunda-feira havia dado um prazo de 48 horas para chegar a um acordo, respondeu que, se a carta não chegasse nas próximas horas, recorreria à arbitragem internacional. Aparentemente, a Bolívia desistiu de reabrir a negociação.
As conversas dos últimos dias foram realizadas em meio a um endurecimento do governo Lula após Morales ter emitido um decreto, no domingo, que proibia a Petrobras de exportar a produção das refinarias. O Palácio do Planalto ameaçou retaliar congelando programas de ajuda ao país.
O acordo com as refinarias encerra o terceiro e último grande tema de negociações entre a Bolívia e a Petrobras -os outros foram os novos contratos de exploração de gás natural e o reajuste do preço do gás exportado ao Brasil.
No caso dos novos contratos de exploração, o acordo com a Petrobras foi assinado em outubro, mas só entrou em vigor neste mês, por causa de uma série de erros da YPFB no processo de protocolização.
Apesar de sócia minoritária, a Petrobras opera os dois maiores megacampos de gás da Bolívia, San Alberto e San Antonio, responsáveis por cerca de metade da produção do combustível no país. Suas sócias são a francesa Total (15%) e a espanhola Repsol (50%).
Já o reajuste do preço do gás foi acertado em fevereiro, durante uma conturbada visita de Morales a Brasília em que houve a intervenção direta de Lula em favor do aumento.
Apesar do encaminhamento dos principais temas, a Petrobras e o governo boliviano ainda têm negociações difíceis pela frente, como um aumento temporário de 32% na tributação do gás e um decreto presidencial que obriga a empresa a abastecer parte do mercado interno boliviano.


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