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VINICIUS TORRES FREIRE
Bilhões de dólares e de chutes
Bancões, economistas e "analistas" não se entendem sobre o futuro dos EUA. Mas consumidor pára de gastar
O WAL-MART e as maiores redes de varejo dos Estados
Unidos registraram em abril
a pior (e quase inédita) queda nas
vendas desde 1970. Diante do fato,
otimistas apareceram com um argumento do gênero "o PIB foi ruim por
causa da Copa", como se viu no Brasil do ano passado. Nos EUA, foi o
efeito Páscoa (as vendas do feriado
foram em março) e o frio primaveril.
O inverno de parca neve já explicara tanto a migração tardia de patos escandinavos como a queda do
preço de petróleo e commodities,
em janeiro. Nessa toada, o "mercado" ainda redescobrirá a eficácia explicativa do exame de miúdos de
aves mortas, tal como o faziam os
arúspices romanos.
No lado pessimista, o economista-catástrofe Nouriel Roubini viu nos
números do comércio mais motivos
para reafirmar seu cenário de "hard
landing", queda forte, na economia
dos EUA. Alguns outros economistas, menos alarmados mas preocupados, atribuíram a queda do varejo
à alta da gasolina e ao crédito curto,
influenciado pela ruína do valor dos
imóveis (é fácil para um americano
abrir uma linha de crédito garantida
pelo valor de sua casa).
Para Roubini, o PIB americano do
primeiro trimestre será revisado para menos de 1% (foi de 1,3%, crescimento anualizado do dado trimestral); o segundo trimestre teria começado pior que o anterior.
Apesar de exageros flamejantes,
Roubini de certo modo antecipou sinais (ou a dimensão) da avaria na
atividade econômica americana: crise imobiliária, queda forte no investimento em máquinas, instalações
produtivas, equipamentos e informática, déficit comercial maior.
Na enquete do "Wall Street Journal" online (WSJ.com) divulgada
ontem, 85% dos 60 economistas ouvidos dizem que o pior já passou, que
o primeiro trimestre teria sido o
fundo do poço, embora 2007 ainda
deva ser o pior ano desde 2002. Mas
os economistas de bancões como
Goldman Sachs, Merrill Lynch e
UBS disseram à "Bloomberg" faz só
11 dias que o Fed deve cortar os juros
três vezes neste ano, de 5,25% para
4,25%, dada a apatia econômica. O
Fed, esse, nem tugiu nem mugiu.
Parêntese: mais de 75% dos economistas ouvidos pelo WSJ.com
"disseram que o aumento da desigualdade de renda nos EUA é preocupante e que uma parte crescente
da renda vai para o 1% mais rico.
Mas, para a maioria deles, o governo
não deveria tentar conter o processo. Fecha parêntese.
Blogueiros econômicos dos EUA,
economistas de banco e "analistas"
de mercado divertem-se com os nomes da temporada de desaceleração.
Brincam com nomes, pois, dada a
dispersão de previsões, há muita
gente ignorante do que se passa
(ainda assim ganhando milhões inéditos até em Wall Street).
Depois da ressuscitação absurda
do termo "estagflação" (a inflação
alta e o PIB muito baixo do final dos
70 e início dos 80) veio a "staglite"
("estagnaçãozita"), expressões que
sucederam o cenário "goldilocks"
(economia morna). Agora, aparece a
"slowflation", estagflação suave.
Quem está na festa das Bolsas
aproveitou o corcoveio numerológico dos indicadores e faturou ganhos
de dois meses de euforia. Mas que
ninguém procure razões econômicas nessa doideira.
vinit@uol.com.br
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