São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Inflação agora está mais disseminada, afirma Quadros

Coordenador da Fundação Getulio Vargas não descarta alta mais intensa dos juros por parte do BC para segurar preços

Segundo economista, inflação deixa de estar concentrada em alimentos e atinge área de serviços e também preços industriais


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A inflação está mais "disseminada", o que "sugere" uma alta mais intensa dos juros. A avaliação é de Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV (Fundação Getúlio Vargas). O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), nos 12 meses encerrados em abril, cravou 5,04%, acima do centro da meta de inflação do governo para 2008 (4,5%, com dois pontos para cima ou para baixo). "A inflação saiu da condição de estar concentrada em alimentos, mas não passou, de uma tacada só, à condição de generalizada." Atingiu, segundo ele, preços industriais e de serviços.

 

FOLHA - A alta dos alimentos no atacado já chegou totalmente ao varejo?
SALOMÃO QUADROS
- Não. Algumas coisas vão aparecer mais. É o caso do arroz, que ainda tem um repasse que não é desprezível. São aumentos que podem chegar a 50% no atacado. Existem outros itens que ainda estão no ciclo de repasses. Eu cito laticínios, carnes e a cadeia do trigo, cujo repasse não está completo, exceto talvez o do pão francês.

FOLHA - Mas as commodities agrícolas no exterior já não mostram desaceleração, o que pode ser um alívio nos próximos meses?
QUADROS
- Apesar da queda do trigo, a demanda está crescendo, e os estoques não estão no ponto [certo]. A soja não está caindo. O milho também não. O quadro não é de estabilidade nem de desaceleração.

FOLHA - Existem outros focos de pressão?
QUADROS
- Não é só alimentos. Na indústria, existe uma onda de aumentos, como minérios, fertilizantes, automóveis, siderurgia e outros metais. Esses aumentos são mais de insumos, por isso, a chegada é mais demorada e suavizada no varejo. Ficam mais diluídos. Na alta de alimentos, o repasse é direto. No varejo, há também uma pressão de serviços, que não é descontrolada, mas existem alguns elementos [de alta]. O resultado do IGP-DI de abril diversificou um pouco mais a inflação. A [alta] mais persistente é a de alimentos, mas existem outras. A inflação saiu da condição de estar concentrada em alimentos, mas não passou, de uma tacada só, à condição de generalizada. Ela está mais disseminada agora.

FOLHA - O consumo aquecido contribui para os repasses?
QUADROS
- [A alta de] Serviços é um indicador de aquecimento do consumo interno. É indicação de que há outro elemento, além da pressão externa. Mas nos alimentos o repasse é forte e quase direto. Para não ter repasses em alimentos, é preciso haver uma situação de recessão extrema.

FOLHA - Os juros podem subir numa intensidade maior para conter a inflação?
QUADROS
- É possível porque existem algumas indicações e evidências que se acumularam: temos altas que não são só alimentos. Não há uma disparada nem nada disso, mas, como a aceleração da inflação tem mais de uma causa, sugere o uso da política monetária.


Texto Anterior: Empresas podem ter verba do FGTS para casa de funcionários
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.