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Inflação agora está mais disseminada, afirma Quadros
Coordenador da Fundação Getulio Vargas não descarta alta mais intensa dos juros por parte do BC para segurar preços
Segundo economista, inflação deixa de estar concentrada em alimentos e atinge área de serviços e também preços industriais
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A inflação está mais "disseminada", o que "sugere" uma
alta mais intensa dos juros. A
avaliação é de Salomão Quadros, coordenador de análises
econômicas da FGV (Fundação
Getúlio Vargas). O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), nos 12 meses encerrados em abril, cravou 5,04%, acima do centro da meta de inflação do governo para 2008
(4,5%, com dois pontos para cima ou para baixo). "A inflação
saiu da condição de estar concentrada em alimentos, mas
não passou, de uma tacada só, à
condição de generalizada."
Atingiu, segundo ele, preços industriais e de serviços.
FOLHA - A alta dos alimentos no
atacado já chegou totalmente ao
varejo?
SALOMÃO QUADROS - Não. Algumas coisas vão aparecer mais. É
o caso do arroz, que ainda tem
um repasse que não é desprezível. São aumentos que podem
chegar a 50% no atacado. Existem outros itens que ainda estão no ciclo de repasses. Eu cito
laticínios, carnes e a cadeia do
trigo, cujo repasse não está
completo, exceto talvez o do
pão francês.
FOLHA - Mas as commodities agrícolas no exterior já não mostram desaceleração, o que pode ser um alívio nos próximos meses?
QUADROS - Apesar da queda do
trigo, a demanda está crescendo, e os estoques não estão no
ponto [certo]. A soja não está
caindo. O milho também não. O
quadro não é de estabilidade
nem de desaceleração.
FOLHA - Existem outros focos de
pressão?
QUADROS - Não é só alimentos.
Na indústria, existe uma onda
de aumentos, como minérios,
fertilizantes, automóveis, siderurgia e outros metais. Esses
aumentos são mais de insumos,
por isso, a chegada é mais demorada e suavizada no varejo.
Ficam mais diluídos. Na alta de
alimentos, o repasse é direto.
No varejo, há também uma
pressão de serviços, que não é
descontrolada, mas existem alguns elementos [de alta]. O resultado do IGP-DI de abril diversificou um pouco mais a inflação. A [alta] mais persistente
é a de alimentos, mas existem
outras. A inflação saiu da condição de estar concentrada em
alimentos, mas não passou, de
uma tacada só, à condição de
generalizada. Ela está mais disseminada agora.
FOLHA - O consumo aquecido contribui para os repasses?
QUADROS - [A alta de] Serviços
é um indicador de aquecimento
do consumo interno. É indicação de que há outro elemento,
além da pressão externa. Mas
nos alimentos o repasse é forte
e quase direto. Para não ter repasses em alimentos, é preciso
haver uma situação de recessão
extrema.
FOLHA - Os juros podem subir numa intensidade maior para conter a
inflação?
QUADROS - É possível porque
existem algumas indicações e
evidências que se acumularam:
temos altas que não são só alimentos. Não há uma disparada
nem nada disso, mas, como a
aceleração da inflação tem
mais de uma causa, sugere o
uso da política monetária.
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