São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Governo elabora estratégia para atrair mais empresas chinesas

Pelo menos 10 das 200 maiores companhias da China atuam hoje no Brasil

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 10 das 200 maiores empresas chinesas atuam hoje no Brasil, segundo ranking inédito da Fundação Dom Cabral. O número é considerado incipiente. A expectativa é de aumento, diante dos planos do governo chinês de investir US$ 100 bilhões nos próximos quatro anos na América Latina.
De olho nesses recursos, cinco vezes mais do que tudo o que a China investiu na região até hoje, o governo decidiu elaborar estratégia para tentar atrair mais investimentos chineses.
"Vamos estimular a vinda de mais empresas chinesas, para gerar maior valor agregado a produtos brasileiros exportados para o gigante asiático", afirma José Mauro Couto, assessor internacional do Ministério do Desenvolvimento.
Professor da Fundação Dom Cabral e responsável pelo ranking dos "200 Dragões Chineses", Carlos Arruda diz que o "fator-chave para a atração dessas empresas são negociações bilaterais com a China".
A lista da Dom Cabral mostra que a Sinopec, a maior empresa chinesa, já opera no Brasil. O Bank of China também, mas, por enquanto, apenas com escritório comercial.
Segundo Arruda, o Brasil é um parceiro estratégico para os chineses pelo fornecimento de matérias-primas, como minério de ferro, e de alimentos, caso da soja. O governo brasileiro quer atrair investimentos para processar esses produtos aqui.
É o caso, por exemplo, da associação entre a chinesa Baosteel e a Vale para a montagem de uma siderúrgica no Espírito Santo, um investimento programado de US$ 5 bilhões, o maior já feito no Brasil por uma empresa da China.

Juntar interesses
A parceria junta o interesse chinês, em transferir para outros países empresas que consomem muita energia, diante do surgimento de gargalos por conta do crescimento acelerado, e o brasileiro, que, em vez de vender minério de ferro, poderá comercializar aço, ganhando mais com as exportações.
O déficit na balança comercial do Brasil com a China também explica a busca de atrair empresas chinesas. Do déficit comercial de US$ 1,87 bilhão no ano passado, a previsão para 2008 é que a conta fique negativa em mais de US$ 6 bilhões. Até março deste ano estava deficitária em US$ 2 bilhões.
Daí que o governo não quer apenas atrair empresas, mas também aumentar as exportações para a China. Do total exportado para o gigante asiático, nada menos do que 75% são de matérias-primas. De tudo que o Brasil importa dos chineses, cerca de 75% são de insumos industriais e maquinários.
Na estratégia do Ministério do Desenvolvimento, a intenção é aumentar as exportações de manufaturados para a China. Mas aí o país enfrenta a baixa competitividade em relação aos produtos chineses.
Nesse setor, o governo chinês não tem muito interesse em instalar empresas aqui. Ainda é mais barato produzir lá e exportar, diante do elevado "custo Brasil". As poucas empresas chinesas no país reclamam desses custos, como a Gree, fabricante de condicionadores de ar.
A prioridade do governo chinês está em incentivar a ampliação de suas empresas de consumo intenso de energia fora do país. "Aí faz todo sentido eles virem para cá, temos potencial energético, não poluente", diz Couto.
Na lista dos setores em que o governo espera atrair empresas chinesas para o Brasil estão minério de ferro, soja, couros e autopeças. Em junho, será realizado um seminário na China com esse objetivo.
Secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil/ China, Rodrigo Maciel diz que "o movimento de vinda de chineses para o Brasil ainda é muito tímido", mas afirma que há um potencial a ser explorado nos próximos anos.
O investimento chinês no Brasil, apesar de crescente, ainda deixa a desejar. De US$ 28,08 milhões em 2001, atingiu US$ 71 milhões em 2006, crescimento anual de 20,1% no período. Mas ainda é pequeno, se comparado aos US$ 22 bilhões de investimento estrangeiro direto no país em 2006.
O movimento inverso é mais forte. Os investimentos brasileiros na China passaram de US$ 15 milhões em 2001 para US$ 240 milhões em 2006.


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