|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tarifa de fundos "cresce" com juro menor
Queda da Selic não é acompanhada por taxas de administração, que "abocanham" parcela maior do retorno da aplicação
Cenário de juros menores evidencia custos de fundos de investimento; taxa de administração em 2008 foi a 2ª maior da década, diz FGV
TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A redução nas taxas de juros,
que levará a mudanças nas regras da poupança, também provocará uma transformação
profunda na indústria de fundos de investimento, um negócio que gerenciava um patrimônio de R$ 1,094 trilhão e arrecadou cerca de R$ 17 bilhões
em taxas de administração em
2008. Essa indústria já ganhou
até mais com taxas, como os
R$ 21 bilhões em 2006, época
em que o patrimônio do setor
estava em R$ 910 bilhões.
Para sobreviver, segundo especialistas, os fundos terão de
se reinventar: cortar custos, padronizar produtos, ganhar eficiência, agregar rentabilidade
ao cotista e reduzir taxas de administração para os produtos
mais simples, como os fundos
DI e de renda fixa, que estão entre os mais populares do país.
Ao longo dos últimos anos,
porém, a redução gradual da
Selic (que encerrou 2008 em
13,75% ao ano, após chegar a
19,75% em 2005) não bastou
para derrubar as taxas que as
instituições financeiras cobram dos investidores. Na média, o que se viu foi até o inverso: as taxas cobradas em 2008
bateram as praticadas em outros anos da década.
Estudo do Centro de Finanças da FGV mostra que a taxa
média praticada nos fundos de
varejo ficou em 2,03% no ano
passado, perdendo na década
apenas para as cobradas no ano
de 2006, quando atingiram
2,71%. Em 2000, por exemplo,
ficaram em 1,90%.
"As taxas não têm caído nos
últimos anos. Apenas se os bancos começarem a perceber que
o negócio está em risco é que as
taxas vão começar a cair. Enquanto tivermos investidores
que não reclamem, nada muda", diz William Eid Júnior,
coordenador do centro da FGV.
A taxa de administração é cobrada em todos os fundos de investimento e objetivam remunerar os gestores da aplicação
por seu trabalho. São fixadas livremente pelas instituições financeiras e podem variar bastante de um fundo a outro.
Com o cenário atual de queda
dos juros básicos, que já estão
em 10,25% ao ano, o peso da taxa de administração sobre o resultado líquido da aplicação
tem aumentado. Isso porque
esse retorno tem caído.
"Um tema que não tem sido
muito discutido é o quanto os
gestores de fundos estão adicionando de valor [aos cotistas]. Diria que os resultados indicam que a grande maioria
não tem uma performance satisfatória. Poucos superam o
seu "benchmark" [referência de
rendimento]. Isso sugere que a
indústria pode ter ganhos de
eficiência", disse Ney O. Brito,
professor da UFRJ.
Caso contrário, o Imposto de
Renda e uma taxa de administração elevada, que muitas vezes chega a 4% -especialmente
nas aplicações de baixos volumes-, podem levar, em um
ano, quase a metade de eventuais ganhos com uma Selic de
9,25%, como aposta o mercado
para a taxa no fim do ano.
"Os fundos com taxa de administração mais alta tendem a
perder captação no futuro e podem até desaparecer", disse o
vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Bolivar Tarragó, responsável pela área de
fundos de investimento.
Para Brito, se o consumidor
pode apelar para o Tesouro Direto (que vende títulos pela internet) e comprar papéis da dívida pública pós-fixada, não faz
sentido aderir a um fundo DI,
com rendimento menor.
Segundo Alexandre Zákia, vice-presidente da Anbid (associação dos bancos de investimento), as taxas de administração têm recuado nos últimos
anos. Além disso, os bancos
têm permitido a adesão de
clientes com volumes menores
de investimentos a fundos com
taxas menores. "É um ajuste
que já acontece na negociação
do cliente com o gerente."
Sofisticação
Como ocorreu em países que
reduziram os juros, a indústria
de fundos brasileira aposta em
uma migração do investidor
dos fundos DI e de renda fixa
para produtos mais sofisticados, como os multimercados
(que aplicam os recursos em diversos tipos de ativos).
Para especialistas, os fundos
terão de ajudar no amadurecimento do investidor, acostumado a altas taxas de retorno,
quase sem assumir risco e ainda com a comodidade da liquidez diária para saques. O "vendedor" de fundos terá de entender as necessidades do cliente.
"A indústria vai ter de evoluir
para um modelo de prestação
de serviço. Vai ter de sentar
com cada cliente. Estamos discutindo isso há cinco anos aqui
no Bradesco", disse Marcos Villanova, diretor do banco e responsável na Anbid pelas discussões de adequação dos produtos vendidos para os clientes.
Os gestores, por sua vez, argumentam que não têm como
reduzir as taxas de administração muito mais do que para 1%
a 1,5%. Isso porque a gestão envolve custos fixos como prestar
contas a reguladores, calcular
cotas, mandar correspondências e realizar assembleias, entre outros serviços, dizem.
"O fundo é o tipo de captação
mais regulado que existe. A exigência em cima de uma gestora
de fundo é bastante grande,
coisa que não existe em outras
formas de captação como CDB
e poupança. Em razão disso,
não há tanto espaço para redução das taxas", disse Tarragó.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frases Índice
|