São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

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Economistas duvidam da eficácia do plano

Para Roubini, exigência de austeridade fiscal e aumento de impostos podem travar o crescimento dos países socorridos

Mohamed El-Erian, da Pimco, questiona como pacote será operacionalizado; injeção de liquidez, em vez de promover ajustes, pode protelá-los

Nikolas Giakoumidis/Associated Press
PERSONAGEM DA CRISE
Vira-lata na linha de frente de protesto em Atenas, na última quarta; cachorro, afirma "The Guardian", é presença constante nas manifestações gregas antiarrocho e já ganhou perfil no Facebook (jornal britânico chama-o de Kanellos; "El País", de Lukánikos)


DA REDAÇÃO

As medidas adotadas para conter a crise da dívida soberana na Europa deixam questões "em aberto", reagiram ontem economistas.
Para Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York, os líderes europeus ainda enfrentarão muitas dificuldades, como uma pressão deflacionária crescente.
"Apesar de o dinheiro estar disponível agora sobre a mesa, todo o montante é condicionado aos países que fazem ajustes fiscais e reformas estruturais", disse ontem à Bloomberg.
"Se eles vão conseguir realizá-los na velocidade suficiente, é uma questão em aberto."
Apesar de o pacote de empréstimos bilionário e sem precedentes, acordado entre os governos dos 16 países da zona do euro e o FMI, ter acalmado os mercados ontem, ele requer austeridade fiscal e aumento de impostos, o que pode amortecer o crescimento e possivelmente estender a dificuldade econômica, afirmou Roubini.
"A curto prazo, aumentar tributos e cortar gastos implicará mais recessão e mais pressão deflacionária na zona do euro."
Grécia, Espanha, Portugal, Itália, Irlanda e outros países da zona do euro terão de lutar para cumprir os requisitos fiscais e restaurar competitividade, após anos de apreciação do euro que impulsionava o crescimento, disse o economista.
A habilidade dos membros da zona do euro em agir, afirmou, pode ser embaçada por tensões domésticas -caso de Reino Unido, Alemanha e Grécia.
Para Roubini, os líderes europeus perceberam que tinham de entrar em sintonia com muito atraso. "Nos últimos meses, a União Europeia olhava para trás da curva, eles não conseguiam se sintonizar", disse.
"Agora, que estamos na beira de um precipício, perceberam que tinham de afinar recursos e agir em conjunto, ou então o risco era o colapso da zona do euro, o colapso do euro."
Para Mohamed El-Erian, presidente da Pimco, um dos maiores fundos do mundo, "muitas questões ainda precisam ser respondidas". Elas variam de operacionalização do plano (como as propostas serão aprovadas, financiadas e executadas) à conceitualização da ajuda (o que significa para a integridade institucional).
Outra dúvida reside na efetividade do resgate. El-Erian questiona se a injeção de liquidez será usada para apoiar uma consolidação fiscal ou acabar protelando os ajustes.
"A Europa fez muito mais do que tomar uma atitude ousada; ela levou tudo a nível completamente novo. Estamos agora em mares nunca antes navegados no que diz respeito a como isso tudo vai impactar", escreveu no jornal "Financial Times".


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