São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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CAPITALISMO VERMELHO

Medidas de desaquecimento começam a surtir efeito, e produção tem menor expansão desde janeiro

Indústria chinesa "esfria" e cresce 17,5%

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

A economia chinesa começa a responder às medidas adotadas pelo governo nos últimos dois meses para conter a expansão do PIB, que atingiu 9,8% no primeiro trimestre. A produção industrial, o volume de empréstimos e a quantidade de dinheiro em circulação na economia cresceram em maio a um ritmo menor que o de meses anteriores.
A atividade industrial teve alta de 17,5% em relação a igual período de 2003. O resultado é o menor desde janeiro, mês em que os indicadores econômicos são tradicionalmente fracos em razão do Ano Novo Chinês, que paralisa o país por quase dez dias. Fevereiro bateu o recorde do ano, com 23,2% de expansão, seguido de março (19,4%) e abril (19,1%).
No Brasil, para efeito de comparação, a produção industrial cresceu 6,7% em abril sobre o mesmo mês de 2003, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O melhor resultado do ano foi registrado em março, quando a produção cresceu 12,4% sobre o mesmo período de 2003.
A chamada base monetária ampliada da China, que inclui o dinheiro em circulação e os depósitos bancários, também reduziu seu crescimento, de 19,1% em abril para 17,5% em maio, o menor índice em um ano e meio.
O volume de financiamento concedido pelos bancos seguiu o mesmo caminho. O salto total de empréstimos em moeda local atingiu 17 trilhões de yuans (US$ 2 trilhões), 18,6% a mais do que em igual período do ano passado, mas 1,3% a menos do que o saldo registrado no mês anterior.
Preocupado com o alto ritmo de expansão do PIB, o governo chinês adotou uma série de medidas administrativas e de política monetária a partir de abril para esfriar a atividade econômica. As autoridades do país temem que o crescimento não seja sustentável, o que poderia levar a uma interrupção brusca da produção, em razão do excesso de capacidade -o chamado "hard-landing".

Compulsório
No início de abril, o Banco do Povo (o banco central) elevou de 7% para 7,5% o depósito compulsório dos bancos -a quantia de dinheiro que as instituições têm de deixar imobilizada no banco central. A medida tirou US$ 13 bilhões de circulação da economia e reduziu o volume de recursos disponíveis para empréstimos.
O governo também determinou a suspensão de financiamentos para empresas de setores considerados superaquecidos, como aço, e mandou paralisar vários projetos -da abertura de campos de golfe à construção de shoppings.
Os indícios de esfriamento da economia no mês passado reduzem a possibilidade de o BC vir a aumentar os juros, inalterados há quase uma década. O Comitê de Política Monetária se reúne a cada três meses -o próximo encontro será em junho. O grupo não tem poder de decisão e só sugere medidas de política monetária para o Conselho de Estado, o principal órgão executivo da China.
A meta de crescimento do PIB estabelecida pelo governo para 2004 é de 7%, depois dos 9,1% registrados em 2003. Com o ritmo de crescimento registrado no primeiro trimestre, de 9,8%, muitos analistas acreditavam que o país chegaria a meados do ano com uma expansão de dois dígitos.
O volume de investimentos, um dos principais motores do crescimento, diminuiu sua alta antes mesmo de maio. Depois de aumentar 53% nos primeiros dois meses do ano em relação a igual período de 2003, o indicador caiu para 47,8% de janeiro a março e 43% no período de janeiro a abril.


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