São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2007

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Queda na Bolsa da China preocupa menos

Bovespa não reage a tombo em Xangai, e preocupação maior é com eventuais problemas na economia real do país asiático

Mercado de ações, dominado por investidores locais, tem relevância menor; inflação e reflexos no crescimento trariam mais impacto

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois eventos chamaram a atenção do mercado financeiro na semana passada: na segunda, o principal índice da Bolsa de Xangai despencou 8,3%; e, na quarta, foi a vez de as Bolsas americanas caírem.
O Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo) reagiu diferentemente às duas quedas; quase não se abalou com o solavanco em Xangai, ao recuar apenas 0,34%, mas caiu 2,09% quando a turbulência veio dos EUA.
A Bolsa brasileira descolou da China? A resposta de analistas à pergunta ouvida em corretoras é não. Ao Brasil, fornecedor de commodities, como minério de ferro, para a China, interessa acompanhar de perto o que acontece naquele país como nos EUA. Mas o foco é no lado real da economia chinesa. Quando a turbulência se restringe à Bolsa de Xangai, o mercado não liga muito. Mesmo uma queda mais forte não tem contaminado outras Bolsas.
"Um problema na Bolsa chinesa causa mal-estar, mas não muda a história. Um problema econômico, do tipo inflação, que provoque alta dos juros, com reflexo sobre crescimento, sim", diz Walter Mendes, superintendente de renda variável do banco Itaú.
O mercado de ações da China tem pouca relevância, embora o país seja grande demandante de commodities. A Bolsa de Xangai é largamente dominada por investidores locais. Estrangeiros não podem comprar papéis no país. Só em Hong Kong. Outra característica do mercado é a alta volatilidade.
Cair muito na China em um único dia pode ser normal, segundo Caio Megale, economista-chefe da Mauá Investimentos. "Como o governo chinês quer incentivar a venda de ações na Bolsa, fará tudo para, se houver uma bolha, ela não estourar, o que pode ser um amortecedor importante", afirma Megale.
Para Mendes, há vários sinais de que a Bolsa chinesa esteja muito inflada, muito cara, "mas não significa que causará um problema econômico".

Medo de inflação
O que mais preocupa investidores no mundo todo é a inflação, segundo economistas.
A Bolsa brasileira reage mais às quedas no mercado norte-americano porque um crescimento mais forte nos Estados Unidos pode gerar inflação.
Foi o que causou a queda acentuada na quarta passada, quando a alta para 1,8% do indicador sobre custo da mão-de-obra veio reforçar a sinalização de alta da pressão inflacionária.
Se os índices de preços subirem acima do esperado, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) tenderá a elevar os juros, o que reduz a atratividade de aplicações em países emergentes como o Brasil.
A taxa de juros de títulos da dívida soberana dos Estados Unidos subiu de 4,7% para quase 5% nas últimas semanas.
A inflação norte-americana está um pouco alta, segundo Mendes, como em vários países, inclusive na China. Preços de alimentos, como grãos, carnes e leite, sobem no mundo todo e elevam os índices de preços ao consumidor.
Economistas esperam mais volatilidade até a divulgação de dados sobre a inflação americana, prevista para esta semana.
Para Megale, o cenário mais provável é de sinais de uma inflação mais acomodada.
"Se os dados vierem benignos, acredito que esse "pânico" de juros mais altos passe e o otimismo volte aos mercados. Se vierem ruins, o pânico se intensifica, e podemos ter várias ondas de correção de preços", diz o economista.


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