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Queda na Bolsa da China preocupa menos
Bovespa não reage a tombo em Xangai, e preocupação maior é com eventuais problemas na economia real do país asiático
Mercado de ações, dominado por investidores locais, tem
relevância menor; inflação e reflexos no crescimento
trariam mais impacto
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois eventos chamaram a
atenção do mercado financeiro
na semana passada: na segunda, o principal índice da Bolsa
de Xangai despencou 8,3%; e,
na quarta, foi a vez de as Bolsas
americanas caírem.
O Ibovespa (Índice da Bolsa
de Valores do Estado de São
Paulo) reagiu diferentemente
às duas quedas; quase não se
abalou com o solavanco em
Xangai, ao recuar apenas
0,34%, mas caiu 2,09% quando
a turbulência veio dos EUA.
A Bolsa brasileira descolou
da China? A resposta de analistas à pergunta ouvida em corretoras é não. Ao Brasil, fornecedor de commodities, como minério de ferro, para a China, interessa acompanhar de perto o
que acontece naquele país como nos EUA. Mas o foco é no lado real da economia chinesa.
Quando a turbulência se restringe à Bolsa de Xangai, o mercado não liga muito. Mesmo
uma queda mais forte não tem
contaminado outras Bolsas.
"Um problema na Bolsa chinesa causa mal-estar, mas não
muda a história. Um problema
econômico, do tipo inflação,
que provoque alta dos juros,
com reflexo sobre crescimento,
sim", diz Walter Mendes, superintendente de renda variável
do banco Itaú.
O mercado de ações da China
tem pouca relevância, embora
o país seja grande demandante
de commodities. A Bolsa de
Xangai é largamente dominada
por investidores locais. Estrangeiros não podem comprar papéis no país. Só em Hong Kong.
Outra característica do mercado é a alta volatilidade.
Cair muito na China em um
único dia pode ser normal, segundo Caio Megale, economista-chefe da Mauá Investimentos. "Como o governo chinês
quer incentivar a venda de
ações na Bolsa, fará tudo para,
se houver uma bolha, ela não
estourar, o que pode ser um
amortecedor importante", afirma Megale.
Para Mendes, há vários sinais
de que a Bolsa chinesa esteja
muito inflada, muito cara, "mas
não significa que causará um
problema econômico".
Medo de inflação
O que mais preocupa investidores no mundo todo é a inflação, segundo economistas.
A Bolsa brasileira reage mais
às quedas no mercado norte-americano porque um crescimento mais forte nos Estados
Unidos pode gerar inflação.
Foi o que causou a queda
acentuada na quarta passada,
quando a alta para 1,8% do indicador sobre custo da mão-de-obra veio reforçar a sinalização
de alta da pressão inflacionária.
Se os índices de preços subirem acima do esperado, o Fed
(Federal Reserve, o banco central dos EUA) tenderá a elevar
os juros, o que reduz a atratividade de aplicações em países
emergentes como o Brasil.
A taxa de juros de títulos da
dívida soberana dos Estados
Unidos subiu de 4,7% para quase 5% nas últimas semanas.
A inflação norte-americana
está um pouco alta, segundo
Mendes, como em vários países, inclusive na China. Preços
de alimentos, como grãos, carnes e leite, sobem no mundo todo e elevam os índices de preços ao consumidor.
Economistas esperam mais
volatilidade até a divulgação de
dados sobre a inflação americana, prevista para esta semana.
Para Megale, o cenário mais
provável é de sinais de uma inflação mais acomodada.
"Se os dados vierem benignos, acredito que esse "pânico"
de juros mais altos passe e o otimismo volte aos mercados. Se
vierem ruins, o pânico se intensifica, e podemos ter várias ondas de correção de preços", diz
o economista.
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