São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2007

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Escritórios "trocam" fórum por consultoria

Empresas de advocacia aproveitam crescimento da economia para avançar em áreas como abertura de capital e fusões e aquisições

Boa parte dos advogados não freqüenta tribunais há décadas; escritórios criam áreas de negócios e migram para regiões nobres de SP

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode parecer estranho, mas, nos maiores escritórios de advocacia do país, grande parte dos advogados não pisa num fórum há anos. Em alguns casos, há décadas.
Graças ao aquecimento da economia, ao fortalecimento do mercado de capitais e à sofisticação dos negócios, as firmas estão se transformando em verdadeiras consultorias, em vez de atuarem apenas como prestadores de serviços jurídicos em áreas contenciosas.
"Se até alguns anos o advogado entrava em cena apenas para resolver conflitos, há pouco tempo os empresários passaram a vê-lo como verdadeiro conselheiro", afirma Rogério Lessa, diretor-geral da Demarest & Almeida Advogados. Lessa é um dos que não pisam em cortes há mais de 20 anos.
Exemplos de mudança na atuação de escritórios são consultoria jurídica em abertura de capital e fusões e aquisições.
O movimento se intensificou nos últimos 18 meses e provocou mudanças profundas nos escritórios. Até um ano atrás, por exemplo, a maioria deles se localizava no centro de São Paulo, onde está boa parte dos tribunais. Nos últimos meses, no entanto, as firmas se mudaram para grandes sedes, próximas às regiões onde estão empresas e bancos.

Longe do centro
Para citar apenas alguns exemplos, o Demarest & Almeida ocupa os escritórios do Instituto Tomie Ohtake, e o Pinheiro Neto Advogados, o edifício onde ficava o Banco Santos, ambos no bairro de Pinheiros.
Já o TozziniFreire Advogados está hoje no lugar onde funcionava a agência de propaganda Publicis, na Vila Mariana. Detalhe: manteve o desenho de agência, com andares abertos, sem salas fechadas até para a diretoria e tem monitores mostrando notícias.
Além da mudança física, muitas firmas também criaram departamentos específicos para as áreas nas quais atuam, como agronegócio, telecomunicação, seguros, imobiliária e mercado de capitais.
"Além de conhecer o Direito, o advogado tem de entender também o negócio do cliente", diz Ricardo Ariani, presidente do TozziniFreire Advogados. "Não há como prestar um bom serviço sem conhecer os jargões de cada indústria."
Segundo especialistas, a transformação tende a crescer, além de resultar numa mudança profunda do Judiciário.
"A tendência é a de incremento do direito consultivo e da arbitragem", diz José Eduardo Faria, professor de filosofia e teoria geral do Direito da USP. "Os escritórios estão anos-luz à frente do Judiciário, e as empresas precisam dessa rapidez no mundo global."
Graças às mudanças pelas quais passaram, os escritórios brasileiros não foram adquiridos por outras firmas internacionais, como em outros países. Mesmo assim, cinco grandes escritórios americanos e ingleses se associaram a empresas locais atrás de negócios.


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