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BC surpreende e corta juros em 1 ponto
Segundo banco, corte para 9,25% é justificado por projeções de inflação abaixo do centro da meta neste ano e em 2010
Decisão por 6 votos a 2 leva juro nominal ao menor patamar desde 1996; mercado esperava uma queda de 0,75 ponto
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa decisão surpreendente, o Banco Central reduziu os
juros em um ponto percentual,
com a taxa Selic passando de
10,25% ao ano para 9,25%, mas
indicou que a queda de ontem
pode ter sido a última do processo de alívio monetário iniciado em janeiro.
No mercado financeiro, a
maioria dos analistas apostava
num corte de 0,75 ponto ontem
e outro de 0,5 ponto na próxima reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC),
marcada para o mês que vem.
Segundo o BC, o corte foi motivado pela expectativa de inflação menor do que o centro
da meta para este ano e 2010.
"Tendo em vista as perspectivas para a inflação em relação
à trajetória de metas, o Copom
decidiu reduzir a taxa Selic para
9,25%, sem viés", disse nota do
BC no início da noite, após a decisão por 6 votos a 2 (os dissidentes votaram por corte de
0,75 ponto).
O mercado espera inflação
(medida pelo IPCA) de 4,33%
neste ano e de 4,30% em 2010,
abaixo, portanto, do centro da
meta, de 4,5%. Juros menores
tendem a elevar a inflação.
O BC ressaltou ainda que
"mudanças na taxa básica de
juros têm efeitos sobre a atividade econômica e sobre a dinâmica inflacionária que se acumulam ao longo do tempo",
uma maneira de lembrar que a
queda na Selic neste ano -de
4,5 pontos percentuais- ainda
vai levar alguns meses para fazer efeito sobre a economia.
Por esse raciocínio, pode ser
recomendável aguardar mais
um tempo até ficar mais claro
qual será o efeito dos recentes
cortes nos juros sobre a inflação e o nível de atividade. O argumento é reforçado por outro
trecho do comunicado do BC,
que afirma que "qualquer flexibilização monetária adicional
deverá ser implementada de
maneira mais parcimoniosa".
Ou seja, mesmo se promover
nova diminuição nos juros, será
menor que a de ontem.
Foi o quarto corte neste ano,
e desta vez a redução foi suficiente para deixar a taxa abaixo
de 10% pela primeira vez desde
a criação do Copom, em 1996.
Antes da existência do Copom, o juro básico variava diariamente, dependendo da atuação do BC no mercado de títulos públicos. Entre o final dos
anos 80 e o início dos 90, essa
flexibilidade era especialmente
útil para conter a hiperinflação:
em dezembro de 1989, por
exemplo, a inflação medida pelo IPCA ficou em 51,5%, o que
equivalia a uma alta anual de
14.500%. No mesmo mês, a taxa Selic foi de 51.600% ao ano.
Com a estabilização dos preços trazida pelo Plano Real
(1994), esse sistema começou a
ser aperfeiçoado. Em 1996, com
a criação do Copom, o juro básico passou a seguir parâmetros
fixados mensalmente. De lá para cá, a taxa bateu recorde de alta em dois momentos: em setembro de 1997 -no auge da
crise asiática- e em janeiro de
1999 -após a maxidesvalorização do real-, com taxa de 45%.
Agora, vários fatores explicam o juro de um dígito. Por um
lado, famílias, investidores,
empresas e governo já estão
mais habituados com a estabilidade de preços, o que facilita o
controle da inflação. Já o maior
equilíbrio das contas externas
faz com que o país não precise
de juros tão altos para atrair capital externo, embora isso ainda aconteça em escala menor.
A estabilidade da política fiscal também faz com que o governo não precise pagar taxas
tão elevadas para convencer o
mercado a financiar sua dívida.
O último empurrão veio com
a crise global, que obrigou países do mundo inteiro a reduzir
juros para tentar normalizar a
oferta de crédito e estimular a
economia. Embora não tenha
seguido casos extremos como o
dos EUA, com taxa próxima de
zero, o BC também cortou juros de forma mais agressiva.
Mesmo assim, o Brasil ainda
tem um dos maiores juros reais
(descontada a inflação) do planeta. Segundo a consultoria
UpTrend, o país tem juros reais
de 4,9%, atrás apenas de China
(6,9%) e Hungria (5,9%).
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