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ANÁLISE
Mercado aponta juro maior em 2010
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
A taxa de juros voltará a aumentar depois que a crise passar, ou o Brasil entrou para valer em um novo patamar de juros? Nem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fornece respostas coerentes para essa pergunta.
Disse Meirelles em abril: "É
um pouco prematuro dizer,
pois temos uma conjugação de
dois fatores, estruturais e conjunturais (...) existe um ambiente de grande incerteza."
Em maio, algumas semanas
depois, Meirelles afirmou que
os cortes realizados pelo BC no
custo do dinheiro não refletem
apenas uma situação "conjuntural", mas também "estrutural". E citou países onde o patamar de juros mudou de forma
permanente.
Meirelles está em uma situação delicada, pois o governo
Lula não gostaria de trabalhar
com alta de juros no ano eleitoral de 2010. Mas os mercados
enxergam esse cenário como
sendo inevitável.
É o que mostra o comportamento dos juros futuros, que
vêm subindo na exata proporção do aumento do otimismo
com relação à economia - o CDI
para janeiro de 2011, após as
eleições presidenciais, ficou
ontem em 10,43% (CDIs são
certificados negociados entre
os bancos, que têm por referência a Selic).
A dúvida, portanto, existe. O
Brasil entrou mesmo em um
novo patamar de juros? Seja
qual for a resposta, é preciso reconhecer que a queda sucessiva
da Selic desde o ano passado já
foi substancial.
A taxa está em seu menor patamar desde a criação do Real,
em 1994. Para trazê-la a seu
atual patamar, desafios inéditos surgiram. A indústria de
fundos de investimento, por
exemplo, começa a debater a
nova realidade de juros.
Esse mercado terá de mudar
a composição de seus ativos,
suas estratégias de diversificação e de proteção. E a reduzir
suas taxas de administração,
que, inexplicavelmente, estão
entre as mais altas do mundo
-quando o ambiente era de juros altos, ninguém prestava
atenção a elas.
Mas talvez a grande ironia de
todo esse processo é que os investidores em geral sentirão o
custo da queda dos juros antes
de os consumidores serem plenamente beneficiados por ela.
Até agora, a queda da Selic
demonstrou ter pouca correlação com o juro ao consumidor.
Seu efeito mais visível foi no retorno do investidor em fundos,
que são lastreados em títulos
públicos. Esses fundos ficaram
menos atraentes do que a poupança. Para evitar uma migração de um investimento para
outro, o governo anunciou novas regras para a poupança.
Além de confusas, no entanto,
as mudanças anunciadas têm
sido postergadas.
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