São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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ANÁLISE

Mercado aponta juro maior em 2010

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

A taxa de juros voltará a aumentar depois que a crise passar, ou o Brasil entrou para valer em um novo patamar de juros? Nem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fornece respostas coerentes para essa pergunta.
Disse Meirelles em abril: "É um pouco prematuro dizer, pois temos uma conjugação de dois fatores, estruturais e conjunturais (...) existe um ambiente de grande incerteza."
Em maio, algumas semanas depois, Meirelles afirmou que os cortes realizados pelo BC no custo do dinheiro não refletem apenas uma situação "conjuntural", mas também "estrutural". E citou países onde o patamar de juros mudou de forma permanente.
Meirelles está em uma situação delicada, pois o governo Lula não gostaria de trabalhar com alta de juros no ano eleitoral de 2010. Mas os mercados enxergam esse cenário como sendo inevitável.
É o que mostra o comportamento dos juros futuros, que vêm subindo na exata proporção do aumento do otimismo com relação à economia - o CDI para janeiro de 2011, após as eleições presidenciais, ficou ontem em 10,43% (CDIs são certificados negociados entre os bancos, que têm por referência a Selic).
A dúvida, portanto, existe. O Brasil entrou mesmo em um novo patamar de juros? Seja qual for a resposta, é preciso reconhecer que a queda sucessiva da Selic desde o ano passado já foi substancial.
A taxa está em seu menor patamar desde a criação do Real, em 1994. Para trazê-la a seu atual patamar, desafios inéditos surgiram. A indústria de fundos de investimento, por exemplo, começa a debater a nova realidade de juros.
Esse mercado terá de mudar a composição de seus ativos, suas estratégias de diversificação e de proteção. E a reduzir suas taxas de administração, que, inexplicavelmente, estão entre as mais altas do mundo -quando o ambiente era de juros altos, ninguém prestava atenção a elas.
Mas talvez a grande ironia de todo esse processo é que os investidores em geral sentirão o custo da queda dos juros antes de os consumidores serem plenamente beneficiados por ela.
Até agora, a queda da Selic demonstrou ter pouca correlação com o juro ao consumidor. Seu efeito mais visível foi no retorno do investidor em fundos, que são lastreados em títulos públicos. Esses fundos ficaram menos atraentes do que a poupança. Para evitar uma migração de um investimento para outro, o governo anunciou novas regras para a poupança. Além de confusas, no entanto, as mudanças anunciadas têm sido postergadas.


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