São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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Inflação oficial de junho fica em 0,42%, o dobro da taxa de maio

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor - Amplo), referência para o sistema de metas de inflação do governo, ficou em 0,42% em junho, informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa é o dobro da de maio -0,21%.
Com o resultado, a inflação acumulada nos seis primeiros meses do ano é de 2,94% -mais da metade do teto superior da meta estipulada pelo Banco Central para 2002, de 5,5%.
Segundo economistas ouvidos pela Folha, a julgar pelo atual ritmo da inflação, o governo não vai conseguir cumprir nem sequer o limite máximo da meta. As previsões são de uma inflação de 5,6% a 6% no final do ano.
O motivo para o possível estouro da meta, dizem os analistas, é um só: a valorização do dólar nos últimos meses, principalmente por causa do seu efeito sobre os combustíveis, atrelados aos preços internacionais.
"A taxa vai ficar um pouco acima da meta, mas não deve chegar a 6%. E, sem dúvida, o estouro vai ocorrer por causa da alta do dólar", disse Eustáquio Reis, diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do governo federal.
Em junho, o gás de cozinha foi o principal responsável pelo aumento da inflação. Subiu 9,02%, o que representou um terço da inflação do mês -ou 0,14 ponto percentual da taxa. No ano, o produto já subiu 32,41%.
Também teve forte peso sobre a taxa o item ônibus urbano (sob impacto indireto da alta dos combustíveis), que subiu 2,44% e contribuiu com 0,11 ponto percentual do IPCA de 0,42%.
O dólar também já mostrou seus efeitos negativos sobre alguns alimentos, grupo que que vinha segurando a inflação em meses anteriores. É o caso do óleo de soja (alta de 8%), do macarrão (1,36%) e do pão francês (0,67%), influenciados por preços internacionais ou importação.
"Os alimentos já estão começando a subir por causa do início da entressafra e do câmbio. Em junho, mesmo os alimentos que continuaram em queda reduziram o ritmo. É o caso da carne", disse Eulina Nunes dos Santos, economista do IBGE.
De acordo com especialistas, porém, o pior ainda está por vir. Neste mês, o IPCA deve atingir mais de 1%, segundo estimativa do banco BBV e da consultoria Tendências. A alta ocorrerá porque vários preços administrados sofreram reajuste em julho. São exemplos a gasolina (6,7%), o gás de bujão (6,2%), as tarifas de telefone fixo (8%) e a energia elétrica em São Paulo (14%). Só os três primeiros itens devem ter um impacto de 0,56 ponto percentual sobre o IPCA de julho.
"A meta já está comprometida. Ainda mais agora, com os aumentos do gás e da gasolina em julho", disse Luiz Afonso Lima, do BBV, que espera uma taxa de 5,6% a 6% em 2002.
Já Marcela Prada, da Tendências, afirmou que nos últimos meses do ano o dólar deve cair a cerca de R$ 2,50. Isso reduziria a pressão sobre a inflação, pois permitiria uma queda dos combustíveis. Mesmo assim, a economista estima um IPCA de 5,8% no final do ano -acima do teto da meta.



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