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Inflação oficial de junho fica em
0,42%, o dobro da taxa de maio
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor - Amplo), referência
para o sistema de metas de inflação do governo, ficou em 0,42%
em junho, informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa é o dobro da de maio -0,21%.
Com o resultado, a inflação acumulada nos seis primeiros meses
do ano é de 2,94% -mais da metade do teto superior da meta estipulada pelo Banco Central para
2002, de 5,5%.
Segundo economistas ouvidos
pela Folha, a julgar pelo atual ritmo da inflação, o governo não vai
conseguir cumprir nem sequer o
limite máximo da meta. As previsões são de uma inflação de 5,6%
a 6% no final do ano.
O motivo para o possível estouro da meta, dizem os analistas, é
um só: a valorização do dólar nos
últimos meses, principalmente
por causa do seu efeito sobre os
combustíveis, atrelados aos preços internacionais.
"A taxa vai ficar um pouco acima da meta, mas não deve chegar
a 6%. E, sem dúvida, o estouro vai
ocorrer por causa da alta do dólar", disse Eustáquio Reis, diretor
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), órgão do
governo federal.
Em junho, o gás de cozinha foi o
principal responsável pelo aumento da inflação. Subiu 9,02%, o
que representou um terço da inflação do mês -ou 0,14 ponto
percentual da taxa. No ano, o produto já subiu 32,41%.
Também teve forte peso sobre a
taxa o item ônibus urbano (sob
impacto indireto da alta dos combustíveis), que subiu 2,44% e contribuiu com 0,11 ponto percentual
do IPCA de 0,42%.
O dólar também já mostrou
seus efeitos negativos sobre alguns alimentos, grupo que que vinha segurando a inflação em meses anteriores. É o caso do óleo de
soja (alta de 8%), do macarrão
(1,36%) e do pão francês (0,67%),
influenciados por preços internacionais ou importação.
"Os alimentos já estão começando a subir por causa do início
da entressafra e do câmbio. Em
junho, mesmo os alimentos que
continuaram em queda reduziram o ritmo. É o caso da carne",
disse Eulina Nunes dos Santos,
economista do IBGE.
De acordo com especialistas,
porém, o pior ainda está por vir.
Neste mês, o IPCA deve atingir
mais de 1%, segundo estimativa
do banco BBV e da consultoria
Tendências. A alta ocorrerá porque vários preços administrados
sofreram reajuste em julho. São
exemplos a gasolina (6,7%), o gás
de bujão (6,2%), as tarifas de telefone fixo (8%) e a energia elétrica
em São Paulo (14%). Só os três
primeiros itens devem ter um impacto de 0,56 ponto percentual
sobre o IPCA de julho.
"A meta já está comprometida.
Ainda mais agora, com os aumentos do gás e da gasolina em
julho", disse Luiz Afonso Lima,
do BBV, que espera uma taxa de
5,6% a 6% em 2002.
Já Marcela Prada, da Tendências, afirmou que nos últimos meses do ano o dólar deve cair a cerca de R$ 2,50. Isso reduziria a
pressão sobre a inflação, pois permitiria uma queda dos combustíveis. Mesmo assim, a economista
estima um IPCA de 5,8% no final
do ano -acima do teto da meta.
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