São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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EMPREGOS

Migração nos últimos 20 anos, causada por terceirização, faz setor industrial perder força no mercado de trabalho

Indústria emprega menos; serviços crescem

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Quem há 20 anos trabalhava numa telefônica ou numa indústria como faxineiro ou na área de manutenção hoje provavelmente está empregado numa empresa terceirizada que presta esses mesmos serviços ao setor industrial.
Essa é uma das conclusões tiradas a partir de levantamento inédito do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), obtido pela Folha, segundo o qual desde 1983 houve uma forte migração do emprego industrial para o setor de serviços.
Em 1983, a indústria respondia por 23,7% do número total de pessoas empregadas. Os serviços, por 47%. Em 2002 (até junho), a participação da indústria caiu para 15,8%. A do setor de serviços subiu para 55,5%.
Para Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) especializado em mercado de trabalho, o principal motivo para a mudança foi a terceirização de atividades não-essenciais à indústria.
A migração tornou-se mais intensa no início dos anos 90. "Na década de 90, o emprego industrial caiu muito com o processo de abertura comercial, que obrigou as empresas a se tornarem mais competitivas", afirma a economista Shyrlene Ramos de Souza, do IBGE.
De 1983 a 1992, a participação do emprego industrial perdeu pouco mais de três pontos percentuais -caiu de 23,7% para 20,4% do total. De 1993 a 2002, a queda superou quatro pontos -de 20,1% para 15,8%.
Desde 1999, a participação do emprego industrial se estabilizou em torno dos 16%. Para Ramos, isso mostra que possivelmente chegou ao fim o processo mais intenso de terceirização e que a indústria deve manter o atual efetivo nos próximos anos.
Apesar de o crescimento dos serviços ter absorvido as perdas da indústria, houve uma precarização do mercado de trabalho. É que, segundo Ramos, aumentou a informalidade. Motivo: o setor de serviços emprega 60% de seus trabalhadores sem carteira, enquanto na indústria 70% dos empregados são registrados.
No comércio, a participação também cresceu, mas com menos intensidade. O segmento respondia por 13,6% dos trabalhadores em 1983. Alcançou 15% em 1993 e manteve o patamar.
No caso do desemprego, as taxas de todos os setores caíram em meados dos anos 80 (Plano Cruzado). Subiram novamente no início dos anos 90, com a abertura comercial. Cederam um pouco a partir de 1994 com o Plano Real, mas voltaram a crescer a partir de 1998, sob o impacto das crises russa e asiática.
Na indústria, o desemprego cresceu de 6,2% em 1994 (ano do Real) para 8% em 2002 (até junho). Em 1983, fora de 7,3%. Nos serviços, que historicamente têm o menor nível de desemprego, a taxa aumentou de 3,8% em 1994 para 5,6% neste ano.
A taxa média de desemprego em 1983 era de 6,7%. Em 1994, de 5,1%. Em 2002, de 7,3%.
O levantamento do IBGE revela ainda uma queda do número de pessoas no mercado de trabalho. Em 1983, do total de pessoas em idade para se empregar (a partir de 15 anos), 60,4% estavam trabalhando ou procurando trabalho -ou seja, pertenciam à PEA (População Economicamente Ativa). Esse número caiu para 59,3% em 1994. Recuou para 56% em 2002.
Para Ramos, as pessoas estão estudando mais e entrando mais tarde no mercado -o que ele considera positivo. Também cresceu o desalento, o que as faz desistir de buscar emprego.


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