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LUÍS NASSIF
O interesse nacional
Nas próximas semanas
haverá um encontro em
Brasília de estudantes de relações internacionais. Nele, cada
faculdade representará um
país, entenderá quais seus interesses e os defenderá em um fórum de negociações. Utilizarão
as táticas que eles utilizam,
montarão acordos das quais
eles se valem.
Chamo a atenção para esse
evento porque representa a
consolidação de um conhecimento fundamental: o de que
as grandes potências são grandes porque aprenderam desde
crianças a incluir a defesa dos
interesses nacionais em todos
os seus atos externos e internos
-que podem ser uma norma
de comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio)
ou uma recomendação do FMI
(Fundo Monetário Internacional). Algumas são boas, algumas são ruins, nenhuma é desinteressada.
Pode ser uma estratégia positiva, de criar mercados de consumo nos países emergentes,
consolidar a democracia, criar
ambientes econômicos modernos. Pode ser uma agenda negativa, de impedir o desenvolvimento de tecnologias concorrentes, atrapalhar o desenvolvimento bélico; impedir alianças comerciais que fortaleçam
a autonomia dos emergentes.
O grande problema tanto do
nacionalismo quanto do internacionalismo dos anos 50 era a
indiferenciação de atores e
ações. Colocavam-se no mesmo balaio as iniciativas de Nelson Rockefeller de introduzir a
pesquisa agrícola em países
tropicais e as conspirações de
Lincoln Gordon em 1964.
Ambas as posições -dos nacionalistas e dos internacionalistas- refletiam a baixa auto-estima nacional, a falta de informação e, por conseqüência,
de fé na própria capacidade do
país de identificar oportunidades e armadilhas, para lograr
negociações soberanas.
Nos anos 90, era sinal de
"modernidade" repetir clichês
como "fazer a lição de casa",
defender que cortar verbas de
saúde e educação são precondição para o crescimento e supor que a internacionalização
da economia significaria o fim
do conceito de interesse nacional -uma visão tão enganadora quanto a de supor que faz
parte das virtudes de Estado
massacrar pobres e excluídos
para reservar recursos para a
banca.
A idéia da disfuncionalidade
Estado-nação está desmoralizada. Dois domingos atrás, o
próprio Francis Fukuyama, o
grande ideólogo da teoria do
"fim da história", no artigo em
que discute o livro "Multidão",
de Negri/Hardt (caderno
Mais), diz que "a falta de poder e a pobreza no mundo
atual não se devem ao excesso
de poder dos Estados-nação,
mas à sua fraqueza. A solução
não é minar a soberania, mas
construir Estados mais fortes
no mundo em desenvolvimento".
Para que esse Estado cumpra
suas funções, no entanto, são
fundamentais os princípios da
profissionalização e da impessoalidade na definição das políticas públicas.
Esse será um dos grandes desafios dos novos tempos que virão. Agora, é bobagem se espelhar no passado para decretar
a impossibilidade de um modelo eficiente de intervenção.
Hoje em dia, existe um grau de
consciência inédita no país.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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