São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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LUÍS NASSIF

O interesse nacional

Nas próximas semanas haverá um encontro em Brasília de estudantes de relações internacionais. Nele, cada faculdade representará um país, entenderá quais seus interesses e os defenderá em um fórum de negociações. Utilizarão as táticas que eles utilizam, montarão acordos das quais eles se valem.
Chamo a atenção para esse evento porque representa a consolidação de um conhecimento fundamental: o de que as grandes potências são grandes porque aprenderam desde crianças a incluir a defesa dos interesses nacionais em todos os seus atos externos e internos -que podem ser uma norma de comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio) ou uma recomendação do FMI (Fundo Monetário Internacional). Algumas são boas, algumas são ruins, nenhuma é desinteressada.
Pode ser uma estratégia positiva, de criar mercados de consumo nos países emergentes, consolidar a democracia, criar ambientes econômicos modernos. Pode ser uma agenda negativa, de impedir o desenvolvimento de tecnologias concorrentes, atrapalhar o desenvolvimento bélico; impedir alianças comerciais que fortaleçam a autonomia dos emergentes.
O grande problema tanto do nacionalismo quanto do internacionalismo dos anos 50 era a indiferenciação de atores e ações. Colocavam-se no mesmo balaio as iniciativas de Nelson Rockefeller de introduzir a pesquisa agrícola em países tropicais e as conspirações de Lincoln Gordon em 1964.
Ambas as posições -dos nacionalistas e dos internacionalistas- refletiam a baixa auto-estima nacional, a falta de informação e, por conseqüência, de fé na própria capacidade do país de identificar oportunidades e armadilhas, para lograr negociações soberanas.
Nos anos 90, era sinal de "modernidade" repetir clichês como "fazer a lição de casa", defender que cortar verbas de saúde e educação são precondição para o crescimento e supor que a internacionalização da economia significaria o fim do conceito de interesse nacional -uma visão tão enganadora quanto a de supor que faz parte das virtudes de Estado massacrar pobres e excluídos para reservar recursos para a banca.
A idéia da disfuncionalidade Estado-nação está desmoralizada. Dois domingos atrás, o próprio Francis Fukuyama, o grande ideólogo da teoria do "fim da história", no artigo em que discute o livro "Multidão", de Negri/Hardt (caderno Mais), diz que "a falta de poder e a pobreza no mundo atual não se devem ao excesso de poder dos Estados-nação, mas à sua fraqueza. A solução não é minar a soberania, mas construir Estados mais fortes no mundo em desenvolvimento".
Para que esse Estado cumpra suas funções, no entanto, são fundamentais os princípios da profissionalização e da impessoalidade na definição das políticas públicas.
Esse será um dos grandes desafios dos novos tempos que virão. Agora, é bobagem se espelhar no passado para decretar a impossibilidade de um modelo eficiente de intervenção. Hoje em dia, existe um grau de consciência inédita no país.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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