São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Em viagem ao país para melhorar relações, chanceler Amorim volta com queixas do governo Kirchner

Argentina cobra investimentos da Petrobras

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Com a missão de fazer uma visita política e estreitar os laços entre os dois principais parceiros do Mercosul, que recentemente passaram por nova disputa comercial, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, acabou saindo de Buenos Aires ontem pela manhã com uma lista de reclamações feitas pelo presidente Néstor Kirchner e alguns ministros para apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além de reforçar a ameaça de que poderá haver medidas restritivas para os sapatos brasileiros, os argentinos reclamaram da Petrobras, empresa que acusaram de não estar investindo o suficiente no país e da cobrança do PIS (Programa de Integração Social) e da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) sobre produtos importados. Eles ainda cobraram financiamento brasileiro para duplicar um trecho da estrada que liga Buenos Aires a Paso de los Libres, em Uruguaiana, segundo a Folha apurou com fontes do governo brasileiro.
Kirchner também cobrou mais investimentos da Petrobras em obras de transporte de gás. Em maio, quando a Argentina anunciou um pacote de medidas para combater a crise de energia, a Petrobras anunciou que participaria de investimentos para aumentar a capacidade do gasoduto San Martin, de Ushuaia (sul) à capital.
O presidente argentino teria dito que a empresa brasileira não está se esforçando para concretizar esses investimentos. Segundo o jornal portenho "Clarín", Kirchner teria dito ainda que "a política empresarial é oposta aos objetivos estratégicos acordados com o Brasil" e teria acusado a empresa de "irresponsável, por vender estoques sem fazer investimentos em prospecção". O recente aumento de 1,8% no preço da gasolina e de 2,9% no preço do óleo diesel promovido pela estatal brasileira foi outro motivo de queixas argentinas.
Sobre a questão, Amorim respondeu ontem, já em São Paulo: "Não cabe a mim falar sobre esse assunto. Eu não sou o presidente da Petrobras nem tenho conhecimento técnico para falar sobre isso. O que eu falei [para Kirchner] é que levaria [a questão] ao conhecimento do presidente Lula". O chanceler brasileiro também contemporizou o tom do encontro. "Não sei se chamaria de queixas. O presidente Kirchner fez colocações sobre a Petrobras."
Nas conversas que teve com os ministros da Economia, Roberto Lavagna, com o chefe da Casa de Governo, Alberto Fernandez, e com o ministro do Interior, Aníbal Fernandez, Amorim registrou também pedidos para que o governo brasileiro reveja a medida que estendeu o sistema PIS-Cofins aos produtos importados.
De acordo com os argentinos, esse sistema encareceu as vendas para o Brasil. Desde maio, as alíquotas de 1,8% do PIS e de 7,6% do Cofins estão incidindo também sobre as importações. O objetivo da mudança, aprovada por medida provisória em janeiro, foi atender aos pedidos da indústria nacional, que reivindicava equalização de custos, para diminuir a desvantagem dos produtos nacionais na concorrência com os importados.


Colaborou Cíntia Cardoso, da Reportagem Local

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