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"RISCO-MENSALÃO"
Com governo desarticulado no Congresso, proposta de ACM é aprovada e devolve MP à Câmara; Lula pode vetar alta
Senado surpreende e eleva mínimo a R$ 384
CLÁUDIA DIANNI
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise provocada por denúncias de corrupção e a desarticulação de sua base custaram ontem
ao governo sua derrota legislativa
com maior impacto potencial sobre a economia -o Senado, em
votação surpreendente, aprovou
o aumento do salário mínimo para R$ 384,29, o que cria uma despesa adicional calculada em R$ 12
bilhões ao ano.
A derrota ocorreu na votação da
MP (medida provisória) que elevou o salário mínimo a R$ 300 em
1º de maio, um reajuste de 7,8%
acima da inflação. Uma emenda
apresentada pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)
fixando ganho real de 38,1% foi
aprovada por 30 votos a favor, 27
contrários e 5 abstenções.
A MP voltará agora à Câmara,
onde o governo tentará restabelecer o valor do texto original. "Infelizmente essa proposta é inviável. Não há como aprová-la, pois
não há previsão no Orçamento",
disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
"Mesmo que o governo corte todo o investimento, não daria para
absorver esse aumento."
Em caso de nova derrota na Câmara, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva -que prometeu na
campanha dobrar o poder de
compra do mínimo em seu mandato- terá de enfrentar o desgaste público de vetar o aumento.
Nessa hipótese, o valor voltaria
aos R$ 260 anteriores à MP.
"Vamos ver agora, na Câmara,
se o governo vai cumprir sua palavra de dobrar o salário mínimo
durante este mandato", disse o senador José Agripino (PFL-RN).
É a segunda vez em que o Senado derruba uma proposta deste
governo de reajuste do mínimo.
Em 2004, o Senado rejeitou a proposta do governo de elevar o valor
para R$ 260. Na ocasião, a casa
aprovou uma proposta de reajuste para R$ 275, mas, ao retornar à
Câmara, o aumento aprovado foi
o proposto pelo governo.
Em junho, o governo sofreu
susto com a votação do mínimo
na Câmara. Uma trapalhada na
condução da sessão levou a Casa a
aprovar, por engano, proposta de
elevação do mínimo a R$ 536,28.
A votação teve de ser refeita.
LDO
Essa não foi a única derrota nos
últimos dias capaz de prejudicar a
política fiscal. O governo reunirá
o que lhe resta de articulação política para tentar alterar o projeto
da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) aprovado anteontem
pela Comissão de Orçamento do
Congresso. Com alterações de última hora, o texto trouxe medidas
que dificultam o controle de gastos na lei orçamentária de 2006.
Três inovações na LDO incomodam os ministérios da Fazenda e do Planejamento: a proibição
ao bloqueio de gastos incluídos
por parlamentares no Orçamento; o reajuste salarial de servidores
públicos; e a brecha para uma renegociação das dívidas agrícolas.
A missão da área econômica,
que coleciona derrotas legislativas
(veja quadro ao lado), é vista com
pessimismo pelos governistas. O
texto da LDO, relatado pelo deputado Gilmar Machado (PT-MG),
foi aprovado na comissão sem necessidade de votação nominal
porque houve amplo acordo.
Machado não segue a orientação do governo nem da cúpula
petista. O deputado faz parte de
um grupo de 21 parlamentares
autodenominado "PT Livre", que
ameaça deixar o partido após a série de denúncias de corrupção.
Quanto ao reajuste dos servidores, o Planejamento começou ontem a calcular o impacto do mecanismo fixado no texto do relator:
um aumento mínimo equivalente
à variação real (acima da inflação)
estimada da renda per capita neste ano, algo em torno de 1,5%.
O projeto do Orçamento de
2006, que precisa ser enviado ao
Congresso até o final deste mês,
estava sendo elaborado sem previsão de verba para essa medida.
Fazenda e Planejamento enfrentam ainda a pressão da bancada ruralista por uma ampla renegociação das dívidas agrícolas.
A Comissão de Orçamento só votou a LDO porque o governo concordou em deixar para 2006 o pagamento de três parcelas mensais
do crédito agrícola deste ano.
Bastidores
A derrota do Palácio do Planalto
na votação do salário mínimo foi
interpretada por governistas e
oposicionistas como a união de
três fatores: insatisfação da oposição com o que eles chamam de
tentativa do PT de jogar PSDB e
PFL no escândalo do "mensalão",
desarticulação da base governista
e o temor de alguns senadores de
votar contra um mínimo maior.
Senadores da oposição ouvidos
pela Folha disseram que o líder
do governo na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP), chegou a pedir
ajuda a eles durante a sessão.
"Não dava, não havia clima, ninguém mais acredita na promessa
deles, eles não têm credibilidade
para mais nada", disse um deles.
"Quando ele vinha conversar, a
pergunta era ele já havia ido à CPI
desautorizar o Pimenta", afirmou
o senador, em referência ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que
vazou uma lista de pessoas ligadas
ao PSDB que teriam sido beneficiadas por dinheiro do publicitário Marcos Valério.
A insatisfação da oposição, porém, não seria suficiente para levar o Planalto à derrota na votação do mínimo: 11 senadores da
base aliada, sendo 2 petistas, deram votos contrários ao mínimo
de R$ 300, além do fato de vários
governistas terem se ausentado.
Colaborou Ranier Bragon, da Sucursal de Brasília
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