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Lula tenta contornar a disputa entre os ministros
Furlan se queixou de Mantega com presidente e insinuou que poderia deixar governo
Mantega diz que entende colega, mas que pedidos "não cabem no cofre'; em tom irônico, Furlan afirma que Palocci o tratava melhor
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desentendimento entre os
ministérios de Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) e
Guido Mantega (Fazenda)
-explicitado ontem pelo secretário da Fazenda, Julio Gomes
de Almeida- faz parte de uma
disputa que já vinha sendo contornada nos bastidores do governo pelo próprio presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Recentemente, Furlan se
queixou de Mantega com Lula e
até insinuou que poderia deixar
o governo porque não conseguia emplacar suas idéias. Mas
Lula convenceu Furlan a permanecer e o incentivou a continuar fazendo suas propostas.
Segundo interlocutores do
Palácio do Planalto, Furlan reclamou de que todas as suas
propostas são "bloqueadas" pela Fazenda. E, para dar uma noção melhor da sua insatisfação,
chegou a ironizar que o ex-ministro Antonio Palocci Filho o
tratava bem melhor.
Na gestão anterior, Furlan
até contava com a simpatia de
Palocci, mas enfrentava a resistência dupla dos secretários do
Tesouro, Joaquim Levy, e da
Receita, Jorge Rachid, que propunham veto a tudo o que vinha do Desenvolvimento.
Hoje, a posição de Mantega
se aproxima mais da de Furlan,
o que ele reconhece, apesar de
suas reclamações. Ainda assim,
os dois não conseguem se entender totalmente, e o maior
problema com o Ministério da
Fazenda é o respaldo que seu
colega vem dando à Receita.
Na semana passada, o ponto
da discórdia foi o pacote que alterou as regras cambiais. As
equipes de Mantega e Furlan
entraram em atrito por causa
da proposta da Receita de cobrar CPMF sobre a parcela de
receita de exportação que ficaria no exterior.
Mantega chegou a defender
publicamente a tese da Receita,
mas acabou recuando e aceitando a isenção de CPMF. Ou
seja, Furlan ganhou essa disputa, mas não teria conseguido fazer com que mais de 30% das
receitas com exportações ficassem no exterior.
"Primeiro ele defendia os
30%. Depois [do anúncio do pacote] defendeu um percentual
maior. A proposta [de Furlan]
do pacote cambial foi acatada e
era a isenção da cobrança da
CPMF para uma parte da transação", disse Mantega à Folha.
Agora, Furlan quer mais desoneração. A Receita mais uma
vez se opõe. No caso do setor da
construção civil, o ministro insiste em nova rodada de redução de tributos. Mantega aceita
só criar mais facilidades de financiamento: "A medida [que
deverá ser anunciada] é mais
de caráter financeiro, embora
haja pleito do Desenvolvimento para desoneração".
O Planalto incentiva Furlan
a lutar por suas posições. Lula,
que sabe das divergências, será
o árbitro. Por isso, segundo a
Folha apurou, o presidente
considera que Furlan está no
seu papel ao defender, mesmo
que publicamente, as demandas do setor produtivo. Por outro lado, Lula também argumenta que Mantega vai sempre
analisar tudo com cuidado para
ver os "prejuízos" que as medidas podem levar aos cofres públicos. No final, sairá vencedor
quem conseguir convencê-lo.
Ontem, após o constrangimento causado pelas declarações do secretário de Política
Econômica, Fazenda, Desenvolvimento e até o Palácio do
Planalto atuaram para contornar a disputa e evitar que ela
fosse interpretada como uma
crise de governo nas vésperas
da eleição presidencial.
Furlan negou que tivesse divergências com o ministro da
Fazenda. Já Mantega disse à
Folha que desconhecia as reclamações que teriam sido feitas por Furlan a Lula e que tem
"um bom diálogo" com o colega. "Ontem [quarta-feira], estivemos juntos na Camex [Câmara de Comércio Exterior], e
as relações são boas."
Mantega disse ainda que
acha legítimo que Furlan traga
as demandas do setor privado
para o governo: "Mas, às vezes,
elas não cabem no tamanho do
cofre". Por isso, ele insistiu em
que não há espaço para desoneração. "Fazemos as coisas com
parcimônia", afirmou.
(SHEILA D'AMORIM, LEANDRA PERES E KENNEDY ALENCAR)
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