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Nova corrida aos bancos testa velhas salvaguardas
Nova arquitetura financeira depende mais de títulos do que bancos como intermediários
Bancos centrais como o Fed e o BCE foram criados para regular cenários diferentes e têm pouca influência nos mercados de títulos atuais
Tomasz Gzell/Efe
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Operador da Bolsa de Varsóvia (Polônia) observa índices em queda dos mercados financeiros |
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
Há algumas gerações, os depositantes respondiam a pânicos financeiros com corridas
aos bancos, e até as instituições
saudáveis podiam entrar em
colapso, caso não fossem capazes de levantar dinheiro com
rapidez suficiente para atender
aos pedidos de saque.
Esse tipo de situação parecia
relegado ao passado. Mas agora
as corridas voltaram, e desta
vez os alvos não são bancos,
mas os títulos financeiros que
os substituíram como veículo
principal de geração de crédito
no novo sistema financeiro.
"Nosso atual sistema de financiamento alavancado, e as
estruturas a ele correlatas, podem conter falhas graves", disse William Gross, vice-presidente de investimento da administradora de fundos mútuos Pimco. "Nada no sistema
incorpora questões como o
hedge ou riscos de liquidez, e é
esse o problema do momento".
O problema vem incomodando os EUA a intervalos regulares. O pânico de 1907 só foi contido quando o banqueiro J. P.
Morgan convenceu os bancos a
se manterem unidos e impedir
que continuasse a seqüência de
fechamentos, por meio de empréstimos às instituições
ameaçadas. O episódio resultou na criação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos
EUA), já que o Congresso desaprovava a idéia de que a saúde
financeira do país tivesse ficado
dependente do patrimônio e da
sabedoria de um cidadão.
Depois veio a Depressão,
com uma onda de falências
bancárias que levou ao estabelecimento do sistema federal
de garantia a depósitos. Com
ele, os correntistas se convenceram de que preocupações
quanto à saúde de seus bancos
eram desnecessárias, e as corridas aos bancos cessaram.
Mas nos últimos dez anos
emergiu uma nova arquitetura
financeira, mais dependente
dos títulos em si e menos dos
bancos como intermediários.
Já que o valor dos títulos está
agora em questão -e não existe
mecanismo equivalente à garantia de depósitos, para eles-,
algumas das pessoas que financiaram esses papéis desejam
seu dinheiro de volta, o fato que
criou o equivalente atual de
corrida aos bancos.
Agora, enfrentar a crise cabe
a instituições criadas para tratar dos problemas que afligiam
o antigo sistema, em especial
bancos centrais como o Fed e o
Banco Central Europeu (BCE).
Mas, em contraste com seu envolvimento estreito no funcionamento do sistema bancário,
essas instituições têm baixo poder de fiscalização sobre os títulos que estão enfrentando
problemas, e talvez nem mesmo saibam quem os detêm.
No cerne do novo sistema está uma decisão de usar os investidores como financiadores diretos de empréstimos, em lugar
de o fazerem por via indireta,
através de depósitos bancários.
Os investidores, que variam de
fundos de hedge a indivíduos
com alto patrimônio, tinham
confiança no arranjo porque a
maioria dos títulos era considerada muito segura e contava
com a benção de agências de
classificação de crédito como
Moody's e Standard & Poor.
Os títulos com classificação
de crédito relativamente elevada pagam menos juros, mas até
o momento havia muitos investidores que estavam dispostos a
mantê-los ou a emprestar dinheiro às instituições que os
detêm. No entanto, caso haja
qualquer dúvida sobre sua segurança, não existe motivo algum para mantê-los da mesma
maneira que não havia motivo
para manter dinheiro depositado em um banco que enfrentava boatos sobre sua segurança e
uma corrida aos depósitos.
O resultado foi um congelamento do mercado para muitos
papéis que, como foi revelado
mais tarde, eram essenciais a
fim de que o crédito fluísse livremente. O problema começou a receber atenção generalizada quando dois fundos de
hedge operados pelo banco
Bear Stearns entraram em colapso, e um terceiro fundo da
mesma empresa teve de suspender seus resgates enquanto
os investidores tentavam sair,
ainda que não houvesse indícios de problemas.
"O anúncio quanto ao terceiro fundo da Bear Stearns foi o
momento chave", disse Robert
Barbera, economista-chefe da
ITG. "Era preciso crer que, nos
complexos mundos de fundos
mútuos e hedge, estava surgindo um consenso quanto à posição de "melhor ter alguns títulos do Tesouro à mão, caso surjam pedidos de resgate" ".
O cerne do novo sistema era a
crença de que títulos sustentados por crédito fraco podiam
ser muito seguros desde que
existissem outros papéis que
sofreriam as primeiras perdas
causadas pela inadimplência
em emissões de títulos de crédito imobiliário de alto risco
("subprime") ou de empréstimos a companhias muito endividadas.
Até o momento, nenhum
desses papéis de alto preço deixou de pagar em dia seus juros,
mas esse fato não basta para
convencer qualquer investidor
a adquiri-los. As agências de
classificação de crédito rebaixaram alguns dos títulos e estão
adotando padrões mais rigorosos em futuras avaliações.
No começo desta semana, investidores em bolsas de todo o
mundo tentaram se reconfortar dizendo que nada havia de
realmente errado, e os papéis
do setor financeiro se recuperaram depois das quedas acentuadas da semana passada. Os
analistas argumentavam que os
lucros continuam fortes, e o
mesmo se aplica ao crescimento econômico mundial.
Na terça-feira, o Fed se recusou a reduzir a taxa de fundos
federais, sua taxa de juros de referência, alegando que, a despeito da volatilidade do mercado e da queda no setor da habitação, "a economia provavelmente continuaria a se expandir em ritmo moderado nos
próximos trimestres, com o
apoio do sólido crescimento no
emprego e na renda e uma economia internacional robusta".
Mas essa perspectiva reconfortante não ajudou a recuperar os mercados de crédito ou
convenceu investidores a adquirir os papéis, agora vistos
como duvidosos. Ninguém deseja vender os títulos a preços
baixos demais. E, em muitos
casos, as instituições tomaram
empréstimos pesados usando-os como lastro. Assim, os mercados secaram.
Um componente que agravou o problema é o fato de que
os títulos agora questionáveis
estão bem distribuídos pelo
mercado e ocasionalmente foram aproveitados como base
para outros instrumentos financeiros. Bancos e fundos dos
EUA e da Europa detêm títulos
vinculados a créditos "subprime", e não se sabe quem mais
está nessa posição, ou de que
forma os investidores reagirão.
Os bancos que estão preocupados com sua liquidez decidiram nesta semana elevar suas
reservas, o que podem fazer por
meio de captação junto a outros bancos. Os juros sobre essa
captação subiram como resultado da elevação na demanda. E
o Fed e o BCE foram forçados a
injetar bilhões no sistema para
tentar levar essas taxas de empréstimos interbancários de
volta à meta.
Se o atual pânico não passar
de um medo irracional, essas
injeções de dinheiro podem
bastar para permitir que o novo
sistema financeiro sobreviva à
tempestade. É possível emprestar dinheiro às instituições
que detenham papéis dúbios, o
que contornaria a necessidade
de vendê-los. À medida que esses papéis se provarem sólidos,
os empréstimos poderão ser
pagos, e todos sairão felizes.
Por outro lado, caso muitos
desses papéis se provarem tão
instáveis quanto muita gente
agora acredita, alguns dos compromissos não serão honrados
e haverá ainda mais quebras.
O novo sistema financeiro
não é aquele que o Fed foi criado para regular, mas ele precisa
tentar domá-lo.
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