São Paulo, terça-feira, 11 de agosto de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lucro e emprego nas montadoras


Empresas raparam empregos na vigência do IPI menor; remessa de lucros caiu, mas ainda foi de quase US$ 800 mi

AS MONTADORAS continuaram a demitir depois do "acordo de cavalheiros" firmado na prorrogação do corte do IPI, em março. Demitiram muito menos, mas demitiram. Foi devido ao "acordo"? Difícil reescrever a história, mas provavelmente não. As montadoras já haviam feito a grande limpa de empregos de novembro a março. Nesse mês, já era evidente uma grande recuperação nas vendas domésticas de veículos, embora a queda de exportações deva ser tremenda neste ano. No final das contas, no balanço apresentado ontem pela associação das montadoras, a Anfavea, a produção total de veículos deve cair uns 5% de 2008 para 2009.
Segundo o Caged, o grupo de atividade econômica "fabricação de automóveis, camionetas e utilitários" cortou mais 499 empregos (saldo de contratações e demissões), de abril a junho. De janeiro a março, o saldo foi negativo em 5.179 trabalhadores; no semestre, foram-se 5.678 empregos. Nas fábricas de ônibus e caminhões, 1.369 empregos.
Isto é, as fábricas demitiram e, então, veio o "acordo de cavalheiros".
Não que faça muito sentido tal tipo de coisa, regular "ad hoc" e no varejo a força de trabalho. Mas fica evidenciada a conversa fiada político-trabalhista que doura isenções fiscais. Tais isenções, aliás, podem ser bem úteis -no caso das montadoras, evitou a disseminação de uma crise ainda pior pela indústria. Mas o conjunto da política de incentivos é muito obscuro e mal avaliado.
Uma comparação simples dá o que pensar sobre o motivo de favorecer tal ou qual setor. Houve fábricas de material de transporte que não foram beneficiadas pela queda do IPI (ou apenas o foram indiretamente). Sempre segundo a classificação Caged/ Cnae, a indústria de autopeças cortou 22.183 empregos de janeiro a junho, 7,7% do estoque de empregos do início de janeiro. As de cabines e carrocerias, 7,1%.
No caso de montadoras de automóveis, a redução do estoque de empregos no período foi de 6,9%; nas fábricas de ônibus e caminhões, 6,2%. Ou seja, as demissões de cada subsetor ficaram mais ou menos na mesma faixa. Mas quem ficou com lucros maiores (para nem mencionar quem faliu, ou quase)? Mistério. Não temos os relatórios econômico-financeiros das empresas. O governo, por acaso, teria?
Difícil, pois, saber o resultado das montadoras. Provavelmente lucraram menos -nada contra lucros, mas no caso em tela houve benefício fiscal. Valeu a pena? Para quem?
Decerto as montadoras remeteram menos lucro para as matrizes no exterior. Na primeira metade de 2008, enviaram US$ 2,76 bilhões, segundo o Banco Central. No primeiro semestre de 2009, foram US$ 793 milhões, queda de 71%. Mas ainda assim tratou-se de bela remessa para um setor que precisou de uma mãozona do governo e, no fim das contas, enviou grana para matrizes quase falidas, como as dos EUA.
Na primeira metade de 2008, as montadoras lideraram as remessas de lucros para o exterior, com vantagem de uma cabeça sobre bancos e cia. De lá para cá, a fatia das montadoras no total de remessas de lucros caiu de 20% para 11%. A dos bancos e cia. subiu de 17,7% para 20% (US$ 1,47 bilhão no primeiro semestre). As montadoras ficaram na vice.

vinit@uol.com.br


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