|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RENOVAÇÃO
Presidente pede inclusão de metas sociais, como número de famílias assentadas e a melhora do saneamento básico
Lula dá sinal verde a novo acordo com o FMI
KENNEDY ALENCAR
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deu sinal verde para o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) negociar um novo programa
de ajuda financeira com o Fundo
Monetário Internacional, mas
desde que em bases mais favoráveis para o crescimento do que as
previstas no atual acordo.
Segundo a Folha apurou, Lula
quer também que constem no novo programa metas sociais, como
o número de famílias assentadas
na reforma agrária e o aumento
da rede de saneamento básico.
Palocci recebeu o aval do presidente em uma reunião na terça-feira da semana passada, da qual
participou também o ministro José Dirceu (Casa Civil).
Na ocasião, Palocci disse a Lula
e a Dirceu que o FMI aceitaria negociar a inclusão de avanços sociais. Na quinta-feira passada,
portanto depois do encontro, Palocci disse, em entrevista a jornalistas, que já havia iniciado negociações com o Fundo.
Para o ministro da Fazenda, o
governo brasileiro deveria assinar
um novo acordo com o FMI de
natureza diferente do atual, de
modo a permitir mais gastos nas
áreas sociais e investimentos estratégicos em infra-estrutura.
A decisão deverá sair em outubro. Entre quinta e sexta-feira da
semana que vem, Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, viajam para Dubai
(Emirados Árabes), onde será
realizado o encontro anual do
FMI. Na ocasião, Palocci tratará
da renovação do acordo com o
Fundo.
"Cheque especial"
Com ou sem um novo acordo, o
governo vai manter políticas fiscal
e econômica ortodoxas pelos próximos anos. Entre elas, uma meta
elevada de superávit primário (receitas menos despesas, exceto
gastos com juros).
A idéia é renovar o "cheque especial" agora, num momento em
que o cenário externo está calmo e
que o Brasil é bem avaliado pelos
mercados financeiros internacional e doméstico.
Ainda assim, o governo negociaria com o FMI um acordo menos restritivo que o atual. O Planalto gostaria, por exemplo, que
os investimentos da Eletrobrás recebam o mesmo tratamento que
os da Petrobras.
Com exceção da companhia petrolífera, todas as demais estatais
têm seus investimentos contabilizados simplesmente como gastos,
o que impacta no cálculo do déficit público.
O governo também vai tentar
retirar do cálculo do déficit público os investimentos em saneamento básico e infra-estrutura financiados com recursos do FAT
(Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O governo tem insistido que, do
ponto de vista financeiro, o Brasil
não precisaria fazer um novo
acordo com o Fundo. Segundo o
secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda,
Otaviano Canuto, "se decidirmos
fazer um novo acordo, vai ser
uma decisão independente da
questão financeira".
Entre as vantagens de não fazer
um novo acordo, segundo o secretário, está o fato de que o dinheiro do Fundo que está nas reservas fica liberado para uso, sem
qualquer restrição.
Segundo outro graduado integrante do governo ouvido pela
Folha, o debate sobre o novo
acordo com o FMI deixou de ser
financeiro para transformar-se
num dilema psicológico. Tudo
dependeria, segundo essa lógica,
de como vai reagir o mercado se o
Brasil decidir fazer um novo acordo ou se simplesmente desistir.
Canuto discorda dessa fonte.
Ele reconhece que o mercado
considera que o apoio do Fundo é
importante do ponto de vista da
credibilidade da política econômica. Mas disse que a reação do
mercado a um novo acordo é apenas um dos componentes que serão analisados.
O porta-voz do FMI, Thomas
Dawson, disse ontem que o Fundo já discute um novo acordo
com o Brasil. "O FMI e as autoridades brasileiras estão discutindo
de perto, e estamos contentes em
poder debater o tipo de continuidade no relacionamento que teremos mais à frente. As autoridades
brasileiras deverão indicar quais
são as suas preferências, e nós vamos tentar trabalhar com eles."
Colaboraram Fernando Canzian, de
Washington, e Maria Luiza Abbott,
de Londres
Texto Anterior: Luís Nassif: Os bastidores do caso AES Próximo Texto: Economista que criticou Meirelles vai para o BC Índice
|