São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2005

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LAZER

Endividados, empreendimentos negociam com BNDES e outros credores e elevam preços a fim de melhorar resultado

Parques de diversões tentam sair do vermelho

Leonardo Wen/Folha Imagem
Freqüentadores em brinquedo no Playcenter, em São Paulo; público caiu 12% de janeiro a junho, mas parque afirma estar no azul


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O processo de reestruturação dos parques de diversões no país não dá sinais de chegar ao fim: parte deles continua no vermelho, ainda carrega dívidas em atraso com o BNDES, o banco de fomento do governo, e quem tenta vender o investimento simplesmente não consegue. A anunciada "virada" do negócio, na prática, não aconteceu até o momento.
Redução nos gastos com lazer por parte do brasileiro de classe média, despesas crescentes com manutenção, segurança e novos brinquedos -que exigem um bom caixa da empresa- e até o excesso de chuvas em períodos-chave, na chamada temporada para esse tipo de negócio, atrapalharam os planos otimistas.
Esforços continuam a ser empregados por todas as empresas. O Hopi Hari inventou um passaporte com preço mais salgado que o comum (R$ 59, contra os atuais R$ 35,90) que dava entrada livre no local por dois meses aos pagantes neste ano.
De abril a junho, a empresa montou três shows de rock com bandas populares a fim de tentar aumentar a circulação e a receita do parque durante os eventos. Ainda renovou acordo de patrocínio com uma montadora em 2005 e fez promoções relâmpago com o preço do passaporte na entressafra de público, em abril.
Na ponta do lápis, o público pagante total, de janeiro a junho, cresceu 8,5%. O gasto per capita subiu 7,7% no semestre. O faturamento cresceu em 2005, mas o prejuízo aumentou. Ao final de junho, o buraco no Hopi Hari se expandiu: atingiu R$ 42,8 milhões, contra um prejuízo menor, de R$ 34,6 milhões, em junho do ano passado.
Pouco depois, em julho, a empresa foi informada de que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pediria na Justiça o arresto dos bens do parque. Foi movida uma ação nesse sentido, por conta de uma dívida de R$ 77,9 milhões -segundo o balancete atual da empresa- contraída pelo parque, que está inadimplente desde junho de 2002. O banco quer a penhora dos brinquedos e do terreno do empreendimento, localizado em Vinhedo (a 79 km de SP).
"A ação de cobrança está em curso, e a administração da companhia continua negociando com o banco para obter o mesmo entendimento que tiveram com credores privados", responde Armando Pereira, presidente da empresa, em pergunta encaminhada por e-mail pela Folha.
Com os credores privados, o Hopi Hari conseguiu fechar, há mais de um ano, um acordo que prorroga para outubro de 2008 o pagamento de debêntures no valor de R$ 200 milhões.
Com pendências em aberto, o Hopi Hari e a Terra Encantada, esse último o principal parque do Rio de Janeiro, buscam uma solução até fora de casa. "A companhia também está analisando possíveis acordos de parceria estratégica [...] e busca novos investimentos para alcançar margem de lucratividade compatível com os investimentos realizados", informa o Hopi Hari em nota no balancete financeiro.
Na Terra Encantada, há semelhanças nesse processo. A empresa diz também estar interessada numa solução com o BNDES, informa que planeja a venda e até mesmo o fechamento do parque e comenta a atual "rejeição" ao setor pelo mercado.
"Teremos algum tipo de negociação com o banco. Estamos abertos a um acordo, seja renegociando a dívida ou repassando o parque a um grupo estrangeiro interessado, que levaria o débito com a compra", diz o gerente comercial do parque, Luiz Pacheco.
"A questão é que o mercado se fechou para os parques, por conta das dificuldades que o setor enfrentou. Para ter um mínimo de equilíbrio nas contas, deveríamos cobrar US$ 15 [em torno de R$ 35] pelo passaporte. Nós cobramos R$ 16", diz Pacheco.

Igreja
A Terra Encantada alugou há quatro anos uma área do parque para uma igreja evangélica e outro espaço para a Universidade Estácio de Sá, de quem recebe R$ 150 mil ao mês pela locação.
"Não é possível afirmar quando ficaremos no zero a zero e atingiremos o equilíbrio. Mas temos trabalhado para crescer por meio do aumento no público pagante. Não reajustaremos preços", diz.
O banco Brascan iniciou, no final de 2004, um processo de busca de interessados pela participação da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, no Hopi Hari.
A Terra Encantada esteve em reuniões com estrangeiros norte-americanos em 2004 e em 2005 -que foram colher dados sobre a situação da empresa. Em nenhum dos casos, houve avanço nas conversas, apurou a Folha.
Administrado pelo boliviano Marcelo Gutglas, o Playcenter também comandou um processo de reestruturação iniciado em 2002 focado no corte de custos, reposicionamento de público -voltado mais para a família e menos para os adolescentes- e ampliação dos negócios para eventos em geral.
Não há nenhum dado disponível pela empresa, ou no mercado, que mostre que a ação tenha surtido efeito. A companhia diz que está no azul, mas não informa o tamanho desse lucro. Parte do resultado, avalia a direção, é decorrente da diminuição de descontos concedidos a grupos visitantes -ou seja, indiretamente ao aumento de preço.
O pagamento à parte de certas atrações, que também pesa no bolso do visitante, ainda ajudou no desempenho, informa o presidente da empresa, em respostas enviadas em nota à Folha.
No caso do Playcenter, até mesmo os fatores climáticos atrapalharam o desempenho.
O parque informa que o público pagante no parque caiu neste ano. De janeiro a junho, a retração foi de 12% sobre igual período de 2004. As chuvas de janeiro, mês forte para a atividade, afetaram o desempenho, informa a empresa.

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