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CRISE NO AR
Enviada aos EUA para evitar arresto de aviões, Márcia Cunha diz que recuperação está 90% nas mãos dos credores
Prazo é inviável para salvar Varig, diz juíza
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
O prazo restante para a recuperação da Varig é inviável para salvá-la, diz a juíza Márcia Cunha,
42, que, com outros três colegas,
acompanha o processo da aérea,
que já tem mais de 30 volumes.
Amanhã, a Varig entrega à Justiça o seu plano de recuperação.
Em 90 dias, termina a blindagem
criada pela lei e os credores poderão tomar bens da companhia. A
prorrogação do prazo, que é vedada pela lei, será, segundo a juíza, o maior desafio a enfrentar.
Enviada aos EUA para conversar com a Justiça americana
-que recebeu pedidos da empresa de leasing ILFC para arrestar 11
aviões da Varig-, ela afirma que
o sucesso da recuperação judicial
depende 90% dos credores.
Leia trechos da entrevista que a
juíza concedeu à Folha.
Folha - Como foi a visita aos EUA?
Márcia Cunha - A audiência foi
pública, com a presença de credores americanos, duas empresas de
leasing [entre elas a ILFC], a Varig
e as pessoas que quiseram assistir
ou até participar pelo telefone.
Folha - A sra. teve uma conversa
reservada com o juiz americano?
Cunha - Tive. Mas, pelas normas
americanas, não se pode falar sobre o caso concreto. Se quiséssemos conversar, poderíamos, mas
a conversa teria de ser gravada.
Nós nos limitamos a conversar
sobre as leis americana e brasileira. Pude mostrar a ele as semelhanças. Isso não foi inédito para
os americanos, já houve audiência com um juiz inglês no caso de
uma empresa de navegação.
Folha - E na Justiça brasileira?
Cunha - No intercâmbio sobre
um caso concreto, não conheço
[outros casos]. Com a globalização, isso vai ter de acontecer mais.
Não que seja necessária a presença, talvez possa ser por videoconferência. Se os negócios são internacionais, é importante haver intercâmbio entre as Justiças e desenvolver leis semelhantes. Não
adianta tentar recuperar a empresa aqui se um juiz do outro lado
do mundo retira os aviões. Um
juiz não influencia a decisão do
outro. Minha intenção foi mostrar as limitações da lei brasileira,
que impediriam a Varig de cumprir seu compromisso lá.
Folha - A sra. pediu mais prazo?
Cunha - Eu não pedi nada, expliquei por que [o cumprimento] seria impossível agora. Disse que
muito provavelmente a Varig terá
condições de pagar [no futuro]. A
liquidez depende de prazos da lei
brasileira, que impede a venda de
ativos para pagar o débito sem autorização dos credores e do juiz.
Folha - A sra. viajou de Varig?
Cunha - Sim, até para dar credibilidade. Cheguei na segunda [dia
5] e saí de lá no dia seguinte.
Folha - Na classe executiva?
Cunha - Foi. Conversei com o
juiz americano e voltei.
Folha - Por que há quatro juízes
trabalhando em conjunto?
Cunha - É um trabalho hercúleo.
É uma lei nova e são muitos interesses envolvidos. Cada um tem o
processo e mais a sua vara inteira
para carregar. Como o juiz titular
se aposentará em outubro, evitaremos a quebra da continuidade.
Folha - Por que haverá uma solenidade para a entrega do plano?
Cunha - É um momento importante, envolve um interesse público fenomenal, são milhares de
empregos. Milhares de pessoas
aposentadas dependem do fundo
de pensão Aerus. Há empregos
indiretos, há empresas-satélite
que dependem da Varig. A repercussão na economia e no moral
do brasileiro é muito grande.
Folha - Qual é a sensação de ter o
destino da Varig nas mãos?
Cunha - É uma responsabilidade
grande, mas, se a Varig vai quebrar ou não, não sabemos. O espírito da lei é recuperar a empresa
viável. Quanto antes a empresa
que não é viável for à falência, melhor para a sociedade.
Folha - A Varig é viável?
Cunha - Acho que ela tem muita
viabilidade, tem tudo para se recuperar. Mas só vou poder dizer
isso após a análise do plano.
Folha - Há chance de estender o
prazo de 180 dias para o processo?
Cunha - Essa vai ser a decisão
mais difícil. A lei diz que esse prazo é improrrogável.
Folha - Esse prazo é viável para
uma empresa do porte da Varig?
Cunha - Não acredito que seja.
Folha - De quem depende o sucesso da recuperação?
Cunha - Depende de muita gente, daí a dificuldade. Depende basicamente de os credores quererem. Diria que 90% está nas mãos
deles. Depende de ativos que possibilitem isso e depende de dinheiro novo. O que está nas mãos
do Judiciário, ele está fazendo.
Folha - A nova fase será difícil?
Cunha - A aprovação do plano é
complicada. Pode ser que os credores não queiram a recuperação
da forma como a Varig propuser.
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