|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Importância da Ásia vai além do câmbio chinês
MOHAMED EL-ERIAN
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Dois fatores determinarão
de que maneira as economias industrializadas sustentarão
seu crescimento em médio prazo
e que segmentos dos mercados
oferecerão as melhores remunerações. O primeiro é a maneira
pela qual o mundo acolhe a presença da Ásia no cenário econômico; o segundo é a maneira pela
qual os países industrializados resolvem a questão das bolhas.
Por enquanto, não há grande
consenso quanto a essas questões,
o que eleva o risco de uma decisão
política equivocada. Em curto
prazo, o risco é agravado pelo furacão Katrina.
A posição emergente da Ásia no
mercado mundial atingiu massa
crítica. A participação da região
no comércio mundial vem crescendo. Sua baixa estrutura de custos reduziu as pressões inflacionárias mundiais. E, com as reservas internacionais asiáticas em
expansão, os bancos centrais da
região se tornaram uma grande
influência sobre as taxas mundiais de juros e câmbio.
Esses desdobramentos alteraram estruturalmente relacionamentos tradicionais e por isso
ajudam a explicar as aberrações
históricas que constatamos no
momento. Nos EUA, colocam em
destaque o crescimento relativamente discreto no emprego industrial, a incapacidade de empresas de repassar o aumento nos
preços de commodities e a ausência de uma depreciação do dólar.
Embora reflita um choque
mundial de oferta, a ascensão
asiática também exerce efeitos
importantes sobre o desempenho
de diferentes setores em cada economia. Faz muita diferença se você participa da cadeia de produção da Ásia ou compete com ela.
Não admira que empresas de
commodities e países emergentes
prosperem enquanto indústrias
enfrentam dificuldades.
A natureza multidimensional
da influência asiática no mundo
não se reflete no debate dos círculos financeiros e econômicos, cujas atenções estão concentradas
na questão do câmbio da China.
Os riscos desse foco estreito são
significativos. Primeiro, ao limitar
a análise de uma transformação
histórica ao desalinhamento de
um preço, a atitude oculta mudanças estruturais. Segundo, ela
simplifica excessivamente a dimensão política do debate, aumentando a probabilidade de medidas protecionistas desfavoráveis a todos. Terceiro, ela solapa a
espécie de coordenação política
internacional necessária para corrigir os desequilíbrios nos balanços de pagamentos. Por fim, ela
exacerba as bolhas ao contribuir
para a formação equivocada dos
indicadores de liquidez, volatilidade e riscos pelos mercados.
As bolhas também foram facilitadas por um segundo fator: inovações financeiras que reduziram
as barreiras à entrada em certos
mercados. Isso é mais visível na
habitação dos EUA, em que empréstimos que envolvem o pagamento de juros sem pagamento
imediato do principal criaram
uma brecha cada vez maior, em
determinadas áreas, entre as
compras imediatas de casas e a
acessibilidade de preço em prazo
mais longo. Nesse meio tempo, o
risco subjacente é vendido a investidores que podem subestimar
a exposição de crédito associada.
As altas sucessivas nas taxas de
juros norte-americanas podem
não ser uma maneira eficiente de
administrar esse segundo fator. E,
com a alta no preço do petróleo
causada pelo Katrina, o risco de
aumentar os juros subiu devido à
ameaça potencial ao consumo
dos domicílios norte-americanos.
Em termos mais gerais, parece
que falta ao mundo, no momento,
uma abordagem mais abrangente
quanto a desafios que o Katrina só
tornou mais difíceis. Portanto, há
necessidade de liderança política
que reconheça a natureza das mudanças estruturais. Quanto mais
demorar para que surja essa liderança, maior o risco de desaceleração econômica e perturbações
nos mercados financeiros.
Mohamed El-Erian é diretor da administradora de fundos de investimento Pimco
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Gasolina sobe na maioria dos postos de SP Índice
|